quarta-feira, 22 de julho de 2015

Seguristas descontentes põem pressão em Costa. “É a prova dos nove” / Costa não conseguiu evitar guerras do aparelho nas listas às legislativas


Seguristas descontentes põem pressão em Costa. “É a prova dos nove”
RITA DINIS / 21/7/2015, OBSERVADOR

Seguristas chegam ao Largo do Rato em polvorosa. António Galamba fala em "prova dos 9" sobre a unidade do partido, Álvaro Beleza admite que pode não aceitar lugar. "Até ao lavar dos cestos é vindima".

Os ânimos aquecem e a reunião da Comissão Política do PS que vai fechar as listas dos candidatos a deputados ainda nem começou. À chegada ao Largo do Rato, os chamados seguristas deixaram claro ao que vêm: “É o dia da prova dos nove sobre a unidade do partido”, começou por dizer António Galamba, ex-membro do Secretariado Nacional de António José Seguro. Álvaro Beleza, por outro lado, que tem o seu lugar garantido como elegível na lista de Lisboa, admitiu aos jornalistas que pode até não aceitar o lugar.

Tudo parece depender do peso que, no final da reunião, e feitas as contas, os seguristas vão ter nas listas do partido para as legislativas.

Falando aos jornalistas à entrada da reunião, António Galamba apressou-se a deixar um recado enfurecido ao secretário-geral que, em setembro, destronou António José Seguro sob o lema de ser a pessoa certa para assegurar a unidade do PS: “A direção nacional tem estado a lutar pela sua verdade sobre a unidade do partido – uma verdade que não corresponde à realidade dos factos”. A verdade é que, como sublinhou Galamba, entre os 19 cabeças de lista confirmados por Costa, só um (Pedro do Carmo, Beja) pertence à ala segurista.

O critério aritmético que tem sido usado pela direção socialista é a bitola de 2011 – “onde as listas foram elaboradas por José Sócrates” – e não o critério de que António José Seguro “teve 30,6% de votos nas primárias”, alertou o ex-dirigente socialista. Um critério errado, segundo o ex-secretário nacional de Seguro, mas que faz a direção nacional socialista afirmar que as listas agora em ponderação terão, no total, mais nomes ligados a Seguro do que as listas de 2011.“Esse critério é quase o mesmo que o termo de comparação usado pelo primeiro-ministro Passos Coelho para falar do desemprego, é errado”, atirou ainda António Galamba.

As palavras-chave são união e mobilização. Para Galamba, que até ver não consta de nenhuma das 19 listas do PS para as legislativas, ainda nada está perdido – “até ao lavar dos cestos é vindima”, disse – mas uma coisa é certa, a reunião desta noite promete ser quente. “É o dia da prova dos nove” para saber se Costa consegue ou não a unidade do partido.

Álvaro Beleza ainda pode recusar lugar

Também Miguel Laranjeiro, ex-secretário nacional do PS para a Organização, também excluído à partida das novas listas, quis falar em “unidade” e em “mobilização”. “A reunião ainda agora vai começar, por isso vamos ver se António Costa consegue unir o partido”, disse, visivelmente mais calmo do que António Galamba, e acrescentando que “não” tinha recebido qualquer sinal da parte do líder do partido de que iria entrar nas listas. Depois de as federações distritais preencherem dois terços das listas, o secretário-geral ainda tem uma quota de um terço para ocupar nas listas.

Na mesma linha mas mais incisivo foi Álvaro Beleza, braço direito de Seguro, que esteve nas negociações das listas com a direção do PS, que deixou claro aos jornalistas que, apesar de ter um lugar assegurado no 11º posto da federação de Lisboa, ainda não é certo de que aceite o lugar. Tudo parece depender do desfecho da reunião desta noite, que é como quem diz, do peso que os seguristas terão no cenário global. “Houve coisas que correram bem e outras menos bem, mas ainda vamos a tempo de corrigir essas coisas”, disse.


“O partido tem de ser inclusivo, plural e independente das sensibilidades”, continuou, rejeitando a ideia de que o PS seja um partido de “fações” e que, por isso, tenha de “respeitar as pessoas pelo mérito e por tudo aquilo que deram até aqui ao partido”. O objetivo, diz, é “unir e somar”, não dividir.

Costa não conseguiu evitar guerras do aparelho nas listas às legislativas

Líder do PS teve de repescar os excluídos pelas distritais. Tentativa de renovação ensombrada pelas lutas por lugares nas listas feitas pelo aparelho

O deputado Rui Duarte comunicou pessoalmente a Costa que desistia de ser candidato na tentativa de salvar a lista de Coimbra

António Costa viveu ontem à noite o final da sua primeira prova de fogo como líder do PS, no que diz respeito à elaboração e à aprovação de listas eleitorais.

Margarida Gomes e São José Almeida / 22-7-2015 / PÚBLICO

António Costa terminou ontem o difícil jogo de equilíbrio para acabar as listas de candidatos a deputados
A Comissão Política Nacional (CPN) sufragou os nomes dos candidatos numa reunião que se anunciava como complexa e difícil, já que o processo de selecção de candidatos foi nalguns casos polémico, com particular destaque para Coimbra e para o Porto, onde a situação foi de ruptura.
O resultado final salda-se por umas listas onde a renovação de nomes é considerável, sendo que é de salientar o peso de gente mais nova em idade. Destaca-se que o facto de Costa ter tido de repescar nomes como o de João Soares, Jorge Lacão e Alberto Costa, ou de deputadas como Inês de Medeiros, que não foram escolhidos por nenhuma distrital.
Nas guerras por lugares, o clima aqueceu em relação à representação dos apoiantes do anterior secretário-geral, António José Seguro, mas ontem à noite tudo indicava que a representação seria igual à actual, ficando contudo de fora das listas figuras como Miguel Laranjeiro, António Braga, Mota Andrade, José Junqueiro, Miguel Freitas, Luís Pita Ameixa, Jorge Fão. A anterior presidente, Maria de Belém Roseira, saiu por vontade própria.
Uma das notícias destas listas prende-se com os cabeças de lista, onde apenas dois nomes repetem o estatuto: Paulo Pisco no mesmo círculo, o da Europa, e Vieira da Silva, que se estreia em Santarém. Estreantes são também alguns cabeças de lista independentes: o investigador Alexandre Quintanilha no Porto, a vice-reitora Helena Freitas em Coimbra, a jurista Maria Manuel Leitão Marques em Viseu, o economista Manuel Caldeira Cabral em Braga, o investigador Tiago Brandão de Brito em Viana do Castelo.
Estreantes à frente de listas são também os militantes: Margarida Marques, antiga secretária-geral da JS, em Leiria, José Apolinário, também antigo líder da JS, em Faro, Ascenso Simões, director de campanha, em Vila Real, e em Évora, Capoulas Santos, ex-ministro da Agricultura com Guterres e ex-eurodeputado.

Os casos problemáticos
Um dos casos mais problemáticos foi a lista de Coimbra. Porém, ao fim da tarde, o deputado Rui Duarte, número três na lista, manifestava a sua indisponibilidade para ser candidato, numa derradeira tentativa de salvar a lista. A decisão foi por ele comunicada pessoalmente a Costa. Em Coimbra, em representação de Costa, entrou João Galamba do Secretariado.
“Esta decisão, que é pessoal e ponderada, prende-se com o facto de entender que não devo integrar uma lista que não merece o acordo do secretário- geral, ao mesmo tempo que não poderia nunca permitir, por força das responsabilidades que exerço no partido em Coimbra, que a lista (...) estivesse exposta ou vulnerável a qualquer polémica, ainda que reconheça que o ruído é próprio da época, motivado por conveniências, vaidades e conflitos internos e definitivamente temporário.” A esta decisão não será alheia ao facto de a comarca de Coimbra ter enviado à Assembleia da República um pedido de levantamento de imunidade parlamentar do deputado Rui Duarte, que o Ministério Público quer constituir arguido e ouvi-lo nessa qualidade pelo “crime continuado de falsificação de documentos”, relacionado com a inscrição fraudulenta de militantes no partido.
Santarém, cuja distrital é liderada pelo deputado António Gameiro, que fez campanha pelo ex-líder socialista, António José Seguro, estava também na mira da CPN. Em Santarém surge em quinto o primeiro apoiante de Costa, o seu chefe de gabinete João Sequeira. Eram esperadas alterações à lista de Viana do Castelo por entender que não reflectia a representatividade alcançada nas primárias a seguir a Tiago Brandão Rodrigues, nas três primeiras posições estavam ex-apoiantes de António José Seguro. Existia a expectativa de que a número três, Dora Brandão, fosse substituída pela deputada Sandra Pontedeira.

Previa-se que o caso do Porto, cuja lista foi chumbada, fosse discutido à parte, numa reunião com Costa, o líder da distrital, José Luís Carneiro, e Manuel Pizarro, que tem uma quota na lista, no âmbito de um acordo feito com o presidente da federação do Porto. O objectivo era fechar a lista para que o secretário-geral do PS a pudesse levar à votação na CPN.

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