quinta-feira, 25 de junho de 2015

UE tenta acordo voluntário para redistribuir 40 mil migrantes

Ninguém quer ver passar imigrantes de um país para outro...

UE tenta acordo voluntário para redistribuir 40 mil migrantes
Já chegaram mais pessoas à Grécia do que a Itália desde o início do ano em busca de asilo, diz a agência Frontex

A Frontex contabiliza em 153 mil os imigrantes chegados já este ano à Europa. “É um aumento de 149% em relação ao período equivalente em 2014

Clara Barata / 25-6-2015 / PÚBLICO

Os imigrantes africanos que acampam nas rochas da costa em Ventimiglia, impedidos pela polícia de passar a fronteira de Itália pelas autoridades francesas, para daí continuarem o caminho até outros países do Norte da Europa, mostram como a imigração se tornou um problema de toda a União Europeia. O plano da Comissão Europeia para distribuir cerca de 40 mil migrantes pelos Vinte e Oito, que está para aprovação na cimeira europeia que começa hoje, enfrenta grandes resistências.
O plano devia ser obrigatório e não deverá passar de voluntário, pois os países da Europa de Leste e Espanha opõem-se à ideia de redistribuir cerca de 40 mil pessoas, entre sírios e eritreus (26 mil transferidos de Itália e 14 mil da Grécia) pelos vários países europeus, de acordo com critérios como o PIB de cada país, a taxa de desemprego, a população e o número de pedidos de asilo já registados. O primeiroministro húngaro classificou o plano como “roçando a insanidade”.
Mas a Irlanda e a Dinamarca, que beneficiam de uma isenção no domínio da imigração, tal como o Reino Unido, podem estar dispostos a participar, escreve o Libération. O mesmo acontece com a Suíça, a Noruega e o Liechtenstein, que fazem parte do Espaço Económico Europeu.
As resistências, no entanto, são grandes. Ninguém quer ver passar imigrantes de um país para outro. Por isso foi o caos esta semana em Calais, onde alguns dos milhares de imigrantes que esperam uma oportunidade para cruzar o mar de França para Inglaterra se lançaram para camiões em movimento no túnel da Mancha, tentando apanhar uma boleia. O primeiro-ministro David Cameron anunciou que pode vir a reforçar os controlos fronteiriços.
Estes acontecimentos são reflexos secundários do que se passa nas costas italianas e gregas, onde chegam a maior parte dos imigrantes sem documentos que cruzam o Mediterrâneo. Segundo a Frontex, a agência responsável pelas fronteiras exteriores da UE, até ao fim de Maio, 48.015 pessoas chegaram à Grécia, a maioria vindas da Síria (27.275) através da Turquia. A Itália chegaram um pouco menos: 47.008, quase todos africanos (10 mil da Eritreia), e cujo último porto de origem é a Líbia.
A Frontex contabiliza em 153 mil os imigrantes que chegaram à Europa já este ano. “É um aumento de 149% em relação ao período equivalente em 2014.”
Neste momento, no entanto, a UE apenas tem uma acção concertada para salvar os imigrantes que chegaram a Itália — e isso após um naufrágio em que morreram 900 pessoas, e os líderes europeus se viram forçados a reforçar a missão Tritão. Esta semana, começou uma segunda fase, a missão Navfor Med, que visa as redes de tráfico de imigrantes na Líbia. Com cinco navios de guerra, dois submarinos, dois aviões, dois drones e três helicópteros, esperam recolher informações — sem entrar em águas líbias, pois não têm luz verde nem do Conselho de Segurança da ONU nem do governo líbio reconhecido internacionalmente (há dois, neste momento).
Mas o país europeu onde mais cresceu o afluxo de imigrantes foi a Hungria: mais de 50 mil imigrantes até 31 de Maio. É um aumento de 880% em relação a 2015. Este caminho é feito por migrantes que entraram na UE através da Grécia e da Bulgária e tentam chegar à Alemanha ou aos países nórdicos.

Esta pressão inesperada levou o Governo de Budapeste a afirmar que deixaria de receber os imigrantes que a Áustria mandasse para trás. Mas isso violaria os acordos de Dublin sobre a imigração, e Viena ameaçou repor os controlos fronteiriços, enquanto Bruxelas pediu explicações imediatas. Budapeste voltou atrás.

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