segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Merkel, Hollande, Renzi: Symbolism, but no substance / O périplo de Merkel TERESA DE SOUSA / Germany warns UK ‘you can’t keep the nice things’ after Brexit


O périplo de Merkel
TERESA DE SOUSA 28/08/2016 – PÚBLICO

A chanceler aprendeu que os desafios que vai encontrar se quiser um quarto mandato são muito mais difíceis do que simplesmente impor disciplina financeira aos países do Sul da Europa.

1. Não vale a pena preocuparmo-nos muito com o novo “directório” que se apresentou na semana passada no deck de um porta-aviões italiano. Matteo Renzi convidou Angela Merkel e François Hollande para uma “minicimeira informal” com a intenção de mostrar que existe Europa para lá do Brexit e que a Itália está preparada para desempenhar o seu papel de “grande” europeu, deixado vago pelo Reino Unido. O líder italiano escolheu cuidadosamente o cenário. Primeiro, a pequena ilha rochosa onde estiveram presos durante a II Guerra alguns resistentes italianos que, talvez por isso mesmo, imaginaram a melhor forma de acabar com as trágicas “guerras civis” europeias, entre os quais Altiero Spinelli. Mas também um dos dois porta-aviões italianos, o Garibaldi, usado como símbolo de uma Europa que quer pôr a segurança no topo da sua agenda política. O porta-aviões italiano teve um papel muito importante como âncora das operações de salvamento da Marinha italiana (e posteriormente europeia) nos últimos anos, uma missão que Roma cumpriu exemplarmente, mesmo quando não era apoiada por ninguém. Não significa, no entanto, que os três líderes tenham qualquer plano para uma defesa europeia no sentido hard da palavra. Berlim e Paris estão completamente em desacordo sobre a matéria, mesmo que a chanceler tenha percebido que o seu país vai ter de fazer muito mais nessa dimensão. A questão é de enquadramento: na NATO ou fora da NATO. Não se espera que, nas actuais circunstâncias, a chanceler tenha qualquer vontade de afectar a aliança transatlântica. A Itália sempre foi uma base sólida da presença dos Estados Unidos. Hollande, depois de ser ter afirmado como um aliado fiel de Obama no Mediterrâneo e no Médio Oriente, entrou na fase do vale tudo para ganhar votos, voltando a tocar a melodia do antiamericanismo de que os franceses tanto gostam, animado pela saída do cavalo de Tróia britânico. Entre os porta-aviões, os refugiados, o terrorismo e as preocupações de Renzi com o crescimento da economia, não há grande substância no resultado desta minicimeira. Renzi joga o seu futuro (e o do seu país) num referendo no Outono para aprovar uma reforma constitucional essencial para desbloquear o sistema político italiano, acabando com um regime parlamentar em que a Câmara Baixa e o Senado têm praticamente as mesmas funções e os mesmos poderes, transformando qualquer decisão legislativa num verdadeiro inferno. Na conferência de imprensa a bordo do Garibaldi, a promessa de “mais Europa” ou “mais integração” (Merkel prefere dizer prudentemente “melhor”) já foi levada pelo vento. Basta pensar que hoje, na maioria dos países europeus, a vontade de mais integração é mais ou menos nula.

2. Para Merkel, este encontro foi apenas um dos muitos que está a realizar com os seus parceiros europeus de forma a tentar minorar da melhor forma possível os danos políticos, económicos e estratégicos que o Brexit traz à Europa e encontrar um caminho aceitável para o futuro. Já esteve com os parceiros de Leste; está neste fim-de-semana com os parceiros do Norte (Finlândia, Holanda, Suécia e Dinamarca) onde as preocupações são outras. A neutralidade da Suécia e da Finlândia já deixou de fazer sentido porque desapareceu um dos blocos em confronto, mas ainda está muito enraizada na população dos dois países, desaconselhando uma entrada imediata para a NATO. O problema é que a Rússia, com a qual a Finlândia tem uma longa fronteira, se transformou numa ameaça imprevisível. Seria mais fácil para os dois países uma “defesa europeia” separada da NATO e dos EUA? Dificilmente. Basta olhar para Helsínquia onde o Governo decidiu negociar um tratado de defesa com os Estados Unidos, que quer concluir antes de Obama sair da Casa Branca. O ministro da Defesa (porventura para não dar pretextos a Moscovo) esclareceu que não há nesse tratado um Artigo 5.º ao estilo da Aliança. Mas não é preciso pensar muito para perceber que os finlandeses estão a jogar pelo seguro. A invasão da Ucrânia alterou profundamente a situação de segurança europeia. Putin criou um conflito que não tenciona resolver. Congela-o ou descongela-o de acordo com a sua nova estratégia de intimidação.

3. Voltando a Merkel, a sua agenda europeia é vasta. Está preocupada com o novo governo polaco, que regressou a uma linguagem virulenta contra a Rússia, mas lhe acrescentou uma linguagem muito pouco amiga da Alemanha. A chanceler passou muito tempo a tentar estabelecer uma boa relação com a Polónia, que agora teme ver destruída. Na Hungria, a Europa está confrontada com um problema ainda mais complexo: Viktor Órban (um pró-ocidental e thatcherista convicto quando da queda do Muro) está a construir aquilo que ele próprio designa por “democracia iliberal” (ou seja, sem imprensa livre e sem tribunais independentes) e a fazer de Putin um novo amigo, como de resto fazem os movimentos nacionalistas que grassam na Europa Ocidental. A tudo isto soma-se uma crise dos refugiados ainda muito longe de estar resolvida, em que a Europa se dividiu profundamente e em que Merkel (com a Itália, Grécia, Suécia e Portugal) tomou uma posição corajosa e generosa, muito impopular no seu país, mas cujas fundamentos ainda não rejeitou.

Agora, a sua maior preocupação é o Brexit, que, ao contrário de outros grandes países, ela leva muito a sério. Ainda ontem o Financial Times chamava a atenção para as suas palavras em Varsóvia, avisando que o Brexit “não é apena um acontecimento qualquer”. “É uma quebra profunda na História da integração europeia e, por isso, é necessário encontrar uma resposta cuidadosa”. Mais uma vez, não tem "a culpa" de conseguir olhar para o Brexit de um ponto de vista estratégico. Amainou a pressa de alguns governos (o francês à cabeça) para iniciar negociações. Disse uma coisa óbvia mas que só ela é que diz: que o Reino Unido vai ter de manter uma ligação especial com a União. Ou seja, não estamos a falar da Noruega, do Liechtenstein ou da Suíça. Fá-lo por interesse próprio, evidentemente. O mercado britânico é um dos principais destinos das exportações alemãs topo de gama. Mas também porque a posição da Alemanha numa Europa sem o Reino Unido é mais facilmente sentida como excessiva. A chanceler aprendeu nos últimos tempos que os desafios que vai encontrar se quiser um quarto mandato são muito mais difíceis do que simplesmente impor disciplina financeira aos países do Sul da Europa. E também sabe que não pode contar muito com Hollande, que já só tem um pensamento: passar à segunda volta nas presidenciais de Abril. A triste história do burkini é apenas um sintoma de total desorientação dos socialistas e do seu Governo e uma lamentável tentativa de se mostrar tão firme como a direita contra a comunidade muçulmana, num ambiente em que o terrorismo alimenta toda a espécie de medos. Se isto já é mau, as presidenciais de 2017 demonstram que a França não consegue renovar-se politicamente. O regresso de Sarkozy à ribalta ou a emergência dos dois mesmíssimos candidatos da esquerda radical de há cinco ano, Arnauld de Montebourg e Jean-Luc Mélenchon, mostra que a renovação da esquerda francesa (e também da direita) não está para já. Esperemos por Bratislava mas não esperemos grandes visões.

Jornalista

Merkel, Hollande, Renzi: Symbolism, but no substance

Leaders take to deck of aircraft carrier to declare that everything will be fine, post-Brexit.

By
Matthew Karnitschnig and Jacopo Barigazzi
8/22/16, 10:55 PM CET
Updated 8/22/16, 10:56 PM CET

BERLIN — Faced with a fall political season clouded by the specter of Brexit, terrorism and shaky financial markets, leaders of the EU’s dominant powers declared their resolve to revive the flagging fortunes of a Continent unnerved by a seemingly endless streak of crises — but offered few clues about how they would do so.

Standing in the afternoon sun on the deck of an Italian aircraft carrier, Europe’s new club of three — Germany’s Angela Merkel, France’s François Hollande and Italy’s Matteo Renzi — invoked Europe’s past glories as they promised better times ahead.

“Many thought after the Brexit decision that Europe was finished. That is not the case,” Renzi, flanked by his two colleagues, said. “We will write the next page of our future.”

For now, it remains blank.

Monday’s meeting was billed as a “consultation” ahead of an informal summit of 27 EU members in Bratislava next month to discuss a post-Brexit Europe. Germany, sensitive to criticism from smaller countries who complain of its dominance, has stressed the importance of including all member countries in the debate. But Berlin would also like to have a broad consensus on the key points with Paris and Rome before the summit.
German Chancellor Angela Merkel, French President Francois Hollande and Italian Prime Minister Matteo Renzi pay their respects at the tomb of Altiero Spinelli | Carlo Hermann/AFP/Getty Images

German Chancellor Angela Merkel, French President Francois Hollande and Italian Prime Minister Matteo Renzi pay their respects at the tomb of Altiero Spinelli | Carlo Hermann/AFP/Getty Images

Like the meeting the trio held in Berlin just days after the Brexit vote in June, Monday’s gathering offered more symbolism than substance. The leaders offered no specifics on their strategy for dealing with the Brexit negotiations, nor did they present new economic proposals or other plans.

The naval backdrop may have been unconventional for a discussion of the future of Europe, where displays of military might are often viewed with suspicion. Yet the choreography was no accident. The Italian aircraft carrier, Giuseppe Garibaldi, has played a central role in the EU effort to combat human smuggling in the Mediterranean.

Renzi rejected the suggestion there could be a fresh parliamentary election immediately after Italians vote


More important, looming behind the leaders as they spoke was Ventotene, a speck of rock off Naples where in 1941 a group of antifascist prisoners led by Altiero Spinelli, considered one of the EU’s visionaries, secretly penned a manifesto calling for a federal Europe.

Renzi, who faces a referendum on constitutional reform in October that could determine his political future, was keen to show his home audience that he is taken seriously in Europe and that he has restored Italy’s position of influence within the EU after the tumultuous Berlusconi era.

Merkel, eager to forestall the rise of Italy’s anti-EU 5Star movement, appeared more than happy to pose for the cameras and offer platitudes on European unity.

“We paid tribute to the roots of the European Union today and made clear with the laying of flowers on Altiero Spinelli’s grave that we understand where this EU comes from and that it was born in Europe’s darkest hour,” Merkel said. “We also know that it is our mission in the 21st century to guarantee people security while also living Europe’s values.”

In the wake of the recent terrorist attacks in Germany and France, security appeared to be the area where the three found the most common ground. They repeated the need for closer coordination within the EU on border protection and intelligence sharing to combat both terror and the smuggling of migrants into the bloc.

Beneath the flowery rhetoric, however, fundamental differences on Europe’s course remain between the three. France and Italy continue to push for more public investment to jumpstart their economies, a course that would require laxer fiscal controls. Germany, Europe’s fiscal scourge, emphasizes the need for improving members’ competitiveness, code for the kind of austerity many economists blame for region’s prolonged economic malaise.

With the French election set for next spring and Germany’s in the fall of 2017, the differences between the three capitals over how to reform Europe, and particularly the eurozone, are unlikely to be resolved anytime soon.

Authors:

Matthew Karnitschnig and

Jacopo Barigazzi


Germany warns UK ‘you can’t keep the nice things’ after Brexit

'If we organise Brexit in the wrong way, then we'll be in deep trouble'

Alexandra Sims
16 hours ago

German's economy minister has said that Britain should no be allowed to keep the "nice things" as it negotiates its departure from the European Union.

Sigmar Gabriel said that the world was watching how Britain manages Brexit and that Europe could go "down the drain" if things go badly.

"Brexit is bad but it won't hurt us as much economically as some fear. It's more of a psychological problem and it's a huge problem politically," Mr Gabriel said, noting that the world was now looking at Europe as an unstable continent.

"If we organise Brexit in the wrong way, then we'll be in deep trouble. So now we need to make sure that we don't allow Britain to keep the nice things, so to speak, related to Europe while taking no responsibility," he added.

His comments come amid growing tensions on the continent and in the UK.

Mr Gabriel said negotiations would be "very difficult" and that Britain would not be able to have both full access to the single market and limits on the freedom of movement of workers.

Theresa May has set her stall out as a "Brexit means Brexit" leader. A Eurosceptic who remained neutral during June's EU referendum, Ms May says her government will abide by the results of the vote and intends to open exit negotiations with EU colleagues next year.


But a meeting this Wednesday, in which ministers will discuss with the Prime Minister how to make a success of Brexit, comes in the face of opposition from civil servants and growing tensions among the senior ministers in charge of negotiations.

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