segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Um mês a trabalhar para a Amazon: "Caixa de sapatos" onde é proibido ficar doente




Constantly monitored, searched and exhausted – my month undercover in an Amazon warehouse
What is it like to work in one of the retail giant’s distribution centres? Writer James Bloodworth gets a zero-hours contract to find out

James Bloodworth
February 10 2018, 12:01am,
The Times

It was quarter past six in the evening and the siren had just sounded for lunch: a loud noise pumped through loudspeakers into every corner of the cold and drab warehouse.

While I stood in the queue, hands in pockets, waiting to get out, a well-built security guard made a signal for me to put my arms in the air. “Move forward, mate, I haven’t got all afternoon,” he said in a broad West Midlands accent.


Um mês a trabalhar para a Amazon: "Caixa de sapatos" onde é proibido ficar doente

James Bloodworth conta o que passou no livro Hired: Six Months Undercover in Low-Wage Britain (Contratado: Seis meses Infiltrado na Grã-Bretanha dos Baixos Salários).
Jornalista e escritor inglês explica a experiência numa fábrica da gigante empresa

10 DE FEVEREIRO DE 2018
19:44
DN

"O sítio tinha a atmosfera daquilo que eu imagino que deverá ser uma prisão. A maioria das regras estava relacionada com os pequenos roubos. Poderia demorar 15 minutos para passar através de gigantes detetores de metal. Nunca éramos pagos pelo tempo que passávamos à espera que nos revistassem os bolsos". As palavras são do escritor e jornalista britânico James Bloodworth, referindo-se ao tempo que passou a trabalhar num armazém da gigante Amazon.

James Bloodworth conta o que passou no livro Hired: Six Months Undercover in Low-Wage Britain (Contratado: Seis meses Infiltrado na Grã-Bretanha dos Baixos Salários). A obra só será publicada a 1 de março, mas o The Times publicou já um excerto do mesmo, em que o autor fala apenas da sua experiência num armazém da Amazon.

Num local que emprega cerca de 1200 pessoas, James Bloodworth conta uma experiência que, a julgar pelas suas palavras, não terá sido de todo agradável, nem para si, nem para os colegas de trabalho.

Explica que todos os funcionários tinham um pequeno aparelho eletrónico que servia para manter um registo de "todos os movimentos", explicando ainda que a hora de almoço, meia hora num turno de dez horas e meia, era já à noite, pelas seis da tarde. Além de o tempo ser curto para chegar à cantina e "dar cotoveladas no meio de vários trabalhadores", só restavam então 15 minutos para depois fazer a "longa caminhada até ao posto de trabalho". Aí, alguns gerentes "estariam invariavelmente à espera e a apontar para relógios imaginários para quem estivesse 30 segundos atrasado". "Maior pausa para almoçar hoje, foi?", questionavam estas mesmas pessoas, de acordo com o autor.

"Na segunda semana, comecei a ficar doente. Como ficar doente é uma ofensa com punição, estava prestes a ganhar um 'ponto' e perder o pagamento de um dia de trabalho. A cantina estava cheia de rebuçados para a tosse e cedo ficou claro o porquê", diz também.

O autor do livro chegou a ser abordado por uma mulher romena - a grande maioria dos seus colegas eram da Roménia - desesperada por sair daquele armazém que era "como uma caixa de sapatos" e com pouca luz natural. "A miséria do trabalho deixavam um desejo de cigarros e álcool, ou qualquer outra coisa que prometesse qualquer tipo de emoção", frisa, explicando que cedo a sua vida caiu em "rotina".


James Bloodworth deixa ainda bem claro que "regras não são regras na Amazon". Explica, por exemplo, que entre os tempos que eram supostamente de pausa, alguns não eram pagos e que, feitas as contas, o tempo que demorava a chegar às traseiras do armazém, que era do tamanho de "dez campos de futebol", mais a "segurança tipo aeroporto", a pausa era de pouco mais de cinco minutos.

Sem comentários: