sexta-feira, 9 de junho de 2017

Biblioteca Palácio Galveias reabre ampliada e modernizada após dois anos em obras


Biblioteca Palácio Galveias reabre ampliada e modernizada após dois anos em obras

POR O CORVO • 9 JUNHO, 2017 •

Mais que tentar impressionar com números, como é hoje comum sempre que se apresenta obra feita, Susana Silvestre, a directora da rede de bibliotecas municipais de Lisboa, prefere destacar as características inovadoras do espaço pelo qual faz uma visita guiada para O Corvo. “Este é um momento altamente importante, de viragem, prova de que as bibliotecas podem ser outra coisa. Tal como já vimos fazendo noutras bibliotecas da nossa rede, queremos que este seja um espaço flexível e dinâmico, dando resposta às necessidades de formação e aprendizagem ao longo da vida. Não queremos impor nada às pessoas, mas sim que elas se sintam confortáveis para aqui melhorarem as suas competências”, diz, enquanto percorre as salas a cheirar a novo da reabilitada Biblioteca Palácio Galveias, ao Campo Pequeno, a ser reinaugurada este sábado (10 de junho), pelas 18h.

Depois de profundas obras de remodelação, que a mantiveram de porta fechada por mais de dois anos (desde março de 2017) e custaram 2,5 milhões de euros, a mais importante das unidades da rede municipal de bibliotecas – embora os responsáveis camarários se recusem a reconhecê-la como tal – viu duplicada área total (2.150 metros quadrados), com a abertura ao público do piso superior, onde se revela ao público em todo o seu esplendor uma nova e ampla sala de leitura. A beleza dos tectos trabalhados, alvo de cuidado restauro, deverá servir de desculpa para, com frequência, os olhos fugirem para longe dos livros e dos computadores. Exalando um refinado espírito clássico, esta dependência com seis dezenas de postos individuais é uma das cinco salas de leitura que fizeram aumentar a capacidade da biblioteca de 110 para 232 lugares de estudo. A estas acrescem três salas multiusos e uma para acções de formação – além de uma dedicada às crianças e outra à banda desenhada.

O franquear do segundo andar aos frequentadores permitiu não apenas aumentar a capacidade deste equipamento cultural, mas também libertar espaço para reconstruir arrumar a casa, dotando-a de valências que respondem às exigências deste tempo. Há agora a ideia de que, mais do que um local onde apenas se lêem e requisitam livros ou que serve de sala de estudo, uma biblioteca “é também um catalisador cultural, um lugar onde se vai trabalhar em sistema de cowork ou um espaço de formação de um negócio”, ou seja, de incubação de uma start up. Susana Silvestre admite que tal possa fazer franzir o sobrolho a alguns, mas assegura que este é o caminho a seguir. “Queremos agradar tanto aos nativos digitais, como poder organizar um concerto de música clássica ou uma conferência sobre a maçonaria”, diz. Por isso, e para além de salas específicas onde tal pode suceder, o Palácio Galveias está totalmente equipado para dar resposta às, sempre em acelerada mudança, exigências tecnológicas.

Todas as mesas das salas de estudo, onde o mobiliário foi integralmente renovado, estão preparadas para se poder ligar à corrente computadores, tablets e smartphones. Mas isso acontece também no espaço que a directora das bibliotecas municipais da capital chama de “lounge”, situado no piso superior. Dotado de poltronas, ao lado das quais existem tomadas para ligar os mais variados aparelhos, funcionará como uma sala polivalente onde será possível tanto realizar apresentações como ler um livro num ambiente mais descontraído. O mesmo sucederá, aliás, logo na sala junto à entrada principal, que se pretende venha a funcionar como uma área mais convivial e “dinâmica”, onde poderão ser consultados os jornais e as revistas, enquanto se carrega o telemóvel, ou ainda usar uma das novidades da biblioteca, a máquina de auto-empréstimo. Através dela, os utilizadores que tenham cartão de leitor da rede municipal, conseguirão eles mesmo uma requisição ou uma entrega de livros.

E continuam a ser eles os principais atractivos da biblioteca – afinal, os elementos que justificam a sua existência -, apesar do que todas as outras novidades possam deixar suspeitar. O acervo que existia até 2015, correspondente a 10 mil metros lineares de lombadas, foi sujeito uma profunda revisão. E retiradas muitas obras que se encontravam datadas. “Tivemos um trabalho louco. Fizemos um desbaste da colecção, sobretudo em áreas mais sujeitas a desactualização, como é o caso das ciências da natureza, das tecnologias, da informática ou do direito. E adquirimos cerca de 4.700 novos exemplares”, revela Susana Silvestre, salientando que haverá ainda muito espaço disponível nas estantes, para que o número de títulos – cerca de 110 mil – possa crescer. Para isso, muito contribuirão as sugestões dos frequentadores, a tomar em conta na hora de fazer novas aquisições.

A ideia de tentar agradar cada vez mais aos leitores e frequentadores da biblioteca, indo ao encontro do que eles buscam e fomentando uma atitude mais descontraída, fundamenta a criação do que uma “sala de lazer”. Moldada à imagem das lojas FNAC, em que os clientes podem consultar os livros expostos sem necessidade de se dirigirem aos funcionários, esta zona tem uma selecção dos títulos mais presentes nos tops de vendas e permite também a consulta relaxada dos livros. Está situada no piso térreo, entre a Sala José Saramago, que continua a ser o espaço central de leitura, e a nova área onde se localizam os balcões de empréstimo, à direita para quem entra na biblioteca. A total informatização do sistema de consulta e requisição de livros – semelhante ao utilizado na Biblioteca Nacional, confere muita autonomia aos utentes – é uma das muitas novidades. Outra será o novo “maker space”, espaço com ateliês para a realização de oficinas para crianças e seniores.

A Biblioteca do Palácio Galveias, tal como as restantes unidades da rede de Bibliotecas Municipais de Lisboa, passará a fazer parte da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas, cujo protocolo de adesão será assinado durante a cerimónia de inauguração deste sábado – momento em que será também homenageada Maria José Moura, responsável pela criação da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas e impulsionadora da valorização dos profissionais de biblioteca.


Texto: Samuel Alemão

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