terça-feira, 23 de junho de 2015

Santa Apolónia, que Manuel Salgado quer fechar, é a terceira estação do país

Há uma década, a Refer conseguiu travar um plano de urbanização que já previa o fecho da estação
A urbanização de vastos espaços da área compreendida entre o Parque das Nações e Marvila, no troço Gare do Oriente-Santa Apolónia, foi projectada por Manuel Salgado, antes de se tornar vereador, e pelo atelier que é propriedade da primeira mulher e dos filhos para fundos imobiliários do Grupo Espírito Santo.

Santa Apolónia, que Manuel Salgado quer fechar, é a terceira estação do país

Vereador da Câmara de Lisboa Manuel Salgado defende o fecho da estação para dar lugar a um espaço verde com ligação ao Tejo

Carlos Cipriano / 23-6-2015 / PÚBLICO

Todos os dias chegam e partem de Santa Apolónia 150 comboios de várias tipologias: de longo curso, regionais e suburbanos. O número de passageiros que diariamente chegam e/ ou partem daquela estação ronda os 8200, o que perfaz três milhões por ano. Estes números fazem de Santa Apolónia a terceira estação ferroviária portuguesa com mais movimento, sendo os primeiros lugares ocupados pelo Oriente e Campanhã.
Mas “numa visão de futuro”, o vereador Manuel Salgado, responsável pelo Urbanismo na Câmara de Lisboa, entende que esta é “uma área com enorme potencial” para acolher um espaço verde num contexto em que as actividades portuárias de Santa Apolónia e Xabregas seriam transferidas para o Barreiro.
O vereador fez estas declarações durante uma convenção autárquica do PS-Lisboa que juntou no domingo militantes e simpatizantes daquele partido no Parque das Nações.
Salgado referiu que o encerramento de Santa Apolónia seria “uma oportunidade única para fazer a ligação dos vales de Santo António e de Chelas ao rio” e acrescentou que não faz sentido que a estação esteja no centro da cidade, já que grande parte dos passageiros que chegam a Lisboa saem na Gare do Oriente. O autarca disse ainda que Santa Apolónia é mais usada para “estacionar e lavar os comboios”. A CP, bem como a Refer (agora fundida com a Estradas de Portugal e designada Infraestruturas de Portugal), não quis comentar as declarações do vereador, mas todos os quadros ferroviários contactadas pelo PÚBLICO são unânimes em considerar estas declarações de Salgado desprovidas de sentido. O mesmo disseram já vereadores do PSD, CDS e CDU na Câmara de Lisboa.
Encerrar Santa Apolónia seria impedir um acesso directo do modo ferroviário de longo curso ao centro de Lisboa, garantem os técnicos, e contrariaria as boas práticas utilizadas na maior parte das cidades europeias, em que se potencia o transporte público em detrimento do transporte individual. Por outro lado, mais do que uma estação de passageiros, Santa Apolónia é um terminal ferroviário que, a ser encerrado, teria de ser deslocado para outra estação. A do Oriente não tem espaço para mais linhas, o que levantaria problemas de operação, pois as composições teriam de se deslocar em vazio durante alguns quilómetros (até ser encontrado um local suficientemente espaçoso e perto de Lisboa para se construir o terminal) a fim de estacionarem e serem limpas. Estas viagens iriam, porém, colidir com o tráfego ferroviário comercial num dos pontos mais saturados da rede. Isto iria encarecer a operação e tornar o modo ferroviário um transporte bem mais complicado, notam os técnicos.
Em declarações ao DN de ontem, Salgado afirmou também que a principal estação de Lisboa é a de Entrecampos (na verdade, é a terceira) e que “a tendência no futuro é reforçar o seu papel como estação central”.

Na primeira década deste século chegou a ser apresentado uma projecto imobiliário para a frente ribeirinha na zona de Santa Apolónia que implicava desafectar daquele local a operação ferroviária. No entanto, o conselho de administração da Refer opôs-se e provou que a penetração do caminho-de-ferro até ao centro da cidade era uma mais-valia para Lisboa. A urbanização de vastos espaços da área compreendida entre o Parque das Nações e Marvila, no troço Gare do Oriente-Santa Apolónia, foi projectada por Manuel Salgado, antes de se tornar vereador, e pelo atelier que é propriedade da primeira mulher e dos filhos para fundos imobiliários do Grupo Espírito Santo.

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