domingo, 31 de dezembro de 2017

Trump quer usar aquecimento global para aquecer a passagem de ano




Escolher o momento da passagem do Ano, para espalhar mais uma mensagem negacionista, ilustra um momento gravíssimo de alienação e ilimitada irresponsabilidade.
Trump ultrapassa tudo o que é imaginável em imagem estigmatizada e caricaturada sobre uma América que no entanto existe, com todos os perigos associados na realidade.
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"A mais recente declaração do Presidente norte-americano não surpreende. Em Junho deste ano, Trump anunciou a saída dos EUA do Acordo do Clima de Paris, um pacto global desenhado para combater o aquecimento planetário, através da redução das emissões de gases com efeito de estufa, subscrito por 195 países do mundo."

Trump quer usar aquecimento global para aquecer a passagem de ano

Presidente norte-americano ironiza com a vaga de frio que vai passar pela Costa Leste dos EUA para lançar mais uma farpa contra o combate às alterações climáticas.

LILIANA BORGES 29 de Dezembro de 2017, 12:30 actualizado a 29 de Dezembro de 2017, 19:34

“Onde está o aquecimento global se faz frio no Inverno?” – talvez esta seja uma das perguntas mais repetidas por quem não acredita nas provas e explicações científicas sobre o aquecimento global. E foi esta a insinuação lançada pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, ao final da noite desta quinta-feira, quando reflectia sobre as baixas temperaturas que estão previstas para a noite de passagem de ano. No Twitter, o líder da Casa Branca escreveu que o país poderia usar "um pouco" do aquecimento global para combater as baixas temperaturas esperadas para a última noite do ano.

“No Leste [dos EUA], pode ser a noite de fim de ano mais fria de que há registo. Talvez pudéssemos usar um pouco do velho aquecimento global  que o nosso país, não os outros países, iria combater pagando biliões de dólares. Agasalhem-se!”, escreveu Trump no Twitter.

Falando da meteorologia, o líder norte-americano esqueceu o clima. Enquanto o primeiro diz respeito às condições atmosféricas durante um curto período de tempo, o segundo diz respeito a padrões de longo prazo.

A mensagem de Trump não será uma surpresa, tendo em conta o que assumido cepticismo sobre a influência humana nas alterações climáticas desde sempre manifestadas pelo Presidente dos EUA. Aliás, desta vez, até houve quem se antecipasse a Trump e à sua mensagem, antevendo que talvez viesse a público aproveitar a onda de frio prevista para a Costa Leste dos EUA para lançar mais uma farpa. Foi o caso do serviço de meteorologia do jornal Washington Post, denominado Capital Weather Gang (CWG) – qualquer coisa como "O Gangue da Meteorologia na Capital" –, que reúne meteorologistas e autores num blogue de grande popularidade.

Quando os meteorologistas prevêem o que diz Trump
Horas antes da mensagem de Trump, o CWG deixara uma mensagem no Twitter em que anunciava as previsões meteorológicas e, numa previsão muito acertada, alertou para o perigo das conclusões falaciosas daí retiradas.

Também através do Twitter, o Capital Weather Gang escreveu que os EUA seriam, durante a próxima semana, a região mundial mais fria e com o maior desvio de temperatura face ao normal para a época.

Depois disso, acrescentava que "o resto do mundo estará mais quente do que o normal", concluindo – de forma premonitória – que era preciso não esquecer esse facto "para que ninguém tente reinvindicar que esta bolsa de frio nos EUA contraria o aquecimento global". Algo que, apesar das evidências científicas "eles vão fazer sistemática e  irresponsavelmente".

Empresa de Trump invocou aquecimento global para construir muro
Há outra curiosidade a envolver o contexto desta mensagem em que Trump ironiza com a ideia de que a Terra está a ficar mais quente por acção da humanidade. Uma semana antes, uma empresa do actual líder dos EUA obteve autorização para construir um muro de protecção num campo de golfe que explora na Irlanda. O muro serviria para suster as investidas do mar, que ameaça aquele empreendimento turístico explorado pela família do Presidente. E, contrariando a posição céptica que Trump faz passar na mensagem de quinta-feira, o pedido de licenciamento para a construção do muro invocava a subida do mar devido ao aquecimento global como razão para licenciar a obra.

Em Fevereiro de 2014, Trump investiu neste campo de golfe aproximadamente 15 milhões de euros, conta a CNBC. O resort de golfe em Doonbeg, no Oeste da Irlanda.

As catástrofes dos incêndios
As mais recentes declarações de Trump parecem também ignorar as catástrofes ambientais que marcaram os Estados Unidos em 2017, nomeadamente os incêndios da Califórnia, descritos como uma das “maiores tragédias” que já atingiram aquele estado norte-americano. Em Outubro, vários condados deste estado foram consumidos pelas chamas, que afectaram grande parte das famosas regiões vinícolas de Napa e Sonoma.

Um dos incêndios, apelidado "Fogo Thomas", consumiu mais de 570 mil hectares, uma área superior à de toda a cidade de Nova Iorque. As chamas, que se prolongaram até Dezembro, destruíram pelo menos 8900 casas e deixaram desalojadas milhares de pessoas.

A mais recente declaração do Presidente norte-americano não surpreende. Em Junho deste ano, Trump anunciou a saída dos EUA do Acordo do Clima de Paris, um pacto global desenhado para combater o aquecimento planetário, através da redução das emissões de gases com efeito de estufa, subscrito por 195 países do mundo.

O cepticismo de Trump em relação às questões e preocupações ambientais não é recente. Já em 2012, ainda antes da sua candidatura à Casa Branca, Trump afirmava que o aquecimento global é uma “fraude inventada pelos chineses para minar a industrialização dos EUA”. Com Victor

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