quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Campanha de Belém entre a perda de um amigo e a polémica das subvenções


Campanha de Belém entre a perda de um amigo e a polémica das subvenções

Vera Jardim, porta-voz da candidata, fala de “clima de populismo” e desanca em Nóvoa. Este diz que não teria subscrito o pedido de inconstitucionalidade da norma que retirou subvenções a políticos

Margarida Gomes e Paulo Pena / 21-1-2016 / PÚBLICO

A devolução das subvenções vitalícias dos políticos entrou na campanha das presidenciais e Maria de Belém ficou debaixo dos holofotes mediáticos por ter subscrito o pedido de fiscalização da constitucionalidade à norma do Orçamento do Estado para 2015, juntamente com mais 29 deputados do PS e do PSD. Que efeito tem a polémica na sua candidatura?
O porta-voz da candidatura de Maria de Belém, Vera Jardim, reconhece que o caso “não é positivo” e critica o “clima de populismo levado ao extremo” que diz marcar estas eleições. Reprova as palavras de Sampaio da Nóvoa no final do debate na RTP, em que cá fora disse que, se for eleito, pretende tirar as subvenções dos expresidentes da República”. “Isto é uma enormidade, até porque nem o pode fazer”, atira, lamentando que alguém que é apoiado por três expresidentes se comporte assim. A investigadora da área dos e professora da Universidade do Minho Felisbela Lopes diz que qualquer leitura política tem de ser feita mediante a cobertura mediática. O facto de o caso das subvenções ter coincidido com a morte de Almeida Santos “neutralizou o grande efeito que essa ligação pudesse ter” na candidatura de Belém, considera. A circunstância da candidata não ter ido ao debate com os outros candidatos “contribuiu para diminuir o impacto”. Felisbela Lopes reconhece que, se Almeida Santos não tivesse morrido e se a candidata tivesse participado no debate, “haveria um confronto brutal”, porque ela seria o “rosto das subvenções vitalícias”.
António Costa Pinto analisa a questão de outro ponto de vista, chamando a atenção para o facto de haver dois candidatos mais distantes da classe política — Marcelo Rebelo de Sousa, que apesar de ter sido líder do PSD tem um percurso autónomo, e o independente Sampaio da Nóvoa —, o que “faz com que Maria de Belém seja facilmente associada aos defeitos da classe política”. E atira outro dado para destacar o “impacto negativo” da acumulação de cargos: a candidata acumulou a presidência da Comissão Parlamentar de Saúde com o de consultora do Grupo Espírito Santo Saúde.
Ana Belchior, professora de Ciência Política do ISCTE, considera que “esta iniciativa de fiscalização só pode ser mal acolhida pelo cidadão comum”. “Trata-se de um privilégio, ainda mais inaceitável pelo contexto social em que é reposto. Do ponto de vista do pensamento racional do eleitor, o impacto sobre a campanha de Maria de Belém só pode ser objectivamente negativo”, afirma ao PÚBLICO.
Embora seja apoiante da ex-presidente do PS, o professor Adelino Maltez não aplaude a decisão da candidata, afirmando mesmo que revela um perfil que já lhe “causou dissabores”, numa alusão à sua ligação ao Grupo Espírito Santo Saúde. “É preciso um choque moral e um novo paradigma”, advoga, considerando que este tipo de comportamentos pode dar votos a Paulo de Morais. “A democracia exige ética e nem tudo o que é lícito é honesto”, remata o catedrático da Universidade Técnica de Lisboa. André Freire, professor do ISCTE que integra a comissão política da candidatura de Sampaio da Nóvoa, partilha da opinião de Felisbela Lopes, afirmando que “os efeitos vão depender do grau de mediatização”. Fala de um tema que não é popular e critica a “incoerência” da candidata. “Quando foi o episódio de fiscalização dos cortes de salários na função pública e nas pensões, Maria de Belém ficou quietinha. Desta vez, como tinha a ver com as subvenções dos políticos, subscreveu o pedido de fiscalização”, aponta.
Nóvoa: “Eu jamais o faria” A paragem forçada da campanha terminou, de vez, com aquilo a que Sampaio da Nóvoa chamou “ataques fratricidas” entre as candidaturas de esquerda. Agora, reina a convicção de que Maria de Belém está em perda. Sobretudo após o caso das subvenções vitalícias.
Nóvoa não quis cavalgar o assunto. “Não gostaria muito de me pronunciar sobre essa matéria.” Perante a insistência dos jornalistas, ainda começou por dizer que os deputados gozam de total liberdade nos seus mandatos. Só no fim veio a crítica: “Se eu fosse deputado, jamais tomaria essa iniciativa.” Nova pergunta: “E é uma contradição pedir a fiscalização dessa norma e não a dos Orçamentos de Passos Coelho?” E aqui, sim, Nóvoa repete a crítica: “Teria sido bom que, enquanto deputada e presidente do PS, tivesse tido uma posição mais activa na defesa da Constituição.”
Nóvoa parte para os últimos dias de campanha “cheio de ânimo” e com “uma convicção muito forte” de que, no domingo, os eleitores decidirão escolhê-lo para disputar uma segunda volta com Marcelo Rebelo de Sousa. Em Guimarães, onde retomou as acções de campanha depois de ter interrompido a agenda durante 24 horas, garantiu que a “dinâmica da campanha tem sido boa” e que as coisas até “têm corrido acima das expectativas”.
O candidato refere-se ao apoio nas ruas, mas também à mobilização que sente, nas bases da candidatura. Seja nas bases “auto-organizadas”, que

têm mantido um programa autónomo desta “caravana” que percorre o país com o candidato, seja nas estruturas locais, mais próximas do PS, e que não lhe têm faltado com apoio. Ainda esta quarta, na fábrica de calçado Kyaia, em Penselo, Guimarães, António Guimarães, o autarca socialista, acompanhou Nóvoa na visita em que foi anfitrião o empresário Fortunato Frederico, dono da célebre marca Fly London, o maior empresário português do sector, que é também mandatário para a inovação da candidatura.

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