quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Alojamento local. Há quem tenha 300 imóveis só para receber turistas


ALOJAMENTO LOCAL
Alojamento local. Há quem tenha 300 imóveis só para receber turistas
Lisboa tem as duas freguesias do país com maior concentração da oferta: na Baixa e Chiado, 22% das casas existentes são para AL

Ana Margarida Pinheiro
29.11.2016 / 15:05


Há muito que o alojamento local em Portugal deixou de servir meramente para ocupar a casa própria em período de férias. A alteração legislativa de 2014, que abriu e facilitou o nascimento destes alojamentos, fez passar os 11 mil imóveis existentes à data para mais de 34 mil. E é já uma atividade comercial para muitos portugueses. Um levantamento feito pela Universidade Nova de Lisboa ao Registo Nacional de Alojamento Local (RNAL) mostra que há uma média de quase duas casas por cada NIF registado: 19.134 contribuintes (NIF) para perto de 35 mil imóveis. A grande maioria dos proprietários 15.539 (81,2%) registou apenas um imóvel para fins de alojamento de turistas mas existe também quem tenha 300 casas registadas, o maior valor detetado neste levantamento. A UNL não faz a distinção, diz apenas que 25 contribuintes em Portugal têm entre 51 e 300 casas para receber turistas. São 0,1% do total, num universo onde 77 pessoas têm entre 21 e 50 casas, 300 entre seis e dez, 1075 entre três e cinco e 1999 NIF com dois imóveis para este fim. Quais os locais onde há mais alojamentos? Lisboa quebra qualquer recorde quando se fala de concentração de alojamentos turísticos e tem, inclusivamente, a freguesia do País com mais oferta por casas existentes: Santa Maria Maior, a freguesia do Bairro Alto e do Chiado. Ao todo, nesta zona da capital 15,1% do total de casas estão a funcionar como alojamentos locais, percentagem que sobe para 22% se se tiverem em conta não os alojamentos registados, mas os que efetivamente estão anunciados em portais como o Airbnb – 40% do alojamento local não está registado. A segunda zona do país com maior concentração da oferta é a freguesia da Misericórdia, que resulta da agregação das antigas freguesias da Encarnação, Mercês, Santa Catarina e São Paulo. Aqui, 12,2% dos imóveis estão para AL, 18,5% se a base se alargar aos portais online. Lagos, Lagoa e Albufeira são as freguesias que se seguem na análise à concentração de oferta de alojamento, sendo o Algarve responsável por mais de 15 mil casas para recebimento de turistas. No Porto, a União de freguesias da Cedofeita, Santo Ildefonso, Sé, Miragaia, São Nicolau e Vitória, têm 11,1% dos imóveis só para alojamento local. -  

Portugal entre os países que mais se opõem a acolher imigrantes


Portugal entre os países que mais se opõem a acolher imigrantes
Portugueses são mais tolerantes com a entrada de refugiados e menos com a dos imigrantes por motivos económicos. Resultados de estudo académico será apresentado esta quarta-feira no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.

ANA DIAS CORDEIRO 30 de Novembro de 2016,

Portugal está entre os três países europeus que mais se opõem a receber imigrantes, logo a seguir à Hungria e República Checa. Ao mesmo tempo, e no sentido oposto, os portugueses defendem uma maior flexibilidade aos critérios de entrada de refugiados. Aqui a pergunta colocada às pessoas inquiridas em 20 países era: “Em que medida o Governo deve ser mais generoso a avaliar os pedidos de refugiados?”

Estes são alguns dos resultados realçados no trabalho que vai ser apresentado nesta quarta-feira no encontro “Europa, Migrações e Identidades” no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL). O estudo resulta de um inquérito feito pela primeira vez em 2002 e 2003 pela mesma equipa do programa de investigação Atitudes Sociais dos Portugueses que em 2014 e 2015 voltou a debruçar-se sobre as atitudes e percepções dos europeus relativamente aos refugiados.

Os resultados mostram que os portugueses são favoráveis a que o Governo português avalie com generosidade os pedidos dos refugiados para entrarem no país e que esteja aberto a receber os refugiados. “Os refugiados não são uma ameaça”, diz Alice Ramos, socióloga doutorada e investigadora do programa Atitudes Sociais dos Portugueses do ICS-UL. Nesta frente, Portugal está acima da média europeia e, como quase todos os outros, evoluiu no sentido de uma maior abertura.

Refugiados e imigrantes vistos de forma diferente
O nosso país está, por outro lado, entre os que mais se destacam, juntamente com a Polónia, a República Checa, a Hungria e Espanha, ao manifestar uma maior resistência a abrir as fronteiras a muçulmanos do que a cidadãos de países pobres não europeus ou de grupos étnicos diferentes.

Ao longo dos12 anos cobertos pelo estudo, “a tendência, na maioria dos países, vai no sentido da aceitação dos refugiados”. Porém, países como a Holanda, a Bélgica, a Hungria e a República Checa, “que já manifestavam em 2002 e 2003 maior rejeição do que abertura, mantêm essa posição (…)”, lê-se na análise dos dados da autoria de Alice Ramos, Ana Louceiro e João Graça.

Primeira conclusão com o foco no nosso país: os portugueses distinguem refugiados e imigrantes de uma forma que não fazem, por exemplo, os cidadãos da Alemanha, Hungria ou República Checa.

“Os refugiados estão protegidos pela onda de simpatia, de empatia, pelas imagens que todos vemos na televisão. Os refugiados não são percepcionados como uma ameaça, ao contrário dos restantes imigrantes. Há de facto um sentimento de piedade que os protege destas atitudes de oposição. E Portugal, provavelmente, é o país que menos associa os refugiados às restantes categorias de imigrantes”, explica ainda Alice Ramos.

Segunda conclusão: as pessoas opõem-se à imigração porque associam os imigrantes a uma ameaça. “Acham que lhes vão tirar o trabalho, que vão sobrecarregar o sistema de segurança social, que vão contribuir para o crime. São percepções que as pessoas criam. E não é só em Portugal”, diz Alice Ramos. “A partir do momento em que começam a ver que não há tantas razões para sentir essa ameaça, começam a mudar essa percepção.”

E isso acontece apesar de Portugal ser um país de emigração. “Curiosamente isso não tem impacto. Uma coisa é o que a pessoa, os pais, ou as gerações anteriores foram fazer noutro país. Outra coisa é quando se trata de competição por recursos. Recursos económicos; recursos culturais. São duas realidades diferentes”, acrescenta.

Além disso, continua a investigadora, “os sentimentos racistas continuam a existir” e passam muito por justificar esse sentimento de ameaça, seguindo o seguinte raciocínio: “Se na verdade eles não me tiram o emprego e não contribuem mais do que outros para o crime, por que uso esta percepção de ameaça como justificação? Porque na realidade eu tenho uma crença racista e acho que as pessoas que são negras ou que são de outro grupo étnico valem menos do que os brancos. Aprendemos na escola que isto não se diz. Então o que eu vou dizer é que me oponho a eles porque eles me tiram o trabalho.”

Esta e outras análises constam deste estudo que também conclui que “a percepção que temos de ameaça serve como uma justificação para o racismo e para o preconceito racial”. Tal imagem, no contexto da sociedade, permite ao indivíduo “exprimir os seus sentimentos sem declarar que é racista ou preconceituoso relativamente a pessoas de outros grupos étnicos, de outras religiões”.

"Para lá da preocupação com os migrantes, tenho grande preocupação com a alma da Europa"
Isto é geral, garante Alice Ramos, embora reconheça que esta análise “faz muito sentido” na realidade portuguesa, já que Portugal está entre os países que manifestam maior oposição à imigração. E vem trazer uma nova luz à imagem de Portugal como “um país muito tolerante”. Os portugueses "não são mais tolerantes do que os outros", salienta a investigadora.


"De facto as pessoas não têm problema nenhum, quer em Portugal, quer noutro país, em dizer: ‘Há pessoas que, por serem de um determinado grupo ou raça, são mais ou menos inteligentes do que outros'.” O inquérito questiona esta raciocínio e confirma, nalgumas respostas, esta convicção.

Invasão chinesa


Invasão chinesa
ANABELA CAMPOS
ISABEL VICENTE
EXPRESSO / 26-11-2016

A China está em Portugal como em nenhum país do Ocidente. E controla sectores estratégicos como a energia, e tão diversos como a saúde ou os transportes aéreos. Foram a grande novidade da onda de vendas pós-troika e já ultrapassaram Angola como grande investidor. Querem ter um pé na base das Lajes

A 26 de setembro, às 20h15, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, aterrou na base das Lajes, em Angra do Heroísmo, juntamente com a mulher e oito membros do seu Governo. O objetivo era preparar a visita de Estado de António Costa à China, durante a qual o primeiro-ministro português seria recebido ao mais alto nível, com direito a uma reunião com o Presidente da República Popular da China, Xi Jinping, no Palácio do Povo, em Pequim. Portugal está definitivamente na rota de investimento da China, a segunda maior economia do mundo, liderada por um Presidente empenhado em reconstruir o Império do Meio e em expandir o mercado para as suas empresas.

Era a terceira vez em quatro anos que o primeiro-ministro ou o Presidente da China pisavam a base das Lajes, concessionada aos Estados Unidos da América. Não se trata de uma mera coincidência a passagem dos líderes chineses nas Lajes nos últimos anos, é também um sinal de afirmação da influência chinesa no Atlântico, defende Miguel Monjardino, académico e especialista em geopolítica e geoestratégia.

Li Keqiang iria pernoitar na Terceira, isso já se sabia, o que criou espanto foi ter passeado com a mulher no centro de Angra e assistido a um concerto na Praça Velha. Tocava a Orquestra de Sopros da Ilha Terceira e os Myrica Faya. Porque o fez? Miguel Monjardino responde: “É muito interessante. Sente-se seguro para o fazer. E, de certa maneira, terá querido perceber como é que os açorianos reagiam à sua presença.” Monjardino acredita que Pequim vai solicitar a passagem regular pela base das Lajes, como tem feito quando viaja para o continente americano, mas está fora de questão um uso militar. Quando muito, admite, Portugal e China poderão estabelecer acordos que envolvam os Açores para as áreas de investigação marítima e logística, um cenário que o Governo está a equacionar.

A China é o novo grande investidor em Portugal e foi a novidade da onda de vendas que varreu o país após a entrada da troika. Está, em termos de perceção, a assumir papel que antes era atribuído a Angola. E a estender-se a domínios inesperados, como, por exemplo, os media. Tem comprado das melhores e mais lucrativas empresas portuguesas.

TROIKA ABRE A PORTA
A grande investida chinesa iniciou-se em 2011, com o país sob intervenção da troika. A China está a internacionalizar as suas empresas e Portugal estava endividado e ávido de dinheiro. Desde então os investidores chineses já aplicaram em Portugal €12,5 mil milhões, mais do que o montante arrecadado com as privatizações naquele período (€9,5 mil milhões). Até aí o investimento direto era irrisório: um ano antes de rebentar a crise financeira mundial, em 2007, situava-se nos €2,2 milhões e veio sempre a cair até ao investimento na EDP.

A elétrica presidida por António Mexia foi a porta de entrada: saiu o Estado português entrou o chinês. Pouco tempo depois aconteceu o mesmo com a REN. E hoje a China está em Portugal como em nenhum outro país do Ocidente, com uma presença forte em áreas estratégicas, como a energia, e uma dispersão significativa em vários domínios da economia, que vão desde a saúde, os seguros, o imobiliário, o turismo e, entre outros, a aviação e os media. Quase nada lhes escapa.

Em alta. António Costa, aqui com o primeiro-ministro Li Keqiang, foi recebido ao mais alto nível na sua recente viagem oficial à China. Portugal tem sido um dos grandes destinos do investimento chinês na Europa
Em alta. António Costa, aqui com o primeiro-ministro Li Keqiang, foi recebido ao mais alto nível na sua recente viagem oficial à China. Portugal tem sido um dos grandes destinos do investimento chinês na Europa

Há capital chinês na TAP (HNA), na Fidelidade (Fosun), na Luz Saúde (Fosun), na comunicação social (entraram na Global Notícias através da KNJ Investment Limited), no turismo e no imobiliário. Mas não só. A China poderá estar à beira de se tornar o grande acionista da banca privada portuguesa. Será uma cartada de mestre, a preços convidativos, e a colocação de mais um pé na banca europeia. O grupo privado chinês Fosun está desde o verão em negociações para entrar no BCP, onde pretende ficar com até 30% do capital. E o Minsheng Financial Group é um dos cinco candidatos à compra do Novo Banco. Já é chinês o antigo BES Investimento, foi comprado pela Haitong no final de 2014. Se as operações em curso tiverem sucesso, os investidores ficarão a controlar cerca de 30% do mercado financeiro português.

ESTADO CHINÊS SUBSTITUI O PORTUGUÊS
Portugal foi eleito há dez anos pelos chineses como um dos quatro parceiros estratégicos da China no mundo. Uma aposta que já começou a dar frutos. Há relações históricas que se retomaram. A China sente-se bem acolhida, e essa é também uma das razões porque têm investido em força. O Governo de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas estendeu-lhe a passadeira, quando deixou empresas estatais chinesas tomar o controlo do sector energético. A EDP e a rede de transporte de energia portuguesa, a REN, são hoje detidas maioritariamente por duas elétricas chinesas, a China Three Gorges e a State Grid. O Estado português encaixou com estas vendas mais de três mil milhões de euros — €2,7 mil milhões por 21,35% da EDP e €387,15 milhões por 29,9% da REN. Mas entregou ao Estado chinês um monopólio natural (REN) e uma empresa que tem tido nos últimos anos praticamente mil milhões de euros de lucro (EDP).

O controlo do sector energético por uma empresa estatal estrangeira, especialmente a infraestrutura de transporte, causa arrepios, atingindo, aliás, todo o espectro político português da esquerda à direita. Mais nenhum país na Europa abriu mão do controlo da distribuição e transporte de energia. Portugal fê-lo, e o Governo chinês sente-se agradecido. E pode ir mais além. Na investigação para o livro “Negócios da China” percebemos que a presença de capital chinês no sector energético poderá não ficar por aqui e alargar-se à Galp.

Um antigo gestor da petrolífera admite que a estatal chinesa Sinopec, já parceira da Galp no Brasil, terá nos seus planos estender a sua participação a Portugal. O facto de a Sonangol, acionista da Galp juntamente com Américo Amorim, estar fragilizada pode abrir caminho para isso. Uma hipótese que não é de excluir tendo em conta que uma das razões que levou a China a comprar empresas portuguesas foi precisamente o reforço da presença nos países da lusofonia, onde Pequim tem uma importante palavra a dizer. A Galp está presente em Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé. Fonte governamental adianta mesmo que os chineses, há anos a despejar milhões de euros em negócios em África, muitas vezes sem o esperado retorno, já reconheceram que poderão ter vantagem em estar naqueles mercados com empresas e gestores que os conhecem há décadas.

A lusofonia, embora não seja o único, é de facto um dos factores que tem atraído os investidores chineses, como reconhece Raquel Vaz Pinto, investigadora do Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade de Lisboa. “Portugal tem uma grande vantagem na perspetiva da China, as possíveis parcerias com o mercado lusófono, sobretudo Angola e Moçambique, e também o Brasil, embora este caso seja mais complexo. Há também Macau, que passou a ser uma espécie de placa giratória e uma porta de entrada, favorecendo Portugal nesta circunstância de país europeu e lusófono”. Mas não passa apenas por aí. “Portugal tem também empresas com um valor tecnológico apetecível, como é o caso da EDP Renováveis. E hoje a China dá uma importância muito grande ao crescimento sustentável. Uma das maiores fontes de protesto está relacionada com as terras de cultivo e os problemas ambientais”, avança a investigadora. Raquel Vaz Pinto dá argumentos para a entrada, por exemplo, na Luz Saúde. “A China, por causa da antiga política de um filho único, tem hoje uma população envelhecida, e isso também ajuda a perceber o seu interesse pelo sector da saúde. Esta é claramente uma área em que a China está à procura das melhores práticas.”

CONCORREM PARA GANHAR
Quando sinalizam o interesse por um ativo, os investidores chineses raramente perdem. Saem quase sempre vencedores. Isso aconteceu na privatização da Fidelidade, na venda do Hospital da Luz, na EDP e na REN. Na verdade, ofereceram sempre o preço mais alto, e isso, foi determinante. Para os menos críticos à chamada invasão de capital chinês em empresas portuguesas, há reconhecimento, uma vez que consideram que a China deu a mão a Portugal quando o país mais precisava. Na realidade, os milhões injetados pelas compras dos chineses foram uma importante almofada numa altura em que o país tinha o acesso aos mercados limitado e não havia fortes candidatos às privatizações. Já os mais críticos dizem que o investimento chinês não traz valor acrescentado, como foi o caso de Fernando Ulrich, presidente do BPI, que considera Portugal como “o porta-aviões da China para entrar na Europa”. “Ninguém fica escandalizado com o facto de o presidente da Fosun ser membro do comité central do Partido Comunista Chinês e as empresas sejam comandadas pelo Estado e depois é aqui d’el rei quando os angolanos compram qualquer coisa em Portugal, argumentando-se que não são transparentes”, comentou Ulrich, em abril em 2015.

POUCO MUDA, PARA JÁ...
Uma coisa é certa, a entrada dos chineses nas empresas portuguesas tem sido feita de forma discreta. Mantêm os gestores ao comando das empresas que controlam. António Mexia, continua como presidente da EDP e Jorge Magalhães Correia da Fidelidade. Isabel Vaz lidera o destino da Luz Saúde. Até agora as empresas que compraram não fizeram cortes, mantêm o número de trabalhadores e estão a expandir os negócios. Há pequenas mudanças, claro. Os chineses apreciam a discrição. António Mexia, por exemplo, passou a ter uma agenda mediática mais contida. E ultimamente a EDP tem usado contadores de energia fabricados na China. É, contudo, ainda cedo para perceber o verdadeiro impacto da entrada de capital chinês nas grandes empresas, nomeadamente ao nível do investimento e da criação de emprego qualificado. E é preciso não esquecer que a paciência é um dos trunfos dos chineses.

Se Passos Coelho abriu a porta, António Costa manteve-a aberta. Portugal é o quinto maior destino do investimento chinês na Europa, e há uma nova onda de compras a caminho, onde se destacam, como já referido, o BCP e, provavelmente, o Novo Banco. Na mira estão agora também turismo e agricultura e a criação de uma plataforma logística no Porto de Sines, que tem suscitado interesse da China. O convite ao investimento chinês faz-se sentir também nos corredores da diplomacia. O embaixador da China em Portugal, Cau Run, esteve há pouco mais de um ano no Porto de Sines numa visita guiada. Os objetivos foram claros: mostrar a competitividade do porto e a sua localização geoestratégica, um excelente ponto de entrada na Europa. A capacidade de expansão do Porto de Sines, sobretudo na área afeta aos contentores, também foi abordada, já que poderá ser aqui instalada uma plataforma logística.

As relações diplomáticas com a China atravessam um momento de ouro. E não deixa de merecer destaque o anúncio de três voos diretos semanais de Lisboa para Pequim a partir de 2017. Um estimulo a um maior fluxo comercial e turístico entre os dois países. 2016 deverá fechar com a visita de 180 mil turistas chineses, um recorde absoluto.

A fase de investimento em grandes empresas, algumas monopolistas acabou, já não há praticamente mais nada para privatizar, e agora a palavra de ordem é diversificar. E foi esse o recado que António Costa deixou na visita à China.

CHINA À DISPUTA COM ANGOLA?
Coincidência ou não, a verdade é que a onda de investimento chinês segue um roteiro com semelhanças ao executado no passado pelos angolanos, que entraram primeiro no sector da energia e depois foram alastrando os seus domínios para a banca, os media, o imobiliário e também para as pequenas e médias empresas do sector produtivo. Aproveitando a debilidade dos investidores angolanos, já sem o poder que os estratosféricos preços do petróleo lhe garantiam, os investidores chineses estão a substituir os investidores angolanos como grandes compradores. E com vantagem sobre estes, tem entrado a preços mais atraentes.

Negócio. A compra da EDP pela estatal Three Gorges foi a porta de entrada do investimento chinês em Portugal e marcou o início de uma nova era
Negócio. A compra da EDP pela estatal Three Gorges foi a porta de entrada do investimento chinês em Portugal e marcou o início de uma nova era
NUNO FOX
Não é só como o novo grande investidor que a China está a dar nas vistas. É curioso como os empresários chineses estão a entrar em empresas onde os angolanos já se encontram. A Fosun pode vir a tornar-se o maior acionista do BCP, destronando a Sonangol. Há capital chinês na Global Notícias, até agora controlada por angolanos, e é grande a especulação sobre o interesse dos chineses na Galp. “A China é um importante parceiro comercial de Angola. Com a descida dos preços do petróleo, os angolanos perderam o fulgor, passaram a ter de partilhar participações em determinados negócios, e a China está a assumir posições que antes eram dos angolanos”, sublinha Raquel Vaz Pinto. Contudo, a investigadora afirma que é prematuro tirar conclusões sobre o investimento angolano em Portugal ou dizer que esta entrada dos chineses é coordenada como o Governo de Angola.

RECIPROCIDADE E O DEBATE EUROPEU
Há um grande debate na Europa face ao investimento direto chinês, a que Portugal tem passado ao lado. O Reino Unido e a Alemanha, os novos grandes destinos dos investimentos chineses, estão a torcer o nariz à entrada de Pequim nos sectores estratégicos. Rebentou há poucas semanas em Berlim a polémica por causa da intenção de compra da grande tecnológica alemã Kuka pela chinesa Midea Group. O Governo alemão opôs-se. Começam a criar-se anticorpos na maior economia da Europa. É que nos primeiros seis meses do ano, os chineses investiram 10,8 mil milhões de dólares na Alemanha na compra de 37 empresas, e uma grande parte deste investimento destinou-se a adquirir tecnológicas, a grande coqueluche dos investidores do Império do Meio.

A chanceler alemã, Angela Merkel, quer reciprocidade. A Alemanha é a grande exportadora da Europa, e a China é muito protecionista, predomina ainda o capitalismo de Estado. “A reciprocidade é o nó górdio. Há um conjunto de sectores na economia chinesa ainda controlados pelo Estado. Há uma série de questões a analisar sobre o futuro, nomeadamente, o que irá ser a evolução da elite chinesa. Tem havido uma centralização do poder no presidente. Ji Xinping é cada vez mais olhado como um imperador, há já quem lhe chame o presidente imperial”, alerta Raquel Vaz Pinto. A China ainda não é uma pura economia de mercado e isso levanta muitas questões. Portugal encontra-se na fase de namoro, mas, não tardará, terá também de entrar neste debate.

As autoras acabam de publicar 
na Oficina do Livro “Negócios da China”
Artigo publicado na edição do EXPRESSO de 19 de novembro de 2016

Trump’s climate denial is just one of the forces that point towards war



Trump’s climate denial is just one of the forces that point towards war
George Monbiot
The failure to get to grips with our crises, by all mainstream political parties, is likely to lead to a war between the major powers in my lifetime

Wednesday 23 November 2016 06.30 GMT

Wave the magic wand and the problem goes away. Those pesky pollution laws, carbon caps and clean-power plans: swish them away and the golden age of blue-collar employment will return. This is Donald Trump’s promise, in his video message on Monday, in which the US president-elect claimed that unleashing coal and fracking would create “many millions of high-paid jobs”. He will tear down everything to make it come true.

But it won’t come true. Even if we ripped the world to pieces in the search for full employment, leaving no mountain unturned, we would not find it. Instead, we would merely jeopardise the prosperity – and the lives – of people everywhere. However slavishly governments grovel to corporate Luddism, they will not bring the smog economy back.

No one can deny the problem Trump claims to be addressing. The old mining and industrial areas are in crisis throughout the rich world. And we have seen nothing yet. I have just reread the study published by the Oxford Martin School in 2013 on the impacts of computerisation. What jumps out, to put it crudely, is that jobs in the rust belts and rural towns that voted for Trump are at high risk of automation, while the professions of many Hillary Clinton supporters are at low risk.

The jobs most likely to be destroyed are in mining, raw materials, manufacturing, transport and logistics, cargo handling, warehousing and retailing, construction (prefabricated buildings will be assembled by robots in factories), office support, administration and telemarketing. So what, in the areas that voted for Trump, will be left?

Farm jobs have mostly gone already. Service and care work, where hope for some appeared to lie, will be threatened by a further wave of automation, as service robots – commercial and domestic – take over.

Yes, there will be jobs in the green economy: more and better than any that could be revived in the fossil economy. But they won’t be enough to fill the gaps, and many will be in the wrong places for those losing their professions.

At lower risk is work that requires negotiation, persuasion, originality and creativity. The management and business jobs that demand these skills are comparatively safe from automation; so are those of lawyers, teachers, researchers, doctors, journalists, actors and artists. The jobs that demand the highest educational attainment are the least susceptible to computerisation. The divisions tearing America apart will only widen.

Even this bleak analysis does not capture in full the underlying reasons why good, abundant jobs will not return to the places that need them most. As Paul Mason argues in PostCapitalism, the impacts of information technology go way beyond simple automation: they are likely to destroy the very basis of the market economy, and the relationship between work and wages.

An open-cast mine in Jaenschwalde, eastern Germany. Photograph: Michael Sohn/AP
And, as the French writer Paul Arbair notes in the most interesting essay I have read this year, beyond a certain level of complexity economies become harder to sustain. There’s a point at which further complexity delivers diminishing returns; society is then overwhelmed by its demands, and breaks down. He argues that the political crisis in western countries suggests we may have reached this point.

Trump has also announced that on his first day in office he will withdraw America from the Trans-Pacific Partnership (TPP). He is right to do so, but for the wrong reasons. Like TTIP and Ceta, the TPP is a fake trade treaty whose primary impact is to extend corporate property rights at the expense of both competition and democracy. But withdrawal will not, as he claims, “bring jobs and industry back to American shores”. The work in Mexico and China that Trump wants to reclaim will evaporate long before it can be repatriated.

As for the high-quality, high-waged working-class jobs he promised, these are never handed down from on high. They are secured through the organisation of labour. But the unions were smashed by Ronald Reagan, and collective bargaining has been suppressed ever since by casualisation and fragmentation. So how is this going to happen? Out of the kindness of Trump’s heart? Kindness, Trump, heart?

But it’s not just Trump. Clinton and Bernie Sanders also made impossible promises to bring back jobs. Half the platform of each party was based on a delusion. The social, environmental and economic crises we face require a complete reappraisal of the way we live and work. The failure by mainstream political parties to produce a new and persuasive economic narrative, which does not rely on sustaining impossible levels of growth and generating illusory jobs, provides a marvellous opening for demagogues everywhere.

Governments across the world are making promises they cannot keep. In the absence of a new vision, their failure to materialise will mean only one thing: something or someone must be found to blame. As people become angrier and more alienated, as the complexity and connectivity of global systems becomes ever harder to manage, as institutions such as the European Union collapse and as climate change renders parts of the world uninhabitable, forcing hundreds of millions of people from their homes, the net of blame will be cast ever wider.

Eventually the anger that cannot be assuaged through policy will be turned outwards, towards other nations. Faced with a choice between hard truths and easy lies, politicians and their supporters in the media will discover that foreign aggression is among the few options for political survival. I now believe that we will see war between the major powers within my lifetime. Which ones it will involve, and on what apparent cause, remains far from clear. But something that once seemed remote now looks probable.


A complete reframing of economic life is needed not just to suppress the existential risk that climate change presents (a risk marked by a 20°C anomaly reported in the Arctic Ocean while I was writing this article), but other existential threats as well – including war. Today’s governments, whether they are run by Trump or Obama or May or Merkel, lack the courage and imagination even to open this conversation. It is left to others to conceive of a more plausible vision than trying to magic back the good old days. The task for all those who love this world and fear for our children is to imagine a different future rather than another past.

Class, race, wealth: Britain is a nation blighted by divisions


Class, race, wealth: Britain is a nation blighted by divisions
Rafael Behr
With a new report expected to trigger fresh concerns on integration, Theresa May has a duty to rise above the outrage and lead a serious debate

Tuesday 29 November 2016 20.35 GMT

Communication is stilted as a gaggle of listless teenagers assist a group of disabled adults on an art project. But nervous shoe-gazing gives way to more confident engagement and, after a couple of hours, something close to natural socialising. By the time the glaze is applied to pocket-sized ceramic snowmen and the awkward silence replaced with lively chatter, the visit is over. Farewells are made; hugs are exchanged. The teenage delegation moves to an adjacent studio for a session of “reflection” on their experience.

“When I heard we were coming here, I started to panic,” says one young woman. “But it turns out they are just like us.” This feels partly like a classroom effort at the “right” answer. The group has been brought from nearby Sandwell College, in the West Midlands, by The Challenge – the leading charitable provider of courses that form the National Citizens Service (NCS). The participants want to demonstrate their newly acquired citizenship skills, whatever that means. But there is no doubting the underlying sincerity. Many of the group say the prospect of an afternoon outside their generational comfort zone had provoked feelings of dread.

The fear dissolved quickly, but it took an act of social engineering. Without the NCS intervention, the presumption that “they” are not like “us” would persist. The superficial differences are stark, even setting age aside. The older clients of the council-run art project are all white; most of the young people are from black and Asian communities that have transformed the demographics of the region in recent decades. NCS alumni speak enthusiastically of unexpected friendships struck up across cultural boundaries.

Critics of the scheme query how far teenage horizons can be broadened on a taster course. I’d say a taste of something is better than starvation. And the effect of inaction is accelerated segregation and the dissolution of any sense that Britain is a shared national endeavour.

That prospect will be the focus of heated debate next week with the publication of a report by Dame Louise Casey, who was commissioned in 2015 to lead a review into “integration and opportunity in some of our most isolated communities.” Casey has worked in this field for governments of different stripes since the late 1990s, giving her ample opportunity to upset people across the spectrum. She is no mincer of words.

In a speech earlier this year, Casey warned that the review would demand “brave conversations” on a range of issues: the educational underperformance of white working-class children; misguided squeamishness around “causing offence” that inhibits efforts to support women and girls held back by “patriarchal and misogynistic attitudes”; the normalisation of Islamophobia; and social conditions that incubate jihadi and far-right fanaticism.

There will be something to ignite outrage wherever dry ideological tinder is stored. On the left there will be sparks of fury when it is suggested that some communities nurture insular habits of self-segregation. Tricky cultural questions will be overlooked in the rush to locate social exclusion as a consequence of discrimination, inequality and austerity.

On the right the muscle memory of finger-wagging blame will kick in: open borders as the root of national decline; the lazy conflation of religious conservatism and terrorist sympathy; the demand that minorities demonstrate commitment to “British values”, which will be ill-defined and muddied with a presumption that civic virtue is the automatic inheritance of an indigenous culture to which less enlightened newcomers must swear fealty. Those precooked positions will emerge as vituperative charges of racism and counter-charges of potty political correctness.

If the past is any guide, there will be a ferocious exchange of fire across the old trenches followed by a return to political stalemate. It will take a formidable effort of imagination to avoid that outcome, and the prime minister must lead the way. The long delay in releasing a report that was complete months ago suggests she does not relish the prospect.

It will be tempting to narrow the focus through a counter-terrorism lens, treating segregation as a precursor chemical in the manufacture of extremism. That is an argument where Theresa May, as a former home secretary, feels comfortable. But if that is the nub of Downing Street’s response next week we will know that the challenge is being ducked. Extremism is part of the story, but the route by which a tiny number of individuals turn alienation into murderous intent is one crooked alleyway on the periphery of a labyrinthine problem that affects everyone. Terrorism was not the reason those Sandwell teenagers dreaded an afternoon volunteering in unfamiliar company.

Britain is strangled by barbed-wire fences of class, region, wealth, faith, age, the urban, the rural, leavers and remainers. This is a national disease for which there is no remedy in singling out a specific group of people and issuing the vacuous imperative: “Go integrate!” Into what?

The test for May is whether she connects segregation to her declared interest in social mobility. She claims to understand stagnating living standards and economic insecurity. She says government must more actively restore ladders of opportunity that have fallen away over decades. Does she understand how the problem of immobility also operates on the horizontal axis? Confinement by monoculture is the enemy of aspiration and prosperity. Segregation breeds mistrust of neighbours and of national politics in a vicious cycle. If government is not seen as representing the collective interest in the broadest terms, people deposit their hopes with politicians who offer the narrowest, most divisive sectional agenda, peddling them-and-us rhetoric.


May must explicitly reject that tone. No one expects her to have all the answers, but we will know next week if she has understood the question. We will know it by her readiness to eschew the admonishing tone, by her willingness to make integration sound like a collaboration and an invitation not an order or a rebuke. The noisy artillery of polarised debate will start up quickly. But a prime minister’s voice carries. She must raise it in the service of tolerance and unity.

Frightened by Donald Trump? You don’t know the half of it


Frightened by Donald Trump? You don’t know the half of it
George Monbiot
Many of his staffers are from an opaque corporate misinformation network. We must understand this if we are to have any hope of fighting back against them

Wednesday 30 November 2016 06.00 GMT

Yes, Donald Trump’s politics are incoherent. But those who surround him know just what they want, and his lack of clarity enhances their power. To understand what is coming, we need to understand who they are. I know all too well, because I have spent the past 15 years fighting them.

Over this time, I have watched as tobacco, coal, oil, chemicals and biotech companies have poured billions of dollars into an international misinformation machine composed of thinktanks, bloggers and fake citizens’ groups. Its purpose is to portray the interests of billionaires as the interests of the common people, to wage war against trade unions and beat down attempts to regulate business and tax the very rich. Now the people who helped run this machine are shaping the government.

I first encountered the machine when writing about climate change. The fury and loathing directed at climate scientists and campaigners seemed incomprehensible until I realised they were fake: the hatred had been paid for. The bloggers and institutes whipping up this anger were funded by oil and coal companies.

Among those I clashed with was Myron Ebell of the Competitive Enterprise Institute (CEI). The CEI calls itself a thinktank, but looks to me like a corporate lobbying group. It is not transparent about its funding, but we now know it has received $2m from ExxonMobil, more than $4m from a group called the Donors Trust (which represents various corporations and billionaires), $800,000 from groups set up by the tycoons Charles and David Koch, and substantial sums from coal, tobacco and pharmaceutical companies.

For years, Ebell and the CEI have attacked efforts to limit climate change, through lobbying, lawsuits and campaigns. An advertisement released by the institute had the punchline “Carbon dioxide: they call it pollution. We call it life.”

Former campaign manager Corey Lewandowski, like other members of Trump’s team, came from a group called Americans for Prosperity. Photograph: UPI/Barcroft Images
It has sought to eliminate funding for environmental education, lobbied against the Endangered Species Act, harried climate scientists and campaigned in favour of mountaintop removal by coal companies. In 2004, Ebell sent a memo to one of George W Bush’s staffers calling for the head of the Environmental Protection Agency to be sacked. Where is Ebell now? Oh – leading Trump’s transition team for the Environmental Protection Agency.

Charles and David Koch – who for years have funded extreme pro-corporate politics – might not have been enthusiasts for Trump’s candidacy, but their people were all over his campaign. Until June, Trump’s campaign manager was Corey Lewandowski, who like other members of Trump’s team came from a group called Americans for Prosperity (AFP).

This purports to be a grassroots campaign, but it was founded and funded by the Koch brothers. It set up the first Tea Party Facebook page and organised the first Tea Party events. With a budget of hundreds of millions of dollars, AFP has campaigned ferociously on issues that coincide with the Koch brothers’ commercial interests in oil, gas, minerals, timber and chemicals.

In Michigan, it helped force through the “right to work bill”, in pursuit of what AFP’s local director called “taking the unions out at the knees”. It has campaigned nationwide against action on climate change. It has poured hundreds of millions of dollars into unseating the politicians who won’t do its bidding and replacing them with those who will.

I could fill this newspaper with the names of Trump staffers who have emerged from such groups: people such as Doug Domenech, from the Texas Public Policy Foundation, funded among others by the Koch brothers, Exxon and the Donors Trust; Barry Bennett, whose Alliance for America’s Future (now called One Nation) refused to disclose its donors when challenged; and Thomas Pyle, president of the American Energy Alliance, funded by Exxon and others. This is to say nothing of Trump’s own crashing conflicts of interest. Trump promised to “drain the swamp” of the lobbyists and corporate stooges working in Washington. But it looks as if the only swamps he’ll drain will be real ones, as his team launches its war on the natural world.

Understandably, there has been plenty of coverage of the racists and white supremacists empowered by Trump’s victory. But, gruesome as they are, they’re peripheral to the policies his team will develop. It’s almost comforting, though, to focus on them, for at least we know who they are and what they stand for. By contrast, to penetrate the corporate misinformation machine is to enter a world of mirrors. Spend too long trying to understand it, and the hyporeality vortex will inflict serious damage on your state of mind.

Don’t imagine that other parts of the world are immune. Corporate-funded thinktanks and fake grassroots groups are now everywhere. The fake news we should be worried about is not stories invented by Macedonian teenagers about Hillary Clinton selling arms to Islamic State, but the constant feed of confected scares about unions, tax and regulation drummed up by groups that won’t reveal their interests.

The less transparent they are, the more airtime they receive. The organisation Transparify runs an annual survey of thinktanks. This year’s survey reveals that in the UK only four thinktanks – the Adam Smith Institute, Centre for Policy Studies, Institute of Economic Affairs and Policy Exchange – “still consider it acceptable to take money from hidden hands behind closed doors”. And these are the ones that are all over the media.

When the Institute of Economic Affairs, as it so often does, appears on the BBC to argue against regulating tobacco, shouldn’t we be told that it has been funded by tobacco companies since 1963? There’s a similar pattern in the US: the most vocal groups tend to be the most opaque.

As usual, the left and centre (myself included) are beating ourselves up about where we went wrong. There are plenty of answers, but one of them is that we have simply been outspent. Not by a little, but by orders of magnitude. A few billion dollars spent on persuasion buys you all the politics you want. Genuine campaigners, working in their free time, simply cannot match a professional network staffed by thousands of well-paid, unscrupulous people.

You cannot confront a power until you know what it is. Our first task in this struggle is to understand what we face. Only then can we work out what to do.


• Twitter: @GeorgeMonbiot. A fully linked version of this column will be published at monbiot.com

Juncker’s Parliamentary headache


Juncker’s Parliamentary headache
With Martin Schulz leaving Brussels, the Commission suddenly faces stronger headwinds to get its agenda adopted.

By MAÏA DE LA BAUME AND BJARKE SMITH-MEYER 11/30/16, 5:15 AM CET Updated 11/30/16, 8:17 AM CET

Martin Schulz’s decision to quit the European Parliament and take his talents to Berlin last week provoked breathless speculation about his political future in Germany and that of his Socialist group without him in Brussels.

There is, however, one real world impact of Schulz’s departure in January: It is going to make the Parliament a huge pain where it hurts for the European Commission and its president, Jean-Claude Juncker.

Though on paper a conservative who belongs to the European People’s Party, Juncker has made no secret of the importance of his bromance with the departing parliamentary chieftain from the other side of the aisle.

Their partnership the past two years has smoothed the passage of big pieces of the Commission’s governing agenda, from a multi-billion euro infrastructure plan to cellular roaming cost cuts. “Martin Schulz was a facilitator,” said Jean Arthuis, a French member of the liberal ALDE group and the chairman of the Parliament’s budgetary control committee. “He would often get in touch with Commission people, and tell them in a very efficient way what the Parliament expected from them.”

Schulz delivers a speech to announce he will step down from his office and return to national politics next year, on November 24, 2016 in Brussels | Emmanuel Dunand/AFP via Getty Images
Schulz delivers a speech to announce he will step down from his office and return to national politics next year, on November 24, 2016 in Brussels | Emmanuel Dunand/AFP via Getty Images
With Schulz gone and likely a conservative or economic liberal in his presidential seat, the Parliament becomes a less predictable and friendly place for Juncker’s agenda, even if that may seem improbable at first glance.

Parliament sources say Schulz often pressured MEPs from his own group, the center-left Progressive Alliance of Socialists and Democrats (S&D), and the conservative European People’s Party (EPP) to agree to deals made with the Commission chief.

“It was just a very practical and effective way to get things done,” said Markus Ferber, a German member of the EPP, which is in opposition to Schulz. “Unlike in the last term, there is no natural other coalition. Neither a center-right coalition around EPP, [European Conservatives and Reformists] and ALDE nor a center-left coalition around S&D, Greens and [Confederal Group of the European United Left] are big enough to safely get things done.”

Absent that Germanic discipline, and smarting over the loss of their only top job atop a European institution, S&D are expected to revert to a different form: fractious, uncooperative and hostile to the priorities of a Commission in the hands of a rival from the EPP.

“Schulz could easily weigh in with those MEPs … in the S&D,” said an EPP official. “He could easily reach out to them and reason with them. Who is going to do this now?”

“Relations between the parliament and the Commission have never been as harmonious as during the first two years of this commission” — Jean-Claude Juncker
Juncker already sounded a wistful note in an interview over the weekend with Belgium’s La Libre Belgique: “I have developed with [Schulz], and thus with the European parliament, a relation based on collaboration, cooperation, and complicity,” he said. “Relations between the parliament and the Commission have never been as harmonious as during the first two years of this commission.”

On Monday, Margaritis Schinas, the Commission’s spokesperson, told reporters that Juncker hoped the new president of the European Parliament would be “a European who will be as convincing and determined as Martin Schulz was.”

Juncker’s program, minus Martin

Only halfway through his term, Juncker’s Commission has a long list of proposals to push through the EU machinery. Parliament’s Conference of Presidents, which includes leaders from all of its political party groups, in November adopted a list of priorities for 2017 drafted by Schulz, Juncker and Slovak Prime Minister Robert Fico, whose country holds the rotating presidency of the EU, to fast-track into law, including eurozone budget reform, tougher gun restrictions and enhanced workers’ rights.

Many of Juncker’s flagship proposals from the first half of his term were developed with Schulz, particularly the European Fund for Strategic Investment (EFSI), a €315 billion plan to boost investments in the EU, as well as the Passenger Name Record, or PNR, which obliges airlines to hand EU countries their passengers’ data.

The next battles will be tougher. On the investment fund, there’s growing resistance to Juncker’s proposal to double the EFSI’s size. “If you take better regulation seriously, you should make a thorough evaluation before extending a tool such as the EFSI,” said Ferber, alluding to Juncker’s “Better Regulation Agenda”.

Schulz and his cabinet have held weekly meetings with the Economic and Monetary Affairs Committee hierarchy to keep it up to date on negotiations with the Commission. In June, the Parliament approved the fund’s rules by 464 votes to 131 with 19 abstentions. “From the start, [EFSI talks] mainly went through Juncker and Schulz,” said Dutch Socialist Paul Tang. “Now that [Schulz] is going, compromises will be more difficult than before.

“Schulz was very dominant. If Juncker wants a relationship with the Parliament, he’ll have to work for it,” Tang said, adding that Juncker will have to reach out to a wider group of people in Parliament.

Budget, data worries

On the EU budget, Schulz set up what Arthuis called “concertation meetings” with group leaders to build a broad majority and settle the budget proposals for 2014-2020. These majorities allowed him to partner with the Commission against the European Council of EU member states, which sought deeper budget cuts. Schulz’s departure from Parliament could complicate negotiations over the 2020-2026 budget.

In the wake of the Paris terrorist attacks in 2015 and the migration crisis, Schulz brought the Socialists on board, in particular, the French, behind the controversial passenger record rules. “The socialists often take a very intransigent view on data protection,” said a Parliament source.

“We had the impression that the EU was governed by a board of directors led by Juncker and Schulz” — Jean Arthuis, member of the liberal ALDE group
The next battle on data protection is the Commission’s proposed directive to set up a centralized system to exchange fingerprints of convicted felons from outside the EU, which proponents say will help in the fight against terrorism. Parliament’s Civil Liberties, Justice and Home Affairs Committee isn’t buying the argument.

“The socialists and liberals are blocking the proposal because they don’t want this fingerprints tool,” the EPP source said. “This is where Schulz could weigh in because he had a handle on these people.”

Some MEPs say they didn’t like these personal arrangements with the Commission and hope a new parliamentary leader changes the way the chamber has been run in the Schulz years.

“We had the impression that the EU was governed by a board of directors led by Juncker and Schulz,” Arthuis said. “That had brought too much resentment and not enough debate in the Parliament.”


Quentin Aries and Chris Spillane contributed reporting.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Alojamento local vs. arrendamento habitacional: perguntamos aos bairros.


Alojamento local vs. arrendamento habitacional: perguntamos aos bairros.
POR O CORVO • 29 NOVEMBRO, 2016

O número de casas de aluguer habitacional decresceu 75%, nos últimos três anos, em Lisboa. O sector do turismo volta a pedir com urgência um segundo aeroporto. O Governo tenta atalhar o problema com uma subida de impostos aos alojamentos turísticos. E onde uns vêm possibilidades, outros vêm uma perda importante na sua qualidade de vida. O Corvo foi perguntar aos moradores, associações e empresas dos bairros mais afectados (Alfama, Mouraria e Anjos) o que pensam sobre a metamorfose turística que vive Lisboa.

Nesta terça-feira (29 de novembro), terá lugar, na Reitoria da Universidade Nova de Lisboa, a apresentação do estudo “Alojamento Local em Portugal – Qual o fenómeno”. Desenvolvido pela Nova School of Business and Economics e pela Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa, a apresentação contará com a participação da Secretária de Estado de Turismo, Ana Mendes Godinho, de Vítor Neves e Carlos Santos, professores em ambas as faculdades respectivamente, e será apresentada por Raúl Martins, presidente da Associação de Hotelaria de Portugal.

Antes de se conhecerem as conclusões do estudo – uma tentativa de fazer uma análise académica da conflituosa convivência entre o alojamento local e o arrendamento habitacional -, O Corvo quis saber qual a opinião de diferentes agentes e figuras do tecido social da cidade que desde há anos trabalham nos bairros, e por isso conhecem melhor o problema. No centro do debate político estão os moradores, as associações e as empresas das zonas mais afectadas pelas mudanças vertiginosas que a zona central da capital tem vindo a sofrer.

“Há vários anos que a perda das actividades económicas, o encerramento de serviços públicos, a perda de transportes públicos e do comércio tradicional fazem com que Alfama esteja a mudar, mas não para melhor. Porque também está a perder população e não há política de habitação para trazer gente nova ao bairro”, considera Maria de Lurdes, uma das dirigentes da Associação do Património e População de Alfama.

De facto, se, em 2011, Lisboa teve o seu primeiro aumento da população desde 1960 (período em que, dos 801.155 habitantes na década de 60, passou para 489.562 em 2008, isto é, uma diminunição de cerca de 40% da população), os números voltam a baixar pouco tempo depois. De 547.631 habitantes em 2011, desceu-se para 516.815 em 2014, segundo dados do Anuário Estatístico do Instituto Nacional de Estatística.

Segundo a Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP), o número de casas para aluguer de longa duração caiu em 30% nos últimos cinco anos, afectando sobretudo duas cidades: Porto e, claro, Lisboa, que viram a sua oferta de aluguer de casas habitacionais reduzida em 85 e 75%, respectivamente.

Para Maria de Lurdes, o problema é evidente. “O alojamento local em demasia faz mal a Alfama ou a qualquer bairro de Lisboa (…). Não se pode recuperar um bairro só com o pensamento para o turismo”, afirma.

A mediadora imobiliária Matriz Alfacinha, empresa com mais de 30 anos de experiência na capital, oferece-nos um perfil narrativo da problemática. Segundo a sua gerente, Ana Raimundo, a agência “desde há muito que previa tempos difíceis para o arrendamento habitacional”. “A procura foi, desde sempre, superior à oferta. Existiram sempre pessoas que procuravam o arrendamento à aquisição, e, por sua vez, os proprietários, ou porque a legislação não era favorável ou porque o património se encontrava degradado, acabavam por preferir manter os imóveis fechados. Com a facilidade em recorrer-se ao crédito”, afirma Ana Raimundo, “as pessoas acabavam por comprar casa na periferia, nos chamados dormitórios”.

Na verdade, são muitos os que, tal como Maria de Lurdes e Ana Raimundo, assinalam como evento decisivo para o mercado a mudança ocorrida na atitude legislativa, que conseguiu inverter a tendência, após anos e anos de decréscimo da população em Lisboa. Ainda que, naturalmente, a conjectura internacional, sobretudo desde o ponto de vista económico, tenha acompanhado o fluxo interno, empurrando Lisboa para a sua actual situação.

“Eis que chega a crise”, continua Maria de Lurdes, “e os bancos deixam de emprestar dinheiro (…) e o arrendamento quase supera a tendência da aquisição. A Lei do Arrendamento ficou mais favorável aos proprietários”, ao passo que “as políticas penalizam todos aqueles que mantêm as casas fechadas (…), eis o investimento estrangeiro, os chineses (Vistos Gold), os franceses (benefícios fiscais), os brasileiros…Destinos turísticos mais económicos, tais como a Grécia e a Turquia, deixam de ser tão apelativos e Lisboa fica na moda”.

A turistificação acaba por abraçar, de forma recíproca, muitos outros espaços profissionais e sociais que, há apenas alguns meses, permaneciam bastante afastados da realidade do turismo. Os que não querem, não podem ou não necessitam de embarcar nesta moda de possibilidades caídas em cascata desde o sector turístico vêem, na realidade, poucas vantagens na nova situação. “A população envelhecida destes bairros”, continua Raimundo, “é convidada a sair a troco de uma “bela proposta”. Alguns “resistem, mas depressa se arrependem. O bairro já não é o mesmo, as pessoas são diferentes todos os dias, falam uma língua que eles não entendem, há barulhos, muito lixo”.

Em relação à subida tributária sobre o alojamento local, aprovada recentemente pelo Governo, e taxada entre 15 e os 35%, deixando o arrendamento habitacional nos 28% – ambos aplicados sobre o total anual das rendas obtidas -, Ana Raimundo pergunta “se esta medida será a mais correcta”. “Muitos poderão optar pela evasão fiscal, outros poderão vir a desistir do negócio. Os investidores poderão procurar outros rumos, mas a oferta dos grandes grupos manter-se-á, desde que continuem a haver turistas”, diz.

Outro dos bairros cuja transformação – a que já se deu e a que está para vir – está a dar muito que falar é o multicultural bairro da Mouraria. A Associação Renovar a Mouraria (ARM) tem, contudo, uma visão positiva sobre o que está a acontecer no bairro, e também na cidade. Inês Andrade, cofundadora e responsável do departamento de cultura e comunicação da ARM, assegura ao Corvo que, inicialmente, o “processo de reabilitação integrado vivido pelo bairro da Mouraria, que contemplou diferentes níveis de reabilitação e intervenção social e cultural, permitiu a melhoria das condições de vida dos moradores e trabalhadores, tendo sido criadas dinâmicas que estimularam a criação de emprego e de novos negócios”.

Apesar de Inês Andrade reconhecer que, “neste momento, vivemos o perigo da especulação imobiliária, com o despejo de muitas famílias e um brutal aumento das rendas”, visto pela ARM com “grande preocupação”, também diz ter fé no “bom senso e no sentido de responsabilidade por parte das entidades responsáveis, para que sejam tomadas medidas urgentes”. Neste sentido, Andrade afirma que “é necessário que sejam definidas quotas para os diferentes tipos de alojamento”. “Seria também importante que existissem benefícios para os proprietários que optassem pelo alojamento permanente, para estimular esta opção”, opina.

De facto, apenas um ano após a fundação da ARM, em 2008, a Câmara Municipal de Lisboa promovia o Programa de Acção da Mouraria, que em três anos implicaria um investimento de 7,5 milhões de euros para “operações de valorização dos aspectos positivos do território, designadamente, os seus patrimónios material e imaterial, a sua diversidade económica, social e cultural”.

No entanto, há poucos meses, o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Miguel Coelho (PS), afirmava que “aquilo que está a acontecer no Bairro Alto e no Cais do Sodré também começa a acontecer em Alfama e na Mouraria”, e concluía que a sua freguesia “está a perder população a um ritmo acelerado”.

Na mesma linha de pensamento de Inês Andrade, expressa-se José Carvalho, presidente da direcção da Associação Recreativa Taberna das Almas, que desenvolve actividades culturais e artísticas e de valorização urbana, a partir da sua sede no coração de Anjos. Segundo ele, “toda esta zona, que era bastante degradada e envelhecida, tem beneficiado desse mesmo boom e está hoje com a cara lavada, embora com algumas olheiras”.

“Há sempre quem se queixe”, continua Carvalho, “mas o que está em causa são comodidades que, se uma cidade ou país aposta nesta indústria turística, tem de se preparar para novidades. Friso o bom senso para crescer sustentadamente e (Lisboa) não se tornar uma Veneza, em que os turistas se vêm ver uns aos outros e comer hamburgueres”.

Repitam comigo: Fidel era um di-ta-dor


Repitam comigo: Fidel era um di-ta-dor
Porque não começar também a elogiar Salazar ou Pinochet, que mataram menos gente e deixaram os seus países mais desenvolvidos?

29 de Novembro de 2016, 7:00

A falta de amor que este país tem à liberdade nunca cessará de me espantar. Foram demasiados os obituários e os comentários a propósito da morte de Fidel Castro que me fizeram ter vergonha do país em que vivo. Do PCP, a este respeito, ninguém espera nada. Mas receber uma newsletter da revista Visão com o título “Hasta Siempre Comandante Fidel”, certamente escrita – vamos ser optimistas – com a inconsciência própria de quem olha para Cuba como uma photo opportunity, com os seus carros anos 50, as cores garridas e os charutos, não cabe na cabeça de ninguém. Cuba não é uma conta de Instagram. Cuba é uma ditadura. Defender Fidel, romantizar Fidel, mitificar Fidel, é defender, romantizar e mitificar um ditador, que condenou milhares de pessoas à morte directa por fuzilamento e à morte indirecta por afogamento no Estreito da Flórida.

Não há meio-termo nisto. Essa conversa de que “a História o há-de julgar”, ou de que “para uns morreu um ditador, para outros um herói”, só pode dar a volta a qualquer estômago democrático. Desde quando é que Fidel Castro ser um ditador passou a questão de opinião? Fidel Castro só deixará de ser um ditador quando a definição de ditadura for alterada nos dicionários. Cuba é um regime onde todos os poderes do Estado estão concentrados num partido; esse partido não admite a oposição livre às suas ideias – “pela Revolução, tudo; contra a Revolução, nada!” –; o partido e o seu presidente possuem poder e autoridade absolutos; não existe democracia; a liberdade de circulação é limitada; existem presos políticos e houve pelotões de fuzilamento que trataram de eliminar qualquer resquício de resistência nos anos quentes da revolução. Che Guevara admitiu-o na ONU, em 1964 (há imagens): “Sim, fuzilámos, e continuaremos a fuzilar enquanto for necessário.” Se isto não é uma ditadura, é o quê?

A gente já sabe que um ditador de direita é um fascista, enquanto um ditador de esquerda é um revolucionário bem-intencionado a quem as coisas correram mal. Mas, pelo menos, digam a palavra: di-ta-dor. Com certeza que Fidel Castro pode ser considerado um ditador heróico pelos seus admiradores, e encaixar na categoria do déspota iluminado. Mas digam o raio da palavra: di-ta-dor. E admitam que estão a defender um di-ta-dor. Aquilo que não se suporta são os textos sonsos, como aquele que Francisco Louçã escreveu neste jornal, afirmando que “Fidel sai da vida como um vencedor”. Sim, Louçã admite que o senhor “manteve um regime de partido único”. Mas depois lá vem o velho “mas”, que tudo suaviza, tudo compreende, tudo desculpa: “mas”, diz Louçã, “ao contrário da história trágica da URSS, permitiu e até estimulou formas de diversidade cultural”, como os “livros de Leonardo Padura”. Bravo! Eis uma frase que poderia ser aplicada, sem tirar nem pôr, a Oliveira Salazar, ou não fosse o neorrealismo o movimento literário mais marcante do Estado Novo. Porque não começar também a elogiar Salazar ou Pinochet, que mataram menos gente e deixaram os seus países mais desenvolvidos?


Um ditador é um ditador é um ditador é um ditador. Só que Louçã nunca usa a palavra no seu texto. Tal como nunca usa uma outra: liberdade. Lamento: qualquer pessoa que defenda Fidel e o seu legado é uma pessoa capaz, em certas circunstâncias, de desprezar a democracia. Serem tantos a fazê-lo, no Portugal de 2016, é uma tristeza enorme. Mas não desesperemos. Fidel morreu a 25 de Novembro, o que só pode ser visto como um sinal dos céus.

How François Fillon plans to knock out Marine Le Pen / The Guardian view on France: Fillon v Le Pen is the wrong contest


The Guardian view on France: Fillon v Le Pen is the wrong contest

Editorial
The shift to the right in western democracies is undeniable. The left shares the blame, in France as elsewhere

Monday 28 November 2016 19.20 GMT

Across the western democracies, the centre of political gravity shifts erratically but inexorably to the right. Britain’s Brexit vote caused a tilt to the right in Theresa May’s cabinet and has been followed by the election of Donald Trump and a Republican Congress in America. This weekend, Austrians may elect a far-right president, while the centre-left Italian government could fall after this Sunday’s constitutional referendum. In France, meanwhile, the centre-right Republican party has now selected the more conservative contender François Fillon as its presidential candidate in the 2017 contest that could end as a head-to-head with the far-right Front National’s Marine Le Pen.

It is a mistake to treat these developments as simply interchangeable. Every country has its own local political dynamics. Mr Fillon, for example, is routinely depicted as an admirer of Margaret Thatcher – a charge that will be trumpeted by opponents between now and April. But his focus on France’s Catholic roots puts him in a long tradition of French conservatism which has no real equivalent in Britain. His politics are not the same as those of Mrs May, who is again sharply different from Mr Trump. The new Ukip leader Paul Nuttall, who took over from Nigel Farage today, is not Britain’s Ms Le Pen either.

Nevertheless, these developments across the western world have significant ingredients in common and reflect an overlapping mood among western voters. These include job insecurity in the face of globalisation, hostility to migration, anger against urban elites, fear of terrorism, and in some cases a more indulgent stance towards Vladimir Putin’s Russia. Mr Fillon, moreover, has rocketed into frontrunner status to be France’s next president without the media seeing him coming – another echo of the collective misreadings that marked both the referendum vote for Brexit and the Trump election win.

Mr Fillon’s rise sends a particularly resonant further signal. He spent the past three years touring France to listen to rightwing voters’ concerns. He then harnessed this experience to a hardline campaign for a strict minimum level of immigration, the restoration of Catholic conservative values, an overhaul of labour laws and a big cut in public sector jobs. The result was that Mr Fillon swept to an overwhelming two-to-one victory over his chief rival, the more moderate Alain Juppé, defeating him in 92 of France’s 95 departments. Both men are former prime ministers, but it was Mr Juppé, not Mr Fillon, who was seen by voters as campaigning from within an establishment bubble. The loser’s promises to “placate and reform” and promising a “happy identity” found few takers in a French nation that has failed to unify convincingly against either economic decline or radical terror.

The ability of the centre-right to respond to and shape the world as it is evolving in 2016 contrasts with the inability of the centre-left to make matching responses. This failure is also simultaneously particular to individual countries and shared across borders. France’s left politics provide a textbook example. With occasional exceptions, like Canada and Portugal, the centre-left has struggled to win recent elections on both sides of the Atlantic. France’s left suffers from being part of that more general international difficulty to articulate an alternative that catches the popular mood and from being a particularly acute local example of that failure.

France’s socialists have little time to solve their problems before planned primaries in January. But the signs are not good. François Hollande has been neither a radical reformer nor a leftwing traditionalist. He has been indecisive and is increasingly the despair of both wings of his movement. He is now the least popular president since the fifth republic was formed. Polling suggests he will fail to get through the first round of the two-stage presidential election if he runs for a second term.

Already, a spread of alternative candidates is emerging, from Jean-Luc Mélenchon to the left of the socialists to Emmanuel Macron in the centre. At the weekend, prime minister Manuel Valls hinted at a run too. Mr Hollande may decide, even so, that Mr Fillon’s success opens a space in which his own chances may improve. Yet any of them will struggle to unify a majority now. The danger is that the fragmentation and incoherence on the left are too deep. Yet without a credible candidate on the left, French voters will face a baleful choice between the mainstream right and the far right. That’s a problem for France above all, but it reflects a much wider failure too.

How François Fillon plans to knock out Marine Le Pen
His camp plans to expose National Front leader as a ‘false conservative’ and go after her blue-collar voters.

By NICHOLAS VINOCUR 11/29/16, 5:23 AM CET Updated 11/29/16, 8:25 AM CET

PARIS — With former Prime Minister François Fillon on his way to the French presidential election next year, his staff is turning to the next big obstacle in their path: far-right leader Marine Le Pen.

Polls show Le Pen, the head of the National Front, breaking through to the presidential election’s runoff round, setting the stage for a clash between the two.

Fillon staffers have yet to lay out a detailed plan for how to deal with Le Pen, but several campaign staffers told POLITICO they are already strategizing about the battle to come. The broad outlines of their plan: expose Le Pen as a “false conservative,” go after her blue-collar voters and remind the world of her lack of executive experience.

“In the next few months, we are going to continue to campaign on our values and tell the truth about the economy,” said Serge Grouard, a center-right MP and Fillon backer. “We’re confident that voters will make the choice of realism, instead of the escapism being served by the Front.”

To be sure, the path to the presidency for Fillon is long and winding. Over the next six months, the conservative flag-bearer will need to broaden his message to centrist voters while also fending off attacks from the Left, which holds its own primary in January.

Jean-Luc Mélenchon, a hard-left presidential candidate, and whoever the center-left designates as its candidate, as well as the National Front are all sure to accuse Fillon of trying to dismantle France’s cherished welfare state while giving tax breaks to companies. Despite the unpopularity on the Left of his plans to lay off as many as 500,000 civil servants and scrap the 35-hour work week, his camp is confident that his underlying message of tough-love reform and social conservatism will carry him to the election’s final round.

And they see a variety of ways of shrinking the appeal of the National Front, whose presence in the election’s final round Fillon has said is “not determined by fate.”

The ‘Right’ Choice

For Fillon’s camp, one way to knock the National Front off balance will be to challenge its political identity.

Their own candidate won more than 60 percent of the vote against a more moderate candidate by focusing on social values, winning the support of Catholic groups and projecting exactly who he is: an economic liberal and social conservative who, at the end of the day, is indisputably right-wing.

Le Pen, by contrast, is full of ambiguities. Is she a right-winger who happens to have sympathy for left-wing ideas? Or is she a socialist who happens to hate immigration and the European Union?

The National Front leader will have no good answers to such questions for a simple reason: Le Pen’s pitch to voters that she is merely a patriot beyond Left and Right marks her out as an opportunist who has exposed herself to attacks as a “rootless sovereignist,” Fillon’s camp said.

“Voters often choose Le Pen because there is no clear conservative candidate available to them,” said Grouard. “We’re going to give them a candidate with clear views who tells the truth about the economy.”

Fillon, 62, has also promised a crackdown on immigration and has taken a tough rhetorical stance on Islam, promising a closer relationship with Moscow in order to destroy what he has called “totalitarian” Islamists. An avowed Catholic, he is against abortion, gay marriage and surrogacy.

Such positions helped Fillon win the support of a Catholic current of the Républicains party named “Sens Commun,” which organized between 400 and 500 meetings for him. Over the next six months, Sens Commun plans to broaden and deepen its efforts in favor of Fillon.

When it comes to traditional conservative voters, Fillon currently holds an advantage.

By contrast, Le Pen’s camp believes that economic arguments, based on disenchantment with the EU, will continue to resonate widely. Coupled with the party’s tough attitude on immigration, the National Front still sees itself riding to power in 2017 on a similar wave to the one that carried Donald Trump to victory in the U.S. presidential election.

But there is no denying that when it comes to traditional conservative voters, Fillon currently holds an advantage.

While Le Pen also wants gay marriage repealed, she never attended the “Manif Pour Tous” rallies meant to topple the bill. As National Front president, she is more comfortable discussing economic issues or the European Union than religion or identity. The choice reflects the thinking of her vice president, Florian Philippot, who is the architect of the National Front’s anti-euro agenda and has repeatedly pushed back against attempts, from other cadres, to make the party’s platform more traditionally right-wing on societal matters.

None of this has won her many friends among Catholics, who voted massively for Fillon on Sunday.

Marine’s niece, Marion Maréchal-Le Pen, is more favored by Catholic conservatives. But the 26-year-old is not running for president, and her influence within the National Front appears to be waning, possibly by choice. This week, Marion called Fillon a “dangerous” candidate for the Front, while Marine said she would be happy to face him in a runoff round.

Working class hero

Another pillar of the anti-Le Pen strategy will be to puncture her claim to be the choice of the little guy — the working class voter, the farmer and the young unemployed.

Hours after Fillon’s victory Sunday, Philippot went on television to assail Fillon as a cold-hearted agent of capitalism, saying his plans to lay off 500,000 civil sector workers would “bleed” France. His calls for reform of labor rules were further “austerity” directed from Brussels and embrace of the EU was proof of his “savage globalism,” Philippot said.

“The candidate of uncontrolled globalization has a name: François Fillon,” Philippot told BFMTV. “His program is rather medieval in nature: he wants to bleed France to make it better, even though we know this doesn’t work very well.”

But Fillon’s camp argue they can siphon off Le Pen’s working class votes. They point to exceptionally strong performances in some economically depressed areas where the National Front usually does well as proof that Le Pen does not have a lock on “Trump-like” voters. In the northern Pas-de-Calais area where Marine Le Pen tried, and failed, to win a regional presidency last December, Fillon won 73.1 percent of the vote. Along the eastern border with Germany, where Philippot’s MEP constituency is based, Fillon clocked more than 70 percent of the vote in some places.

Even in the south, where ardor for the FN is strongest, Fillon got huge wins. He scooped up 74.1 percent of the vote in the Vaucluse department, where Marion-Maréchal-Le Pen is an MP, and 74.4 percent in the only other region where the party has an MP, the Gard.

Of course the centrist and conservative primary, which drew around 4 million voters, is no model for the general election in which more than 40 million are expected to vote. But Fillon’s side argues that the primary does offer some lessons. One is that National Front voters — thousands of whom voted for Fillon in the both rounds of the primary — can and will be stolen.

“Fillon is not going to leave Marine Le Pen with a monopoly on working class voters,” said another Fillon aide who asked not to be named. “These are very smart, very hardworking people. They can tell the difference between economic realism and nonsense. Given the choice, they will make the right decision.”

To win over more blue-collar support, Fillon is going to hammer home plans to raise employment, boost vocational training and increase the number of apprenticeships, the aide added.

Steady hands

Finally, there is the question of executive experience. Philippot and other National Front officials have tried to paint Fillon’s four decades as part of the establishment as a problem, arguing that he is no different than former President Nicolas Sarkozy. But while Fillon did spend five years of a notoriously obedient term as Sarkozy’s prime minister, conservative rival Alain Juppé tried to paint Fillon with that brush during the primaries to no effect.

On the contrary, Fillon’s experience in office was consistently cited as an advantage by poll respondents. In surveys of viewers after TV debates, Fillon consistently rated highly on “competence” and “economics.”

With that in mind, Fillon’s campaign is likely to highlight the difference between their candidate and Le Pen, who has run no larger organization than her political party.


“When it comes to running a country’s economy, to making decisions on foreign policy crises, to steering the boat — you want someone who knows what they are doing,” said Grouard.