quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Nem Madonna chegou para aligeirar o tiro ao boneco


Nem Madonna chegou para aligeirar o tiro ao boneco

Na SIC, os cinco principais candidatos a Lisboa tentaram debater visões para a cidade. Fernando Medina foi bombardeado com críticas e a recente chegada da cantora americana não passou despercebida.

 João Pedro Pincha
JOÃO PEDRO PINCHA 30 de agosto de 2017, 23:23

O primeiro debate televisivo entre os candidatos à Câmara Municipal de Lisboa teve mais gritos do que esclarecimentos e uma protagonista inesperada: Madonna, a mais recente estrela internacional a deixar-se conquistar pela capital portuguesa, foi várias vezes trazida à baila, mas nem isso aligeirou o tom da discussão. Fernando Medina foi o alvo de todas as críticas dos opositores, mas Assunção Cristas e Teresa Leal Coelho não se livraram de mimos dos candidatos da esquerda.

Os problemas da habitação e dos transportes foram o prato forte de um debate em que os candidatos se sobrepuseram várias vezes, não se ouvindo nem deixando ouvir. De esquerda ou de direita, o diagnóstico feito pelos opositores a Medina foi bastante idêntico.

 “Estamos a fechar um ciclo de dez anos de governação do Partido Socialista. É este balanço que os lisboetas são chamados a fazer”, disse logo a princípio o comunista João Ferreira, que, sem surpresa, apontou falhas às políticas de habitação da autarquia. “Nada foi feito ao longo destes dez anos para promover o acesso à habitação”, acusou.

Logo a seguir, Teresa Leal Coelho apanhou a deixa para dizer que “o principal problema” da cidade é que “as pessoas que querem viver em Lisboa não conseguem viver em Lisboa”. Depois, também Cristas surfou a onda, alegando que, ao contrário do PS, que “não teve nenhuma política de habitação” na última década, foram as alterações legislativas que o anterior Governo promoveu à Lei das Rendas que “trouxeram pessoas a zonas da cidade que estavam absolutamente vazias”.

Não ficou sem resposta, pois o candidato do Bloco, Ricardo Robles, acusou-a de ter contribuído para a “expulsão de quem gosta de viver em Lisboa”. Mas o alvo principal era mesmo Medina. Citando a promessa que o autarca socialista fez quando tomou posse – a de trazer para a cidade cinco mil famílias –, o bloquista disparou: “Sabe quantas destas famílias vieram para Lisboa? Zero. Não há uma chave entregue.”

“Demora, Ricardo, demora. Eu nunca prometi que as trazia em dois anos”, respondeu prontamente Fernando Medina, que ainda picou Cristas sobre a proposta, que fez há uns meses, de um programa de rendas acessíveis em que certos apartamentos custavam 1350 euros por mês. Nesse ponto, contou uma vez mais com ajuda da esquerda. “Era difícil encontrar alguém que simbolizasse tanto o ataque ao direito à habitação em Lisboa”, atirou João Ferreira, dirigindo-se à líder do CDS.

Mais tarde, também a propósito de uma discussão sobre habitação que consumiu quase metade do debate, Teresa Leal Coelho falou de Madonna, que já fora insistentemente citada antes. “Madonna não vai viver a cidade que as pessoas que cá vivem e não são a Madonna têm de viver”, lamentou a candidata social-democrata, que acusou Medina de fazer “guerra à classe média” e de favorecer a “especulação imobiliária”.

Essa acusação foi, aliás, transversal a todos os adversários do autarca socialista, que lamentaram a política de alienação de património dos últimos anos. “Parte dele foi alienado em condições tais que contribuíram para a especulação em que a cidade está”, disse João Ferreira. Para Robles, o Programa de Renda Acessível, que Medina lançou como uma das principais bandeiras autárquicas, “é uma péssima solução” que beneficia o “carrossel dos fundos imobiliários”.

Também com muitas acusações mútuas, os cinco candidatos tiveram ainda tempo para discutir sobre transportes públicos. Grande parte do debate sobre este assunto foi sobre se o Governo de Passos Coelho tinha ou não contribuído para o mau estado da Carris e do Metro actualmente. As divergências são aparentemente insanáveis, mas todos concordaram que os transportes como estão não podem ficar.

Medina argumentou que “demora tempo a recuperar uma coisa que foi destruída”, referindo-se à Carris, mas a explicação não colheu junto dos restantes. João Ferreira mostrou-se mais uma vez contra a municipalização da empresa e criticou o seu modelo de financiamento, assente nas receitas de estacionamento da EMEL. “O objectivo de tirar carros da cidade é contraditório do modelo de financiamento da Carris”, acusou, no que foi secundado pelos colegas de painel.


Ainda se discutiu brevemente a expansão do metro e os impactos do turismo, mas, como numa pescadinha de rabo na boca, o debate acabou como começou: a falar-se de Madonna.

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