quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Activistas acusam Junta de Santo António de ter culpas no abate de “árvore única”


Activistas acusam Junta de Santo António de ter culpas no abate de “árvore única”

POR O CORVO • 14 SETEMBRO, 2017 •

O grupo de intervenção cívica Plataforma em Defesa das Árvores acusa a Junta de Freguesia de Santo António de ter contribuído de forma decisiva para o abate agora anunciado de um grande lódão situado no Jardim Alfredo Keil, na Praça da Alegria. Tanto que se preparam para entregar, ainda esta quinta-feira (14 de setembro), uma queixa junto do Ministério Público (MP) contra a autarquia, pelo que consideram ter sido a sua actuação “muito negligente”, aquando da poda realizada pelos seus serviços à árvore agora com os dias contados, no inverno de 2015.

 O exemplar de grande porte deverá ser cortado, nos próximos dias, pelos serviços especializados da Câmara Municipal de Lisboa (CML), depois de lhe terem sido sinalizados problemas fitossanitários. A junta diz, porém, que tudo não passa de uma grande confusão, que nunca realizou a tal poda. Mas a Plataforma não só reitera a acusação, como pondera avançar com uma queixa no MP. E deverá ainda requerer a consulta do relatório que sustenta a decisão de abate, elaborado pelo Laboratório de Patologia Vegetal “Veríssimo de Almeida”, do Instituto Superior de Agronomia.

 O caso acontece na mesma altura em que acaba de ser publicado o novo regime legal de classificação do conjunto das árvores daquele jardim – até agora, beneficiavam de protecção especial apenas seis das nove árvores do conjunto. O lódão que, em breve, deverá ser abatido estava já classificado individualmente, mas passou a ver a sua protecção reconfirmada com a entrada em vigor, há poucos dias, de um despacho que classifica como de “interesse público” todo o arvoredo do Jardim Alfredo Keil.

Tal protecção, todavia, de pouco vale neste caso. O mal já estaria feito. Em causa está uma intervenção que o grupo de activistas ambientais garante ter sido realizada, em janeiro de 2015, pela autarquia liderada por Vasco Morgado (PSD), sem a devida autorização e monitorização técnica do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). Uma parte substancial da copa desta árvores de grande dimensões terá sido cortada de forma descuidada e sem que tal fosse necessário, critica a Plataforma em Defesa das Árvores, que fala em óbvias consequências no estado de saúde geral desta “árvore monumental”.

 A ponto de, mais de dois anos depois, se tenha constatado a necessidade de a cortar. “Obviamente que a junta tem que ser responsabilizada por aquela poda, que foi feita de forma completamente descuidada e sem dar justificação alguma ao ICNF. Isto é muito estranho, como é que alguém se responsabiliza por uma poda e, depois, acontece isto?”, questiona Rosa Casimiro, membro de um colectivo que tem denunciado diversos casos do que considera ser a forma pouco correcta como câmara e freguesias tratam das árvores da cidade.

 “Trata-se de uma árvore muito antiga, que tem um carácter único na cidade. Trata-se uma árvore centenária, que, por isso, tem uma fragilidade maior e precisa de cuidados especiais, tal como uma pessoa de idade. Isto devia ter sido feito por profissionais e não realizado de forma descuidada. Alertámos, na altura, para isso”, diz a membro do grupo, que ficou a saber do planeado abate do lódão, pelos serviços camarários, através da notícia de O Corvo, desta terça-feira (12 de setembro), em que se dava conta da obras em curso no Jardim Alfredo Keil.

 Tal informação apanhou desprevenidos os elementos da plataforma, que costumam monitorizar a forma como as autoridades públicas e privadas procedem com as árvores, sobretudo na cidade de Lisboa. E Rosa Casimiro não tem dúvidas da existência de um nexo de causalidade entre o desbaste realizado no lódão, há quase três anos, e o seu actual estado de grande fragilidade. “É claro que não é consequência directa, mas contribuiu de forma decisiva”, acusa, lamentando que continue por aprovar o regulamento do arvoredo da capital.

Contactado por O Corvo, Vasco Morgado nega com toda a veemência que a Junta de Freguesia de Santo António tenha intervindo naquela árvore, em 2015 e nos moldes que são reportados. “Não fizemos poda alguma, nessa altura, naquele lódão, mas sim noutra árvore que lá estava e precisava de uma intervenção. Só podem estar a confundir as duas situações”, diz o autarca.

 Contactados, novamente, por O Corvo e confrontados com tais declarações do presidente da autarquia, os responsáveis pela Plataforma em Defesa das Árvores insistem na acusação sobre o papel da junta na poda agressiva realizada em janeiro de 2015. “Eu assisti a essa poda, realizada numa manhã de inverno. Inclusivamente, até falei com um responsável pelos espaços verdes da junta, um jovem engenheiro que havia sido transferido da Câmara de Lisboa. E lembro-me de lhes ter dito que estavam a fazer um erro”, rememora Miguel Velloso, membro da Plataforma e do Fórum Cidadania LX, no blogue do qual a polémica poda foi denunciada, pouco depois de acontecer.


Texto: Samuel Alemão

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