quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Marcelo gera mal-estar no PSD e há dirigentes que ponderam não apoiá-lo / Marcelo desvaloriza críticas e Pires de Lima pede clarificação

Marcelo desvaloriza críticas e Pires de Lima pede clarificação
SÍLVIA AMARO (em Bruxelas) e MARGARIDA GOMES 18/11/2015 - PÚBLICO

Ex-ministro da Economia diz que “pode haver a tentação de haver alguém à direita a corporizar o sentimento de desilusão e de querer fazer das eleições presidenciais a segunda volta das legislativas”.

Marcelo Rebelo de Sousa desvalorizou esta quarta-feira comentários de que se está a colar demasiado à esquerda.

Depois de um encontro em Bruxelas com o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, o candidato à Presidência da República disse que "há coisas importantes na vida e coisas que não são", relativizando assim notícias que dão conta de um "mal-estar" no interior do PSD relativamente ao seu desempenho "demasiado à esquerda."

Marcelo, que veio dizer a Schulz o "óbvio" – que a esmagadora maioria dos portugueses são pró-europeus –, desvalorizou a demora do Presidente da República em decidir se vai ou não indigitar António Costa. "Nós estamo-nos a aproximar do fim do processo. Não adianta agora, sobretudo aqui em Bruxelas, comentar o processo," disse o candidato.

Era esperado que o actual Presidente da República tomasse uma decisão esta semana, mas tal poderá não acontecer senão no início da próxima. Cavaco Silva tem encontro marcado com um conjunto de economistas na quinta-feira e só ouvirá os partidos com representação na Assembleia da República na sexta-feira.

Centro a descoberto
Em Lisboa, o ex-ministro da Economia, António Pires de Lima, dava lastro às críticas vindas do PSD. No Fórum da TSF dedicado às presidenciais, o conselheiro nacional do CDS declarava que “o professor Marcelo Rebelo de Sousa no seu afã de ser candidato simpático à esquerda, talvez tenha descurado o espaço mais partidário de centro e direita democrático”.

Preocupado com a dimensão da crispação do actual momento político, Pires de Lima admite que “haja espaço para surgir uma nova candidatura do centro-direita”, mas não a considera conveniente. Diz que se houver uma “dispersão de votos, de candidatos e de esforços isso pode favorecer o aparecimento de uma outra candidatura”. Porquê? Porque - explica - “o ambiente político é muito difícil e há muita gente desiludida e pode haver a tentação de haver alguém à direita a corporizar esse sentimento de desilusão e de querer fazer das eleições presidenciais a segunda volta das legislativas”.

Em declarações ao PÚBLICO, o ex-ministro diz não ter dúvidas que o “ambiente político só vai retomar uma certa normalidade quando tivermos uma nova consulta popular, porque este governo que pode emergir nunca foi um governo saído das urnas, resulta de uma situação política cozinhada nos gabinetes dos partidos de esquerda”.

No quadro da actual situação política, entende que o “próximo Presidente da República deve ser exigente e especialmente atento”.

Uma outra voz do CDS, Manuel Sampaio Pimentel, vereador na Câmara do Porto, não se mostra surpreendido com o desempenho de Marcelo e recorda que o “perfil do candidato presidencial apresentado por Pedro Passos Coelho e aprovado no último Congresso do PSD não condiz com o perfil de Marcelo Rebelo de Sousa”.

“O centro-direita teve oportunidade de ir por outro caminho e não o fez. Ficaria muito contente se o doutor Rui Rio reconsiderasse a sua posição, mas não se pode dispor da vida das pessoas de acordo com os interesses conjunturais”, considera Manuel Sampaio Pimentel, declarando que “de todos os candidatos que se apresentaram até agora, o que reúne os requisitos para exercer o mais alto cargo da Nação é Henrique Neto e merece o meu maior respeito”.

Deixando claro que não vai votar em Marcelo, o antigo-dirigente nacional do CDS avisa que a “Presidência da República vai-se transformar no centro da intriga política”, porque o ex-líder do PSD "não é um referencial de estabilidade”.

O vereador da Câmara de Lisboa, João Gonçalves Pereira, também do CDS, subscreve as palavras de Pires de Lima. Defende uma clarificação da actual situação política e precisa que “nste contexto, qualquer candidato presidencial deve clarificar a sua posição, quer à esquerda, quer à direita”.

Marisa Matias quer rapidez
Para a candidata à Presidência pelo Bloco de Esquerda, esta demora de Cavaco Silva é "tempo perdido" para a economia e para Portugal.

"Eu entendo que este seja o tempo que possa ser necessário para quem ainda está no Governo acabe de fazer alguns negócios, privatizações ou nomeações, mas os portugueses e as portuguesas necessitam que não continuemos a arrastar os pés num processo tão fundamental para a vida em Portugal," disse Marisa Matias.

A eurodeputada, que também falou aos jornalistas esta quarta-feira em Bruxelas, disse que não terá qualquer problema em indigitar Pedro Passos Coelho se, no futuro, este tiver uma maioria parlamentar. "Se daqui a quatro anos for Presidente da República e o dr. Pedro Passos Coelho chegar a uma reunião comigo e me disser que tem uma maioria parlamentar, eu apoio o seu governo," declarou.



Marcelo gera mal-estar no PSD e há dirigentes que ponderam não apoiá-lo
MARGARIDA GOMES 18/11/2015 - PÚBLICO

Há quem considere que uma candidatura protagonizada por Rui Rio “faz sentido”. O ex-autarca do Porto conta a partir desta terça-feira com duas páginas online de apoio à corrida a Belém.

Há um profundo mal-estar em alguns sectores do PSD relativamente ao desempenho de Marcelo Rebelo de Sousa. Os sociais-democratas discordam da “colagem demasiado à esquerda” que o candidato à Presidência da República tem vindo a fazer e há líderes distritais que ameaçam não subscrever a sua candidatura se não assumir que tem de haver uma clarificação política em 2016, leia-se eleições legislativas.

Este mal-estar no PSD em relação a Marcelo “não é de ontem nem é de ontem, nem de uma há semana”, garante ao PÚBLICO fonte social-democrata, revelando que o partido gostava que o professor assumisse publicamente o que faria perante a actual crise política que varre o país. “Marcelo tem mantido uma posição completamente equidistante sobre a situação política, evitando dizer o que faria se fosse Presidente da República”, insurge-se um outro social-democrata, considerando que o ex-líder do partido não pode “andar a fazer discursos que agradam à esquerda, enquanto a direita vive momentos agitados por causa da maioria negativa”.

Mas não é apenas o PSD que se sente desconfortado. O CDS, pela voz do ex-ministro da Economia, António Pires de Lima, disse que o país vai precisar de uma clarificação política assim que possível e desafiou Marcelo a dizer isso mesmo. Caso contrário, adverte o ex-governante, pode “abrir uma auto-estrada para que apareça outra candidatura à direita”.

Ao Expresso, Pires de Lima voltou a defender que o “centro-direita tem vantagem em unir-se”, mas perante o desempenho de Marcelo, diz que o “centro-direita precisa também de um candidato que assuma de forma mais directa que o país precisa de uma clarificação política em 2016”.

Álvaro Amaro, líder da Associação dos Autarcas Social-Democratas e presidente da Câmara da Guarda, discorda desta posição, embora considere que “tem de haver uma clarificação politica daqui a um ano, dois, três ou quatro anos”. Quanto ao resto, diz que “não se pode exigir a um candidato presidencial que diga que vai clarificar a situação política, porque isso seria um erro político histórico”.

Apoiante de Marcelo desde a primeira hora, Álvaro Amaro, que já liderou a distrital do PSD da Guarda concorda com a estratégia seguida pelo candidato a Belém e aplaude o seu discurso, que considera “transversal aos partidos políticos”. E atira mais um argumento: “Discordo profundamente daqueles que dizem que o candidato a Presidente da República tem que antecipar cenários políticos. Isso só deve acontecer depois de ser eleito e no recato da Presidência da República”.

Na opinião de um outro dirigente do PSD, Marcelo Rebelo de Sousa fez duas ou três intervenções públicas - a mais criticada foi a que se realizou na Voz do Operário, em Lisboa - que deixaram o partido apreensivo e de pé atrás. Descontente com a prestação o professor, a mesma fonte lança uma pergunta: “ Por que razão é que temos de andar com ele ao colo se ele não se compromete a realizar eleições em 2016 permitindo fazer uma clarificação política da situação?”

Ontem, voltou-se a ouvir falar de Rui Rio, depois de há mais de um mês ter fechado a porta a uma candidatura presidencial.


Segundo a edição online da revista Visão, Rio passaria a contar a partir desta terça-feira com duas páginas de apoio. Ambas as páginas – o site Rui a Presidente – e a página de Facebook – dão corpo à vontade de um centrão que se diz “desiludido com Marcelo Rebelo de Sousa e órfão de candidato a Belém”. As duas páginas defendem que a candidatura de Rio “faz sentido” no quadro de incerteza em que o país vive. O ex-presidente da Câmara do Porto só admitiria ir a jogo se hipoteticamente houvesse uma “revolta” contra Marcelo.

Sem comentários: