sábado, 25 de março de 2017

Edifício do “DN” vai ter ‘moradia’ no último piso



Edifício do “DN” vai ter ‘moradia’ no último piso

25.03.2017 às 11h00

Seguramente um dos edifícios mais icónicos da capital. Não só pelo Prémio Valmor que distinguiu o projeto do arquiteto Porfírio Pardal Monteiro e os valiosos painéis de Almada Negreiros no seu interior, mas por toda a história que carrega de mais de sete décadas ligadas ao mundo do jornalismo. O edifício do “Diário de Notícias” (“DN”), no número 266 da Avenida da Liberdade, está já numa nova etapa, consumada que foi a venda do imóvel que pertencia à Global Media à Avenue — do fundo americano Perella Weinberg Partners —, num processo intermediado pela CBRE.

Despojado que está o edifício (a redação do “DN” passou para as Torres de Lisboa), define-se agora ao pormenor o projeto que implicou um investimento de €45 milhões (20 milhões na aquisição e o restante na obra) e que terá 32 apartamentos de luxo, uma das maiores lojas da avenida, no piso térreo, e um apartamento a ocupar todo o último piso deste edifício classificado.

“O piso térreo será uma loja com 300 m2 para a Avenida da Liberdade e mais 700 m2 para a Rodrigues Sampaio. Os restantes andares terão uma média de oito apartamentos por piso e o último será um só apartamento [400 m2 de área + 400 m2 de terraço descoberto], uma espécie de moradia no centro da cidade, dada a dimensão da área descoberta e a entrada independente que vai ter”, especifica Aniceto Viegas, presidente da Avenue e antigo homem forte da Espírito Santo Property, empresa imobiliária do antigo BES.

Estruturalmente, garante o responsável, o edifício vai regressar às origens. “Olhámos para o projeto original, que tinha um desenho, e vamos repor exatamente o que estava. Por necessidades de funcionamento do jornal, o último piso, o 5º, foi em tempos totalmente fechado com um alpendre em betão. Vamos voltar a abri-lo e vai-se criar um terraço naquela zona que ainda tem o pavimento original em bom estado e que será a área do futuro terraço”.

O anterior proprietário alterou também a fachada traseira, a caixilharia do edifício e a montra do piso térreo, que ficou mais compartimentada em relação ao projeto de Pardal Monteiro, especifica.

Sendo um imóvel classificado, o promotor obriga-se a preservar as escadas, elevadores, o lettering do edifício, os pormenores da caixilharia e, claro, todas as gravuras de Almada Negreiros, que estão em bom estado, sublinha Aniceto Viegas, “mas que provavelmente precisarão de algum restauro”.

Luxo. Tal como os apartamentos, também a loja será uma das mais exclusivas da Avenida da Liberdade. 
Os exuberantes frescos de Almada Negreiros que se encontram no espaço que era utilizado para o atendimento ao público vão valorizar ainda mais a loja, que terá 300 m2 para a Avenida e 700 m2 para a Rodrigues Sampaio
Luxo. Tal como os apartamentos, também a loja será uma das mais exclusivas da Avenida da Liberdade. 
Os exuberantes frescos de Almada Negreiros que se encontram no espaço que era utilizado para o atendimento ao público vão valorizar ainda mais a loja, que terá 300 m2 para a Avenida e 700 m2 para a Rodrigues Sampaio

Com obras a iniciar no próximo semestre, o edifício deverá estar pronto algures entre o final de 2018, início de 2019, segundo a previsão da empresa, que pretende arrancar com a comercialização do imóvel também a partir deste próximo semestre.

Quando questionado sobre os preços, Aniceto Viegas garante que não é estratégia da empresa fazer refletir o valor patrimonial e histórico do edifício no valor das casas: “Não nos vamos aproveitar desse facto. Os preços por m2 ainda não estão fechados mas deverão manter-se na média praticada para esta zona. Mas acreditamos, claro, que é um bom argumento comercial e que vai fomentar o ritmo das vendas”.

100 MILHÕES PARA INVESTIR
Em Portugal desde 2015, a Avenue, do fundo Perella, tem escolhido a dedo o seu portefólio, que conta já com cinco imóveis (estando mais três na calha para aquisição). Ao edifício do “DN”, que custou €20 milhões, soma-se ainda o Liberdade 203, edifício arrematado há dois anos por €30 milhões numa disputada corrida com mais 16 investidores. Este imóvel, que na realidade é um conjunto de edifícios contíguos e que se prolongam para a Rua Rosa Araújo, pertenceu ao grupo BES, que nos seus tempos áureos projetava ali expandir a sede da sua instituição. A estes dois juntam-se ainda mais três também bem localizados em zonas nobres como o Chiado ou a Avenida dos Aliados, no Porto.

À exceção do edifício do “DN”, todos os outros já estão em comercialização e a bom ritmo, segundo Aniceto Viegas: de um total de 103 apartamentos nos quatro empreendimentos, apenas restam 14 para venda. A maior parte foi vendido a portugueses e brasileiros.

A Avenue tinha inicialmente um orçamento de €100 milhões para aquisição de edifícios dos quais já consumiu cerca de 70% nestes ativos, tendo em vista terminar este ano com a aquisição de mais três imóveis. “A nossa estratégia é adquirir os ativos com capitais próprios e recorrer a financiamento para a construção”, refere o responsável, acrescentando que é intenção do fundo continuar a investir em Portugal, estando previsto injetar mais 100 milhões no próximo triénio.

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