sexta-feira, 5 de maio de 2017

Arqueólogos contestam escolha de Bruno Navarro para o Côa


Arqueólogos contestam escolha de Bruno Navarro para o Côa

José Ribeiro, o professor que dinamizou, em 1995, a luta dos estudantes de Foz Côa, diz que Navarro era “um dos poucos” que defendia a barragem. O então presidente da associação de estudantes, Nuno Saldanha, garante o contrário.

 Luís Miguel Queirós
LUÍS MIGUEL QUEIRÓS 4 de Maio de 2017, 21:34

Num comunicado em que repudia o “criminoso atentado” de que foi alvo há uma semana uma das mais icónicas rochas gravadas do Côa, a Associação dos Arqueólogos Portugueses critica o ministro da Cultura por não ter tomado atempadamente as medidas adequadas para proteger aquele património e lamenta “a recente nomeação para a presidência da Fundação Côa Parque de pessoa sem evidentes qualificações para o efeito, seja na área da gestão seja nas áreas patrimonial ou arqueológica”.

A pessoa em causa é presumivelmente o historiador Bruno Navarro, que uma notícia do PÚBLICO dava como sendo a escolha de Luís Filipe Castro Mendes para ocupar este cargo, mas que na verdade não foi ainda nomeado.

Assegurando que a própria AAP, entre outras entidades, tinha alertado o ministro da Cultura, “há já mais de um ano”, para “a grave situação do Museu e do Parque Arqueológico do Côa”, os subscritores do comunicado, assinado pelo presidente da associação, José Morais Arnaud, dizem esperar que o Governo “não se limite a lamentar uma situação de que, em última instância, é o responsável político”, e “tome as medidas conjunturais e estruturais adequadas para assegurar uma efectiva protecção e valorização” do património do Côa.

A par deste documento, que exige ao Ministério da Cultura que assegure “a reposição imediata, e até o reforço, do dispositivo de vigilância e segurança dos vários núcleos de arte rupestre” do Côa, o vice-presidente da AAP, Luís Raposo – também presidente do ICOM Europa e ex-director do Museu Nacional de Arqueologia – fez chegar ao PÚBLICO um texto intitulado Um ministro no seu labirinto… Vandalismo e responsabilidade política na arte do Vale do Côa, que já partilhara na sua página do Facebook e no qual acusa Castro Mendes de ter “nomeado para presidente” da Fundação Côa Parque “um ‘boy’, sem qualquer currículo relevante para o efeito”.

Um presidente pró-barragem?
Raposo acrescenta que, “ao que se diz (e falta confirmar plenamente)”, o dito nomeado foi “defensor da barragem quando se lutou pelas gravuras”, período em que Bruno Navarro teria cerca de 16 anos e frequentava a escola secundária de V. N. de Foz Côa que então se tornou o centro da campanha em favor da preservação das gravuras rupestres, popularizando em todo o país o slogan "as gravuras não sabem nadar!". “Se isto for verdade”, prossegue Luís Raposo, “só resta dizer: demita-se, senhor ministro”. E “se não for assim, corrijam-se quanto antes os rumores que circulam”, sugere ainda o arqueólogo.

Segundo o professor José Ribeiro, o grande dinamizador da luta contra as gravuras protagonizada pelos estudantes de Foz Côa, e que mais tarde veio a ser administrador da Fundação Côa Parque, o rumor é mesmo verdadeiro. “Era um dos poucos estudantes que estavam a favor da barragem”, garante Ribeiro, que diz recordar-se de que a posição de Bruno Navarro gerou até “alguns conflitos com os seus colegas” da época.

Um testemunho que é contrariado pelo então presidente da associação de estudantes da escola, Nuno Saldanha. “O Bruno sempre defendeu a preservação das gravuras, nomeadamente em 1995; fê-lo de uma forma mais discreta do que outros, como aliás é seu timbre, mas dizer-se que defendia a barragem é um absurdo completo”, afirma Saldanha, que, tal como Bruno Navarro, é hoje um dos deputados municipais do PS na Assembleia Municipal de V. N. de Foz Côa.

O Ministério da Cultura (MC) confirmou ao PÚBLICO que não foi feita ainda qualquer nomeação para a presidência da Fundação Côa Parque. Sem responder directamente às críticas da AAP, o MC adianta apenas que, mal teve conhecimento da vandalização da gravura rupestre, apresentou queixa ao Ministério Público, e que aguarda agora os resultados dessa diligência. O PÚBLICO tentou ainda, sem sucesso, obter uma reacção de Bruno Navarro às declarações da AAP e de José Ribeiro.


Notícia alterada às 23h40: acrescentado o 7.º parágrafo

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