terça-feira, 7 de março de 2017

Associação 25 de Abril disponível para receber conferência de Nogueira Pinto cancelada na Nova /Ministro ligou ao reitor da Nova por causa da conferência de Jaime Nogueira Pinto


Associação 25 de Abril disponível para receber conferência de Nogueira Pinto cancelada na Nova

A associação liderada por Vasco Lourenço manifestou repúdio pelo cancelamento da conferência com Jaime Nogueira Pinto.

MANUEL LOURO 7 de Março de 2017, 18:06 actualizado a 7 de Março às 20:40

É uma das "sete ofertas de espaços públicos" que Jaime Nogueira Pinto recebeu desde que a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa decidiu cancelar a conferência Populismo ou Democracia: o Brexit, Trump e Le Pen, que estava marcada para esta terça. A Associação 25 de Abril, liderada por Vasco Lourenço, disponibilizou as suas instalações para receber a palestra do historiador, manifestando "ao professor Nogueira Pinto o repúdio por este silenciamento da sua opinião".

Em declarações ao PÚBLICO, o politólogo considerou a oferta de Vasco Lourenço "simpática" e mostrou-se disponível para responder afirmativamente ao convite, acrescentando, no entanto, que cabe aos organizadores (Nova Portugalidade) a decisão de realizar a conferência e escolher o local.

E foram precisamente os organizadores desta conferência que estiveram no centro da polémica. O director da FCSH, Francisco Caramelo, explicou na segunda-feira ao PÚBLICO que o cancelamento da conferência se deveu a preocupações com as condições de segurança do evento, devido a um aparente extremar das posições.

A conferência foi cancelada depois da pressão efectuada contra a entidade responsável pela organização, a Nova Portugalidade, considerada pela Associação de Estudantes (AEFCSH) como "nacionalista e colonialista". Na Reunião Geral de Alunos (RGA), realizada a 2 de Março, foi apresentada uma moção por um grupo de seis alunos a título individual em que se argumentava que o evento estaria "associado a argumentos colonialistas, racistas, xenófobos", pedindo-se desta maneira o cancelamento da reserva da sala onde se realizaria o debate. A proposta foi aprovada, segundo a acta da reunião divulgada pela AEFCSH, com 24 votos a favor, quatro contra e três abstenções. Com 31 alunos presentes na reunião, a AEFCSH explicou ao PÚBLICO que o número de presentes não variou daquele que, normalmente, comparece às outras reuniões do género.

Assim, e tendo em conta o carácter, previsto pelos estatutos, de "órgão deliberativo máximo dos estudantes da FCSH" da RGA cujas "decisões são de aplicação imediata e vinculam todos os estudantes e estruturas estudantis da FCSH", a AEFCSH transmitiu à direcção a moção. Num primeiro momento, a direcção decidiu manter o evento, mas, depois, considerando estar confrontada com possíveis riscos para a segurança, decidiu mesmo cancelar o evento. A associação que representa os estudantes da faculdade esclareceu ao PÚBLICO que desconhece quaisquer ameaças, acrescentando que apenas seguiu os requisitos estatutários.

Em comunicado, a Nova Portugalidade rejeita as acusações apresentadas na moção, afirmando que a equipa que constitui a organização "integra indivíduos de todos os géneros humanos". Diz ainda que o texto da moção "é ridículo".

Polémica chegou ao poder político
O caso chegou mesmo à mais alta esfera da política nacional, com o ministro do Ensino Superior a ligar nesta terça-feira ao reitor da Universidade Nova de Lisboa (UNL) para pedir garantias de que o cancelamento da conferência com Jaime Nogueira Pinto não coloca em causa o direito à liberdade de expressão.

O CDS-PP pediu esta terça-feira esclarecimentos ao Governo sobre o cancelamento da iniciativa que considerou um "ataque à liberdade de expressão e ao pluralismo democrático", noticia a Lusa. Em declarações aos jornalistas no Parlamento, o deputado do CDS-PP Telmo Correia disse que o partido enviou requerimentos aos ministros da Ciência e Ensino Superior, Manuel Heitor, e ao ministro Adjunto, Eduardo Cabrita, que tem "a tutela das matérias de cidadania" em que pergunta o que está a ser feito para evitar situações futuras. "Não estamos no PREC [Processo Revolucionário em Curso], não podemos viver num país onde as pessoas não podem emitir a sua opinião", sublinhou, citado pela Lusa. Para Telmo Correia, "não é aceitável" o cancelamento da conferência, até pela "tradição universitária, que deve ser pluralista, de ouvir opiniões contrárias".

Também o antigo líder do CDS Ribeiro e Castro apelou esta terça-feira ao boicote a conferências na FCSH enquanto não for dada uma explicação sobre o cancelamento da conferência com o politólogo. "Já participei em debates na FCSH. Não tornarei a participar enquanto não for tomada uma posição e apelo às pessoas que tenham apreço pela liberdade a fazer o mesmo, enquanto não for dada uma explicação sobre o que se passou, um pedido de desculpas e uma garantia de que não voltará a verificar-se uma situação como esta", disse à agência Lusa.

O antigo deputado centrista considerou que estas posições devem ser tomadas pela Associação de Estudantes, pela direcção da FCSH e pela reitoria da Universidade Nova de Lisboa, que não pode ficar indiferente a uma questão que "mancha o prestígio de uma universidade de referência portuguesa". "Fez-me lembrar o PREC [Processo Revolucionário em Curso] e 1975, mas nessa altura havia Mário Soares, Salgado Zenha e Manuel Alegre e agora leio que há vozes no PS que apoiam este desmando autoritário. Isto é muito grave. Considero essencial que o PS se demarque, pelo menos com o mesmo vigor com que Mário Soares se comportou em 1975", sustentou.

Para José Ribeiro e Castro, o cancelamento da conferência com Nogueira Pinto é "um ataque à liberdade, à inteligência e ao espírito académico", configurando uma "iniciativa persecutória", que é "um prenúncio péssimo para o futuro". "Na história, sabe-se quando estas coisas começam, não se sabe como acabam", disse.

Outra das personalidades a reagir à polémica foi o embaixador Francisco Seixas da Costa, que, através do Facebook, afirma que, "como membro do conselho de faculdade da FCSH", lamenta "que a direcção da escola tenha sido forçada, contra a sua vontade, a tomar esta atitude, para salvaguarda da estabilidade funcional da instituição".

"E porque convém chamar os bois pelos nomes, que fique claro que esta inadmissível atitude censória foi tomada por uma estrutura de estudantes identificada com o Bloco de Esquerda", diz ainda o diplomata. E conclui: "Há meses, em Cascais, teve lugar um debate público com três intervenientes: Jaime Nogueira Pinto, Francisco Louçã e eu próprio. Ninguém se lembrou de boicotar a sessão. Claro."

Também o eurodeputado socialista Francisco Assis criticou o cancelamento da conferência. "Isto é um acto de censura. Acho gravíssimo, não apenas a posição da associação de estudantes – mas, enfim, aí ainda poderemos ter em conta a sua juventude – mas que a direcção da faculdade tome uma posição desta natureza”, criticou Francisco Assis, em declarações à Rádio Renascença.

O director da faculdade, Francisco Caramelo, referiu na segunda-feira ao PÚBLICO que a decisão foi tomada face ao ambiente em redor da conferência. Francisco Caramelo garante que o cancelamento "nada teve que ver" com Jaime Nogueira Pinto ou com o tema em questão. Além disso, o director admite vir a convidar o escritor para futuros debates sobre o tema.
  

Ministro ligou ao reitor da Nova por causa da conferência de Jaime Nogueira Pinto
7/3/2017, 21:49
O ministro do ensino superior ligou do reitor da Universidade Nova de Lisboa para pedir esclarecimentos acerca do cancelamento da conferência com Jaime Nogueira Pinto.


O ministro do ensino superior ligou, esta terça-feira, do reitor da Universidade Nova de Lisboa (UNL) para pedir garantias de que o cancelamento da conferência com Jaime Nogueira Pinto não coloca em causa o direito à liberdade de expressão.

A revelação foi feita pelo ministro Manuel Heitor no parlamento, durante uma audição na comissão parlamentar de Educação e Ciência, depois de questionado pela deputada do PSD Nilza de Sena sobre o cancelamento da conferência.

O evento, apresentado como conferência-debate na página de Facebook do movimento Nova Portugalidade, estaria marcado há cerca de duas semanas para se realizar na FCSH da Universidade Nova de Lisboa mas foi cancelado a pouco mais de 24 horas da hora marcada.

Em declarações ao jornal Observador, Jaime Nogueira Pinto, convidado pelo núcleo de alunos da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas ligado à Nova Portugalidade para a conferência intitulada “Populismo ou Democracia? O Brexit, Trump e Le Pen em debate”, disse que foi o próprio diretor da faculdade que o informou da decisão, alegando questões de segurança.

“A primeira coisa que fiz foi hoje [terça-feira] de manhã falar ao reitor da UNL [António Rendas]. Obviamente não me cumpre a mim policiar ou ver que conferências existem ou não existem nas instituições“, disse Manuel Heitor aos deputados, acrescentando que recebeu do reitor da Nova de Lisboa a garantia de que não estava posto em causa o direito à liberdade de expressão.

Na interpelação ao ministro, Nilza de Sena manifestou-se “muito preocupada” por “num país livre” se impedir o “livre pensamento, livres ideias, não seguidistas, contrárias ao pensamento dominante” e de se colocarem “rótulos às pessoas”, apelidando-os de perigosas.

A liberdade de expressão é só para as ideias conformes. Isto é uma clara manifestação de intolerância política e censura à voz de quem não é um ‘aparatchik’ da esquerda radical, pelo contrário, e se torna inconveniente aos ditames de quem está. Mas não é um bom sinal, e é muito pior quando vem de gente jovem”, defendeu a deputada.
Manuel Heitor, questionado sobre a sua posição face a este cancelamento, respondeu estar certo que o ensino superior português “é hoje um ensino digno, responsável, que se adequou ao estado democrático“.

Já no final da audição do ministro o episódio do cancelamento da conferência motivou um desentendimento entre deputados socialistas e sociais-democratas.

Porfírio Silva, do PS, disse que ainda na noite de segunda-feira, quando soube do cancelamento da conferência, publicou numa rede social um comentário em que manifestava o seu incómodo face ao sucedido, recordando a seguir um episódio semelhante na Universidade da Beira Interior, quando uma conferência sobre o Sahara Ocidental foi cancelada “por pressão de um Estado estrangeiro”.

Segundo o noticiado na altura, a instituição terá cancelado o evento por pressão da embaixada de Marrocos em Portugal.

Acusando o PSD de ter imputado ao ministro Manuel Heitor a responsabilidade do cancelamento da conferência da UNL, Porfírio Silva disse que “a pior coisa que se pode fazer à democracia é manipular a ideia de democracia para objetivos políticos imediatos e politiqueiros”, o que motivou protestos do lado social-democrata.

Amadeu Albergaria e Duarte Marques acusaram Porfírio Silva de estar a ser “politiqueiro” com essa informação, e recusaram qualquer acusação ao ministro.

O PSD colocou esta questão aqui sem acusar o senhor ministro. O senhor ministro teve uma reação, como nós esperávamos, muito boa. Disse o ministro o que tinha que dizer”, disse Duarte Marques.
A associação de estudantes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova disse, esta terça-feira, que o pedido de cancelamento da conferência de Jaime Nogueira Pinto surge na sequência de uma moção à qual a associação ficou vinculada.


A direção da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova esclareceu por seu lado que cancelou a conferência por “ausência das indispensáveis condições de normalidade”.

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