segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Sem-abrigo de Lisboa reclamam ajuda idêntica à dos refugiados


Sem-abrigo de Lisboa reclamam ajuda idêntica à dos refugiados

"É injusto para quem é português" que os refugiados tenham "direito a tudo e mais alguma coisa". "Não estou contra os refugiados que fogem dos países deles à procura de uma vida melhor", defende, considerando, no entanto, que "o Governo português havia de investir mais no apoio à população portuguesa".

19.10.2015 às 9h5537 / EXPRESSO

Os refugiados são acolhidos, dão-lhes casa. Aos sem-abrigo não dão nada”, lamenta um, reivindicando que “o que se faz a uns se faça a outros”

LUSA
A viverem pelas ruas da cidade de Lisboa, algumas pessoas em situação de sem-abrigo diizem compreender o apoio de Portugal no acolhimento de refugiados, mas queixam-se de não terem ajuda semelhante por parte do Governo.

Portugal está "praticamente" pronto para acolher 4500 refugiados, e várias instituições sociais e municípios têm-se mobilizado para ajudar. Porém, há também quem se tenha manifestado contra a entrada de refugiados, tendo como mote "Cuidar dos Nossos Primeiro" e dando como exemplo a situação dos sem-abrigo.

A dormir pelas ruas de Lisboa, José Manuel Saraiva, de 53 anos, mostra-se solidário com o acolhimento aos refugiados, por considerar que é uma situação "muito pior" comparada à condição de sem-abrigo.

"Não me afeta que o Estado ajude. Prefiro que não me ajudem a mim e que os ajudem a eles", afirma à agência Lusa este lisboeta, sem-abrigo há cerca de seis anos, acreditando que o apoio aos refugiados "será uma situação pontual".

Para José, o caso dos refugiados é complicado por virem de países em guerra, explicando que "é muito difícil ver imagens de crianças e outras pessoas a morrerem todos os dias".

José Manuel Saraiva tinha uma vida estável pessoal e profissionalmente, mas quando se divorciou viu-se sem rumo, deixou o emprego e foi viver para a rua. Reconhece o erro de ter optado pelo caminho "mais fácil, o andar para a frente talvez é mais difícil".

"A pessoa depois habitua-se também a ficar nesta situação e pouco faz para sair dela", admite, criticando o facto de nunca ter recebido qualquer subsídio ou apoio do Estado.

Há mais de uma década que Fernando Domingues, de 62 anos, vive na rua, após ter ficado desempregado e nunca mais ter conseguido arranjar emprego, conta. Costuma abrigar-se junto à igreja de Arroios, em Lisboa, onde recebe o apoio das carrinhas das instituições que distribuem alimentação.

Questionado sobre o acolhimento de refugiados em Portugal, Fernando diz não estar contra, mas lamenta o facto de os sem-abrigo não terem apoios semelhantes. "Os refugiados são acolhidos, dão-lhes casa. Aos sem-abrigo não dão nada", lamenta, reivindicando que "o que se faz a uns se faça a outros".

José Rebelo, de 47 anos, e a companheira Arminda Rocha, de 50, pernoitam nas ruas da capital há cerca de três anos, devido à "falta de dinheiro, falta de trabalho e dependência de álcool". Atualmente, o casal está inserido num programa de combate ao alcoolismo, pois pretende "reiniciar outra vez, de uma forma diferente", diz José, acrescentando esperar a atribuição de uma casa social.


José Rebelo deixa ainda um desabafo que não esconde uma mágoa: "É injusto para quem é português" que os refugiados tenham "direito a tudo e mais alguma coisa". "Não estou contra os refugiados que fogem dos países deles à procura de uma vida melhor", defende, considerando, no entanto, que "o Governo português havia de investir mais no apoio à população portuguesa".

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