segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Uma cidade deve ser feita para os visitantes ou para os habitantes?

(…) “ passamos sempre do 8 para o 80, do zero para o infinito. O mesmo espírito iluminado está a transformar toda a frente do rio, da 24 de Julho a Santa Apolónia, num espaço maravilhoso, porém coutada privada dos turistas que desembarcam dos navios de cruzeiro ou dos que ocupam os hostels da Baixa e que alugam uma bicicleta por umas horas ou entram nos tuk-tuks, sem nada mais para fazer e sem necessidade de verdadeiramente habitarem a cidade.
No lugar deles, eu estaria feliz: o melhor espaço da capital reservado para si, limpo do estorvo dos carros dos habitantes locais e dos próprios habitantes.
Não admira que Lisboa esteja em todos os tops do mundo como a melhor cidade para visitar. Mas a questão que coloco é esta: por mais importante que seja economicamente o turismo, por mais orgulho que nos dê ver Lisboa recuperada, uma cidade deve ser feita para os visitantes ou para os habitantes?
Quantos lisboetas vão ver o pôr-do-sol ao Cais das Colunas, quantos não vão há anos ao Terreiro do Paço, sempre em obras para os turistas, quantos podem atravessar a cidade de nascente para poente ao longo do rio?"
Miguel Sousa Tavares / Expresso desta semana

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