terça-feira, 20 de outubro de 2015

Portas admite ceder lugar de número dois a Costa


Portas admite ceder lugar de número dois a Costa
RITA DINIS / 19/10/2015, OBSERVADOR

Paulo Portas está disposto a ceder o seu lugar de número dois no Governo no caso de haver uma coligação PSD/CDS e PS. Governo de Passos é o natural, mas acusa PS de não ter feito "uma única" proposta.

Paulo Portas está disponível para deixar de ser o número dois do Governo em caso de uma coligação alargada entre o PSD, CDS e o PS. “Com certeza que se tivesse de deixar de ser número dois num governo desses [de coligação alargada] deixaria”, disse esta segunda-feira à noite em entrevista à TVI, falando em “humildade política” e sublinhando que o seu destino ou função individual “não deve prevalecer sobre o interesse nacional”. Segundo Portas, só há uma leitura possível dos resultados eleitorais: A coligação ganhou e deve governar, mas como ganhou sem maioria deve fazer entendimentos com o PS – só que o PS “ainda não apresentou uma única contra-proposta”, lamentou. E pediu “responsabilidade” e “humildade” democrática: “É preciso estar à altura da vontade dos portugueses”, disse.

“Quem ganhou foi a coligação, os portugueses querem que a coligação governe, mas querem também que governe com compromissos e entendimentos”, disse, notando que esses compromissos só são possíveis dentro das regras do euro, ou seja, apenas e só com o PS. E para ilustrar isso Paulo Portas lembrou que a nova configuração do Parlamento reúne uma “larguíssima maioria” de cerca de “80%” de deputados que são “pró-euro, pró-projeto europeu, pró-NATO, e pró-regras comuns”.

Nesse sentido, o líder do CDS alertou para o “perigo” de se estar a fazer uma leitura diferente dos resultados das eleições e a “colocar a governabilidade do país nas mãos do PCP ou do BE”, numa altura em que ambos estão a levantar a voz ao PS e, “ainda por cima”, em concorrência um com o outro. “Não acho que seja boa ideia”, disse, alertando para os cenários de “instabilidade crónica” e de défices “exagerados” que podem advir dos governos frágeis de “seis meses”.

O PS diz que estes resultados impedem a coligação de governar, mas essa é uma leitura muito perigosa, porque os portugueses também não votaram na instabilidade nem em nada disto que está a acontecer”, reforçou.
Instando sempre os políticos a serem “responsáveis” e a “respeitarem o interesse nacional”, Paulo Portas deixou ainda uma farpa a António Costa: “Interesse nacional é muito diferente de manual de sobrevivência partidária”, disse, acrescentando depois que não julga ninguém por, dentro do seu partido, se demitir ou não se demitir na sequência de resultados eleitorais.

Mas sobre o desbloquear do impasse, Portas é claro: o normal é que o Presidente da República indigite Pedro Passos Coelho a formar governo e que esse governo, não tendo maioria absoluta, deve encontrar compromissos com o PS – único partido que está dentro da tal “maioria larguíssima” do arco pró-europeu. “Ainda tenho esperanças que o PS caia em si”, disse, pouco depois de ter acusado o PS de não ter levado para cima da mesa “nenhuma única proposta negocial com hierarquização de prioridades e definição do método para podermos chegar a qualquer acordo”.

Na mesma entrevista à TVI, Paulo Portas disse ainda que António Costa “não teve qualquer sentido de Estado” quando, numa entrevista ao mesmo canal na última sexta-feira, deixou no ar a possibilidade de PSD e CDS estarem a esconder contas e dados “graves”, não revelando quais. Tratou-se, segundo Portas, de uma “insinuação” que depois passou a uma “suposição” quando Mário Centeno veio reforçar que o “grave” não era o que tinha sido nas negociações mas sim o que “não tinha sido dito”.


Sobre isso, Portas afirmou que não crê que “haja alguma surpresa financeira”, defendendo-se com o elevado escrutínio das finanças públicas que é feito por várias entidades como a UTAO, o Conselho de Finanças Públicas, o Banco de Portugal, os credores, ou até a comunicação social. “Primeiro não há vontade, depois não há possibilidade de estar a fazer artimanhas”, disse.

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