segunda-feira, 20 de julho de 2015

Mais de 20% da população está emigrada / Pousar a mala, e levantar a cabeça / ANTÓNIO SÉRGIO ROSA DE CARVALHO 12/01/2014 - PÚBLICO


Mais de 20% da população está emigrada
19/07/2015 | 15:19 | Dinheiro Vivo

Entre dois milhões e 2,3 milhões de portugueses estavam emigrados em 2013, principalmente na Europa, de acordo com dados da ONU e do Banco Mundial, citados no relatório do Observatório da Emigração relativo ao ano passado.
A população portuguesa emigrada representa mais de 20% da população residente no país. Em termos relativos, Portugal é o país da UE com maior número de emigrantes, depois de Malta.
Em 2013, terão entrado nos países de destino pelo menos 110 mil portugueses, quase três vezes mais do que em 2001 (cerca de 40,000). Entre 2012 e 2013, a população residente em Portugal diminuiu 0,5%.
Os principais países de destino da emigração portuguesa, em 2013, foram Reino Unido, Suíça, França, Alemanha, Espanha, Angola, Luxemburgo, Bélgica, Moçambique, Brasil, Holanda, Estados Unidos, Noruega, Canadá e Itália.
O Reino Unido recebeu, em 2013, 30 mil portugueses e em relação a 2012 as entradas de portugueses aumentaram 47%.
O segundo país europeu que recebeu, em 2013, o maior número de emigrantes portugueses foi a Suíça (20 mil), depois França (18 mil) e Alemanha com 11 mil.
Fora da Europa, os principais países de destino da emigração portuguesa foram, no referido período, Angola e Moçambique.
De acordo com os dados do Observatório da Emigração, da secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, em 2013, os portugueses foram a nacionalidade mais representada entre os novos imigrantes que entraram no Luxemburgo e França.
Mais de um quinto (22%) dos estrangeiros que obtiveram a nacionalidade luxemburguesa, em 2013, eram portugueses.
Na Suíça foram a segunda e no Reino Unido e no Brasil a quinta, mas os países que registaram o maior crescimento do número de emigrantes portugueses, em 2013, foram a Noruega (mais 26%) e o Reino Unido (mais 19%).
A França continua a ser o país com maior número de emigrantes portugueses, e em 2011 ultrapassou o meio milhão (592,281), sendo a terceira maior população emigrante residente (11% do número total de imigrantes).
Em segundo lugar, surge a Suíça com 211,451 emigrantes portugueses em 2013, onde são a segunda nacionalidade mais numerosa (9%)
O Observatório da Emigração indica ainda que, entre 2003 e 2013, as maiores variações de portugueses residentes no estrangeiro registaram-se na Noruega (mais 11%), Espanha (mais 7%), Suíça (mais 6%) e Reino Unido (mais 5%).
No mesmo período, os principais países com variação negativa foram o Brasil (menos 5%) e a Venezuela (menos 4%), de acordo com os dados publicados pela secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas.


OPINIÃO
Pousar a mala, e levantar a cabeça
ANTÓNIO SÉRGIO ROSA DE CARVALHO 12/01/2014 - PÚBLICO
Quando irá Portugal, finalmente, pousar a mala e levantar a cabeça?

Infinito e promissor horizonte Atlântico. Proibitivo e intransponível muro Castelhano. Estes foram os factores que determinaram a expansão Portuguesa. Mas, também, o seu eterno escapismo quimérico, na procura do Devir / Identitário. Sempre baseada no acto de Partir, isto, de forma indissociável, tragicamente e dialecticamente a uma eterna fidelidade à ideia metafísica da Pátria mítica, mas inatingível.

Enquanto o mundo Protestante transforma o seu cepticismo perante a imperfeição do Mundo, precisamente numa capacidade de intervir nessa mesma realidade e transformá-la, tal como Max Weber demonstra na sua associação entre Protestantismo e a formação do Capitalismo pré Neo-Liberal... os misteriosos Lusitanos, saltitam de escapismo em escapismo.

Agora o “Império”. Depois, o deslumbramento das promessas de abundância do clube prestigiante do desenvolvimento Europeu, como se tratasse de fenómeno mágico e instantâneo, sem inclusão de preço e responsabilidade.

Progresso? Sim houve-o. E uma das mais importantes manifestações desse mesmo Progresso constituiu o acesso ao ensino e a formação de milhares de jovens. Os tais que iriam determinar o Portugal pós Abril. Que iriam garantir e confirmar o fim desta dialéctica de Êxodo, finalmente, o interromper deste ciclo de Diásporas.

Que iriam constituir a primeira geração que iria ficar e finalmente investir neste misterioso rectângulo plantado à beira-mar atlântica.

Portugal iria finalmente ser cumprido, de forma Adulta, com a capacidade de aceitar as suas fronteiras físicas, geográficas e reais, assumindo finalmente, sem escapismos, as suas verdadeiras capacidades e transformando assim a realidade, quebrando o feitiço, destruindo esta maldição.

As centenas de milhares que partem de novo, com o sabor amargo da decepção e mágoa, para o exílio, restabelecendo o ciclo da Diáspora, ilustram um grave fenómeno com consequências não apenas demográficas e económicas para o futuro do País.

Precisamente na área da vivência/ocupação/ futuro das cidades e respectivo Património, as consequências serão terríveis.

Pois não seria esta geração que iria, através da sua criatividade cultural/empreendedorismo e actividade profissional, exigir o seu espaço, ocupar finalmente os centro históricos e habitá-los?

Em vez disso, assistimos à transformação das duas principais cidades do País, numa plataforma de eventos, num palco de investimento exclusivo na sua ocupação temporária através de hotéis, hostels e oferta de casas na hotelaria paralela.

Tudo dirigido ao novo “Bezerro de Ouro” que se chama Turismo, fenómeno importante com indiscutível potencial de reconhecimento e prestígio, com vasta dimensão económica, mas que sem gestão equilibrada, transforma as cidades em produto efémero e temporário.

Tudo isto é interpretado de forma relativizadora como fenómeno temporário, associado a uma crise, que se assume descaradamente e oficialmente de forma derrotista com declarações oficiais com apelos explícitos à emigração dos jovens, capazes e formados, como se isso não constituísse uma sangria irreversível e uma ilustração traumatizante de um falhanço da promessa que Abril, iria finalmente interromper este ciclo de eternas Diásporas.

Investe-se na tentativa de aliciar capital Internacional, nomeadamente na área do Imobiliário e Reabilitação Urbana, com promessas “douradas”, mas quem irá garantir o rigor das intervenções no Património Arquitectónico e respectivos interiores, quando estes projectos se destinam à ocupação temporária, à curta estadia e à vivência efémera da cidade vista exclusivamente como produto?

Onde estão as famílias locais a apropriar-se da cidade? A ocupá-la e a habitá-la permanentemente?

Quando irá Portugal, finalmente, pousar a mala e levantar a cabeça?


Historiador de Arquitectura

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