sexta-feira, 25 de novembro de 2016

O turismo pode trazer problemas, mas Lisboa e Porto não o reconhecem


O turismo pode trazer problemas, mas Lisboa e Porto não o reconhecem
Autarcas criticados por pouco ou nada fazerem para impedir a descaracterização das cidades num debate sobre património organizado pelo Icomos, no Porto

26 de Novembro de 2016, 0:24

O mote era a classificação do Porto como património da Unesco, há 20 anos. Mas mais do que festejar a data, a comissão portuguesa do Icomos - Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios queria debater “O Processo de Turistificação de uma Cidade Património Mundial” e o que na tarde desta sexta-feira se ouviu, no Ateneu Comercial do Porto, foi uma denúncia dos efeitos nefastos do turismo de massas no Porto e em Lisboa, acompanhadas por um apelo aos autarcas das duas cidades, para que tomem consciência destes impactos e promovam medidas para os mitigar. Medidas essas que já serão, em muitos aspectos, apenas reactivas, alertou o sociólogo João Queiroz.

O arquitecto Pedro Bismark, outro dos convidados para esta sessão, elencou na sua intervenção “treze tristes teses sobre o turismo”, sendo uma delas a de que o turismo, na sua voracidade, destrói aquilo de que se alimenta, seja ela a autencidade social, arquitectónica ou outra, de um lugar. Num artigo de opinião no PÚBLICO, A coordenadora deste encontro, Maria Ramalho, já tinha alertado que, depois de ter destruído frentes de mar por esse país fora, o ímpeto turístico - que não dissocia do imobiliário - está a atingir o coração das cidades, principalmente das mais antigas e acessiveis por meios de deslocação low-cost, a uma velocidade “estonteante”. Ao contrário de Veneza ou Barcelona, onde os problemas se foram agudizando ao longo de anos e anos, estamos numa fase em que tudo acontece mais rapidamente, insistiu.

O sociólogo João Queiroz aludiu às dificuldades que se colocam a quem, como ele, pretenda investigar os impactos do turismo num dado território. Dificuldades que se prendem com o défice de financiamento do sistema científico mas também, vincou, com a inexistência de dados estatísticos acualizados, que permitam uma leitura atempada de alguns indicadores. O Censos 2011 já lá vai há cinco anos, mas, avisou, 2021 pode ser tarde demais para reverter alguns efeitos, como o afastamento de populações de menores recursos económicos dos centros históricos, situação já reportada em Setembro em Alfama, Lisboa, pelo presidente da Junta de Santa Maria Maior.


O governo já anunciou que vai aumentar a carga fiscal do alojamento local, como forma de eliminar uma vantagem competitiva deste tipo de negócio face ao alojamento de longa duração. Os proprietários têm respondido ao aumento da procura de quartos e casas em zonas históricas, e segundo João Queiroz, o peso da oferta de apartamentos para o conhecido site de alojamento Airbnb é maior na zona histórica do porto do que resto da cidade, havendo queixas de moradores de aumento de preços de bens essenciais vendidos no comércio local. E a isto acrescentou, soma-se o já conhecido aumento do preço das rendas e do custo dos imóveis para venda que contribuem para um efeito de mudança do tecido social destes espaços históricos.  

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