segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

"Assim que se abre um espaço, ele é imediatamente tomado pelas pessoas"


Pura propaganda de promoção pessoal de Medina dirigida às eleições autárquicas, sustentada por uma Comunicação Social acéfala e acrítica. Resultado de uma época em que os jornalistas profissionais já não se distinguem dos estagiários …
OVOODOCORVO

"Assim que se abre um espaço, ele é imediatamente tomado pelas pessoas"
Fernando Medina

02 DE JANEIRO DE 2017
00:14
Susete Francisco

DN foi visitar obras da frente ribeirinha com Fernando Medina. Presidente da câmara garante que estarão prontas até final de fevereiro

Fernando Medina diz que se há coisa que muda quando se ocupa o cargo de presidente da câmara, é a "forma como se olha para a cidade". E logo a seguir deixa uma afirmação que confirma isso mesmo: onde o comum munícipe vê um estaleiro de obras, o trânsito que se demora e os peões em ziguezagues entre os espaços ainda vedados, o presidente da Câmara de Lisboa já vê um "grande contínuo pedonal", que há de ligar o Largo de Santos ao Campo das Cebolas.

O DN foi visitar as obras da frente ribeirinha da cidade com Fernando Medina. "Estamos quase, quase a falar no passado", diz o presidente da autarquia da capital, garantindo que as obras têm o fim à vista. A saber, entre janeiro e fevereiro, as que vão de Santos ao Cais Sodré e, mais à frente, ao Largo do Corpo Santo estarão terminadas. "Fica a faltar o Campo das Cebolas, onde a circulação viária vai ficar normalizada em março, com o recuo do tapume" das obras de construção do parque subterrâneo, que só estará pronto no segundo trimestre de 2017. Noutro ponto da cidade, no Eixo Central, o autarca assegura que as obras estarão terminadas ainda neste mês. No total, as duas maiores obras que decorrem na cidade vão custar cerca de 25 milhões de euros.

Uma cidade feita para automóveis


Vindos da Rua do Arsenal, a chegar ao Cais do Sodré, o passeio já está maior, mas o percurso ainda obriga, aqui e ali, a desvios. Neste caso, sobretudo, pelos tapumes de prédios em reabilitação. Medina vai contando, fala de uma nova centralidade na cidade. "Há um grande dinamismo na recuperação do edificado, há muito investimento nesta zona, particularmente francês", diz o autarca junto ao Largo do Corpo Santo, onde ainda decorrem obras municipais. Oito calceteiros repõem as pedras da calçada. "Isto era um parque selvagem de estacionamento", aponta, num dos muitos locais onde os automóveis vão perder o espaço para os passeios. Uma opção que marca as obras em toda a cidade e que é particularmente visível na frente ribeirinha.

Tem sido um dos grande focos de críticas ao executivo camarário, mas Medina não desarma no que chama de "gradual transformação da cidade que está desenhada para o domínio automóvel": "O modelo de mobilidade que temos na cidade e na área metropolitana não tem qualquer sustentabilidade. Há muitas pessoas que não querem encarar isto de frente."

Adiante, o Cais do Sodré é o maior ponto de chegada e distribuição de pessoas pela cidade. A confluência dos barcos que chegam da Margem Sul, do comboio que faz a Linha de Cascais, da Linha Verde do metro, além de autocarros e elétricos, faz que por ali circulem todos os dias milhares de pessoas. O princípio é o mesmo. Não vai haver estacionamento na praça (Mercado da Ribeira, Chiado e Campo das Cebolas serão os três pontos de estacionamento da frente ribeirinha), que ficará com os passeios alargados e um jardim maior.

No Cais do Sodré já não se vê a maquinaria pesada de há algumas semanas, mas o jardim, do lado do rio, e o espaço central da Praça Duque da Terceira continuam vedados - neste caso está a ser reposta a calçada artística, ou melhor, a calçadinha. "Num dia, um calceteiro faz 15 metros quadrados de pedra branca, se for com desenho faz dois metros quadrados num dia", diz Rui José, responsável pela fiscalização da obra. Na estrada circundante já se veem os carris por onde vai passar o elétrico 24, ainda sem data marcada para retomar a ligação a Campolide.

Por agora, só a zona junto ao rio - o Cais das Pombas - já está terminada. Os passeios cresceram e o número de transeuntes também: com uma tarde soalheira de inverno, o muro que dá para o rio está cheio de gente sentada. "Assim que se abre um espaço, ele é imediatamente tomado pelas pessoas", diz Fernando Medina, acrescentando que este é um exemplo que se vai repetindo ao longo da frente ribeirinha da cidade: "No dia a seguir à abertura da Ribeira das Naus [o espaço relvado] estava cheio de pessoas. Tirei uma fotografia e mandei a António Costa."

As obras em Lisboa vão tomando muitos sinónimos entre quem circula na cidade - "inferno" e "caos" foram dois dos qualificativos que foram preenchendo páginas de jornais - e um outro entre a oposição política camarária: eleitoralismo. Medina admite o incómodo dos primeiros, rejeita as críticas dos segundos. "As obras tiveram obviamente impacto sobre a vida da cidade e o quotidiano das pessoas, não diminuo isso. Mas as perturbações no trânsito seriam muito maiores se as obras fossem desfasadas no tempo, seriam anos a fio", diz o presidente da capital.

Saindo do Cais Sodré, em direção ao Largo de Santos (que já está fora do calendário previsto), as obras continuam. Também aqui os passeios (e uma ciclovia) ganharam espaço à estrada, na direta proporção em que o piso de blocos lisos ganhou espaço à calçada portuguesa, confinada a uma faixa junto aos prédios. "Temos de conseguir um equilíbrio. É essencial manter e reforçar a calçada onde tem um carácter artístico e não oferece perigosidade", diz Medina. Sempre que se fala de calçada portuguesa, o presidente da Câmara de Lisboa tem uma história para contar. "Tive esta experiência em Campolide. Uma vez vi várias pessoas, dezenas, a andar no alcatrão, faziam filas atrás dos carros à espera de vez para passar. Fui perguntar o que se passava e disseram-me que tinham medo de andar nos passeios." Conclusão do autarca: "Um quarto da população residente em Lisboa tem mais de 65 anos. Agir sobre o conforto e a segurança dos passeios é uma prioridade para a cidade." Outra é também muito visível no chão: o piso tátil junto às passadeiras para pessoas com dificuldades de mobilidade - "É uma das grandes apostas."

Logo ali ao lado, uma faixa pintada a verde mostra um pedaço dos duzentos quilómetros de ciclovias que vão ser feitos na cidade, outra aposta do executivo que não tem escapado a críticas. "Temos 60 quilómetros de ciclovias, mas são sobretudo ciclovias de lazer. As que estamos a fazer permitem que se possa usar a bicicleta em deslocações quotidianas, para ir para o emprego, para a escola." Permitem? Há muito quem discorde, seja pela topografia da cidade seja porque o dia-a-dia da capital não se compadece com trajetos de bicicleta. O autarca diz não ter a ilusão de que os lisboetas passarão a andar todos de bicicleta, mas argumenta que se uma pequena percentagem o fizer, toda a cidade ganhará com isso. "Imaginemos que 5000 pessoas trocam o carro pela bicicleta . São menos 25 quilómetros de fila em Lisboa. Todos beneficiarão disso, mesmo os que andam de carro."

Chegados ao Largo de Santos, uma das artérias desapareceu para dar lugar a passeio e o Jardim Nuno Álvares está agora rodeado por um gradeamento - vai passar a ser fechado durante a noite. É o resultado das queixas dos moradores, numa das zonas da cidade de convivência muito problemática entre a habitação e a diversão noturna. "Esse é um problema dos mais difíceis, dos mais complexos na gestão da cidade", admite o autarca, defendendo que o ideal é que os espaços de diversão se concentrem do outro lado da linha do comboio, junto ao rio. Mas Medina recusa uma separação total: "Não podemos deixar que zonas de lazer sejam se transformem apenas nisso, em zonas de lazer."

Acabaram as obras? Não...

Com várias praças da cidade também em obras, Graça, Campolide (ambas já atrasadas) e Santa Isabel vão ter os trabalhos terminados no primeiro trimestre deste ano. Mas há novas (grandes) obras que vêm aí. Em Sete Rios está, para já, a ser construído um parque de estacionamento subterrâneo - quando estiver pronto arrancam as obras à superfície.


E há a Segunda Circular. Depois de o projeto para a maior via que atravessa a capital ter caído por alegadas irregularidades no concurso, Fernando Medina promete voltar a este assunto se for eleito nas próximas eleições autárquicas. Mas admite que o polémico projeto - que implicava uma velocidade máxima de 60 quilómetros e uma via central arborizada - que marcou o último ano venha a sofrer alterações: "Temos de debater isso novamente", diz ao DN.

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