sábado, 4 de abril de 2015

Nos Estados Unidos, as taxas de juro voltaram a subir e a cotação do dólar apreciou-se. Os fluxos de capitais em direcção aos mercados emergentes podem, assim, ter chegado ao fim



A China está longe da recessão, mas o crescimento caiu para níveis que não se viam há décadas

Nos Estados Unidos, as taxas de juro voltaram a subir e a cotação do dólar apreciou-se. Os fluxos de capitais em direcção aos mercados emergentes podem, assim, ter chegado ao fim

Os mercados emergentes deixaram de ser tão atraentes para os investidores, que voltaram a ver nos activos em dólares fontes de potenciais rendimentos

A China está longe da recessão, mas o crescimento caiu para níveis que não se viam há décadas

Prejudicadas em simultâneo pela maior subida do dólar dos últimos 40 anos, pela expectativa de subida de taxas nos EUA e pela descida do preço de várias matérias-primas, as economias emergentes estão outra vez no centro das atenções. Voltou o receio de ocorrência de crises financeiras graves e há quem adivinhe que se esteja a assistir ao final de um ciclo, com a recuperação dos emergentes face aos países avançados a passar a ser bem mais difícil do que tem sido nos últimos anos.

Desde 2009, no rescaldo da crise financeira internacional, que tudo parecia contribuir para o crescimento das economias emergentes do planeta. Os BRICS — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — e outros países sul-americanos e asiáticos de menor dimensão foram grandes beneficiários das políticas monetárias expansionistas que os bancos centrais dos EUA e da Europa passaram a aplicar.

Com as taxas de juro quase a zero e a injecção de liquidez a ser feita em larga escala, os investidores internacionais tentaram encontrar activos que, embora mais arriscados, fossem capazes de produzir maiores rendimentos. E foi isso que encontraram nas economias emergentes. Além disso, as próprias empresas dos mercados emergentes apostaram em pedir empréstimos a taxas baixas nos EUA e na Europa para depois aplicarem esse dinheiro em casa, onde as possibilidades de obter lucros elevados eram bem maiores. O resultado foi um fluxo de entrada de capitais contínuo nos mercados emergentes que lhes permitiu manter, numa época de abrandamento nas economias avançadas, um ritmo de crescimento elevado.

Esta época, contudo, parece ter agora chegado ao fim. Com a Reserva Federal norte-americana e o Banco de Inglaterra a colocarem um ponto final nas suas compras de activos nos mercados e, especialmente nos Estados Unidos, a estarem já à vista subidas de taxas de juro, o ambiente nos mercados financeiros mudou completamente.

O dólar valorizou-se fortemente face à grande maioria das divisas dos mercados emergentes. Em média, foi uma subida de 8% nos últimos 12 meses, mas, em relação a algumas moedas, foi bem mais acentuado: o dólar apreciou-se no último ano 61% face ao rublo, 43% face ao real e 19% face à lira turca, por exemplo.

O que isto significa é que, agora, os mercados emergentes deixaram de ser tão atraentes para os investidores internacionais, que voltaram a ver nos activos em dólares uma fonte de potenciais rendimentos. Igualmente, todos os estados e empresas de economias emergentes que se endividaram em dólares sentem agora a dificuldade de terem de suportar uma dívida bastante mais alta quando contabilizada na sua própria moeda.

A consequência destes fenómenos tem sido, desde o último trimestre de 2014, uma inversão dos fluxos de capitais, que começam agora a sair das economias emergentes de volta para as economias avançadas. Isto pode ainda acentuar-se mais se, na zona euro, se começar a falar da hipótese de o BCE recuar mais cedo do que o esperado na sua política monetária expansionista.

É claro que uma depreciação das divisas face ao dólar pode também constituir uma ajuda para as exportações das economias emergentes. Mas, para algumas delas, nem isso tem ajudado muito. O problema é que, ao mesmo tempo, se tem assistido a uma descida considerável do preço das matérias-primas nos mercados internacionais. Em particular, o preço do petróleo, mas também o de muitos bens alimentares. Algumas economias, como as do Brasil e da Rússia, por exemplo, são especialmente penalizadas por isto.

Neste cenário, são já evidentes os problemas que várias economias estão a sentir nos últimos meses. No Brasil, a depreciação do real face ao dólar fez subir a inflação e o banco central respondeu subindo as taxas de juro, mas, como consequência, a economia entrou já em recessão em 2014, que se irá prolongar durante este ano.

Na Rússia, a situação ainda se agrava mais por causa do conflito político com a União Europeia e os EUA. A economia está já numa recessão profunda e as autoridades sentem grandes dificuldades em

controlar as flutuações das divisas.

Turquia, Colômbia e Tailândia são outros países de menor dimensão que também têm vindo a sentir problemas.

Na China, a economia ainda está longe de uma recessão, mas o crescimento está a cair para os níveis mais baixos das últimas décadas, o que acaba por ter impacto também nos seus vizinhos asiáticos. É também neste país que pode ser mais notório o impacto sobre as empresas que se endividaram em dólares e que agora ficam prejudicadas pela apreciação da divisa.

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