segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Da “airbnbização” de Lisboa, do Porto e de "Todo" o Portugal, por António Sérgio Rosa de Carvalho .




Da “airbnbização” de Lisboa, do Porto e de "Todo" o Portugal, 
 António Sérgio Rosa de Carvalho
 A 27 de Novembro vai entrar em vigor um novo Regulamento que define as condições de Aluguer de Alojamentos a Turistas. Quando comparado com outros Regulamentos Internacionais, este revela-se insuficiente e apresenta grandes lacunas.
Precisamente, a questão dos seus efeitos perversos no direito à Habitação Permanente nos Centros Históricos, na incapacidade de regulamentar a tendência crescente para a monopolização especulativa de habitações e consequente ocupação omnipresente de todos os espaços disponíveis para alojamento temporário, seja a Turistas ou “Expats”, é algo que preocupa as autoridades e estrategas das Cidades no Estrangeiro.
Aqui em Portugal, pelo contrário, afirma-se calmamente e de forma acrítica na Comunicação Social: “Em Portugal, não se impede que as casas estejam exclusivamente destinadas a este efeito, não se limitam períodos de estadia, não se limita o número de apartamentos que uma pessoa pode ter no mercado, não se estabelecem obrigações de prestação de serviços no apartamento, não se impõem capacidades máximas nem números de equipamentos a constar do apartamento. Um regime muito mais aberto do que em Madrid ou Barcelona ou Amesterdão, portanto.” (http://www.dinheirovivo.pt/mercados/casas/interior.aspx?content_id=4120643&page=-1 )
É precisamente neste contexto preocupante que surge a seguinte Proposta/ Convite:

UMA PROPOSTA AOS SENHORES JORNALISTAS.

Há cerca de duas semanas o jornal de referência Holandês , “Volkskrant” dedicou uma destacada reportagem ao fenómeno Airbnb e aos seus efeitos na cidade de Amsterdão.
Airbnb iniciou a sua actividade há cerca de seis anos. Tratava-se no início de um conceito simpático. Airbnb fornecia através do seu site uma plataforma para o aluguer de casas a particulares, garantindo assim uma estadia local personalizada em ambiente autêntico, numa inserção imediata no contexto de uma cidade e seus habitantes. Os preços variavam em função do nível da qualidade oferecida, mas o atractivo fundamental era poder usufruir de uma verdadeira casa de forma económica. Tudo isto se inseria no novo conceito da Economia Participativa da Troca e Partilha.
Desde logo surgiram reacções da indústria hoteleira alertando para uma concorrência desleal perante as questões fiscais e garantias de segurança dos hóspedes. No seguimento do grande êxito alcançado, ( entretanto oferta de 800.000 alojamentos com mais de metade neste número na Europa) as diversas cidades começaram a desenvolver regulamentos, não sem um grau de resistência da própria Airbnb e respectiva polémica.
Assim a reportagem foi motivada pelo facto que a filosofia inícial de cosmopolitismo e partilha foi acentuadamente corrompida pelo negócio especulativo e monopolizador. Assim surgiram verdadeiros Empresários e trocou-se o conceito privado da oferta pessoal e particular de uma casa, pela compra de prédios inteiros apenas dedicados às estadias temporárias.
Além da fuga aos impostos e da questão da garantia de segurança ( incêndios ) existe a questão da ocupação e da perda progressiva de espaços de habitação Local Permanente para os residentes e habitantes da Cidade.
O regulamento em Amsterdão estabelece que o periodo máximo de oferta de um alojamento por Ano é de 60 dias. O número máximo de hóspedes é de 4 pessoas. ( não apenas por alojamento mas por edifício ) . O alojamento tem que garantir segurança e a instalação de um sistema de prevenção e combate a incêndio é obrigatório. Os hóspedes não podem ser fonte de incómodo para a vizinhança e a envolvente. A autorização do Proprietário é necessária. Aquele que disponibiliza o alojamento para aluguer tem que pagar 5,5% como Imposto Turístico e declarar os seus rendimentos aos Impostos. ( a própria Airbnb cobra pelos seus serviços 6 a 12 % sobre a quantia paga pelo hóspede ).
Comparar com a versão Portuguesa que entra em vigor a 27 de Novembro. “Em Portugal, não se impede que as casas estejam exclusivamente destinadas a este efeito, não se limitam períodos de estadia, não se limita o número de apartamentos que uma pessoa pode ter no mercado, não se estabelecem obrigações de prestação de serviços no apartamento, não se impõem capacidades máximas nem números de equipamentos a constar do apartamento. Um regime muito mais aberto do que em Madrid ou Barcelona ou Amesterdão, portanto.” (http://www.dinheirovivo.pt/mercados/casas/interior.aspx?content_id=4120643&page=-1 )
Esta perda de espaços de habitação no Centro histórico é agravada por um grande número de oferta de residência permanente a “expats” e um intenso negócio especulativo à volta deste fenómeno, diminuindo acentuadamente a oferta residencial aos habitantes locais e inflacionando os preços de forma astronómica.
Uma das cidades onde esta tendência é mais gritante é Londres que se transformou num recreio permanente para multimilionários Russos e Árabes, exibindo de forma ostensiva a sua riqueza opulenta, enquanto que, mesmo para os Yuppies locais na herança “tatcheriana”  tornou-se impossível de habitar o Centro. Mesmo um casal, ambos com um bom emprego, tem que se adaptar  com esforço financeiro a habitar numa simples periferia, agora “gentrificada”.
Os “Yuppies” transformaram-se numa nova tribo, os “Endies” , ou seja aqueles que mesmo bem empregados não dispõem de rendimentos além do limite de sobrevivência. Se quiserem ter casa, têm que ficar diáriamente nela em frente da televisão e alimentar-se no Lidl, isto para não falar em ter filhos.
Como último exemplo Internacional, New York. Aqui o confronto entre as autoridades locais e a Airbnb foi fortíssimo. Deu artigo polémico e denunciador por parte do Procurador da Cidade no New York Times,( ERIC T. SCHNEIDERMAN APRIL 22, 2014 / New York Times)  e depois de período de resistência por parte da Airbnb que terminou em processo jurídico movido pela Cidade, a Airbnb foi obrigada a disponibilizar a lista completa/ moradas/alojamentos/clientes/empreededores e a expulsar 2.000 como não dignos de confiança.
E em Lisboa? Por falta de espaço, deixo um convite aos jornalistas para uma possível investigação/ reportagem sobre este fenómeno e os seus efeitos para a Cidade no Presente e no Futuro.
Não, sem relembrar a “estratégia”que Manuel Salgado definiu no PDM : a Baixa “nunca será um bairro residencial” e as suas propostas reduziam-se exclusivamente a “ um investimento na hotelaria, residências universitárias e alojamentos de curta e média permanência.”
Assim, deixo mais uma proposta de investigação para os senhores jornalistas. Agora que o Império BES ruiu,”pilar” Imobiliário onde Manuel Salgado sustentava o seus planos de Investimento dos Projectos para a Cidade, o que vai acontecer ?
                                                  António Sérgio Rosa de Carvalho
                                                     Historiador de Arquitectura


VER ainda :
Da “airbnbização” de "Todo" o Portugal
OVOODOCORVO /19 de Agosto 2013.

 A boa gestão do Turismo está intrísecamente e necessáriamente interligada com o Planeamento Urbanístico e Gestão do Espaço Público. Alojamentos alternativos sobem em flecha. Why Hotel Industry Lobbyists Want A Global Crac kdown On Airbnb.

Manuel Salgado elegeu a Baixa, coração estratégico da cidade de Lisboa, como palco globalizado de eventos e animação, e  área apenas e exclusivamente de residência temporária através de mais de 100 projectos para Hotéis além dos inúmeros Hostels.
A ideia de residir, habitar, Identidade Local,  assegurada por famílias, foi completamente posta de parte …
Agora, nos Bairros Históricos essas mesmas famílias, acossadas pela crise disponibilizam as sua casas, que se tornaram inabitáveis a partir de 5a Feira devido à “Animação” de rua, “boteillon” e afins, para aluguer, através de sites como o Airbnb.
Claro que este fenómeno sem planeamento e sem controle em termos de Hotelaria Paralela está já a concorrer já de forma determinante com a Hotelaria Clássica.
Adivinha-se neste conjunto de circunstâncias, inevitávelmente o desastre de saturação do mercado com uma oferta que vai largamente ultrapassar a procura.
Chama-se a isto mau Planeamento Urbanístico, assim como a ausência total de estratégia e planeamento  na área do Urbanismo Comercial, tem vindo a provocar o desaparecimento de vários estabelecimentos Tradicionais que garantem a Identidade de Lisboa como Cidade Autêntica e não como palco /Globalizado de eventos e “Happenings”.
António Sérgio Rosa de Carvalho
OVOODOCORVO/ 19 DE AGOSTO DE 2013

Airbnb: we're here to stay, says billionaire as rental website is accused of evading rules and tax
Nathan Blecharczyk, co-founder of controversial global lodging startup, insists company is a force for good and wants to help authorities adapt to its new technology
Rory Carroll in San Francisco

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