sábado, 13 de dezembro de 2014

Cottinelli Telmo - 1940 - Exposição do Mundo Português.



O Título deve ser ... 1940 - Exposição do Mundo Português

A exposição foi inaugurada em 23 de Junho de 1940 pelo Chefe de Estado, Marechal Carmona, acompanhado pelo Presidente do Conselho, Oliveira Salazar e pelo Ministro das Obras Públicas, Duarte Pacheco.
Os responsáveis pelo evento foram Augusto de Castro (Comissário-Geral), Sá e Melo (Comissário-Geral-Adjunto), José Leitão de Barros (Secretário-Geral) e Cottinelli Telmo (Arquitecto-Chefe), que incluía pavilhões temáticos relacionados com a história de Portugal, suas actividades económicas, cultura, regiões e territórios ultramarinos. Incluía ainda um pavilhão do Brasil, único país estrangeiro convidado.
O evento levou a uma completa renovação urbana da zona ocidental de Lisboa. A sua praça central deu origem à Praça do Império, uma das maiores daEuropa. A maioria das edificações da exposição foi demolida ao seu término, restando apenas algumas como o actual Museu de Arte Popular e oMonumento aos Descobrimentos (reconstrução com base no original de madeira). A exposição levou também à construção de outras infraestruturas de apoio, como o Aeroporto da Portela.
Situada entre a margem direita do rio Tejo e o Mosteiro dos Jerónimos, ocupava cerca de 560 mil metros quadrados. Centrada no grande quadrilátero da Praça do Império, esta era definida lateralmente por dois grandes pavilhões, longitudinais e perpendiculares ao Mosteiro: o Pavilhão de Honra e de Lisboa (de Luís Cristino da Silva), e do outro lado, o Pavilhão dos Portugueses no Mundo (do próprio Cottinelli Telmo).
Perto do rio, atravessando-se a linha férrea através de uma passarela monumental de colossais cruzados (a Porta da Fundação), encontrava-se a Secção Histórica, (Pavilhão da Formação e Conquista, da Independência, Pav. dos Descobrimentos e a Esfera dos Descobrimentos). Do outro lado, situava-se o Pav. da Fundação, o Pav. do Brasil – país convidado para tal efeito, e o Pav. da Colonização). Atravessando o Bairro Comercial e Industrial, chega-se perto do Mosteiro dos Jerónimos, à entrada da Secção Colonial. No canto precisamente oposto, um Parque de Atracções fazia a delícia dos mais novos. Descendo em direcção ao rio, e para além do Pavilhão dos Portugueses no Mundo, a Secção de Etnografia Metropolitana, com o seu Centro Regional, contendo representações das Aldeias Portuguesas e os Pavilhões de Arte Popular. Por trás deste último pavilhão, encontrava-se o Jardim dos Poetas e o Parque Infantil. À frente do Tejo, com as suas docas, um Espelho de Água com um restaurante abria o caminho para oPadrão dos Descobrimentos e para a Nau Portugal.
De todas estas obras, algumas se destacaram e perduram na memória da actualidade. O Pavilhão da Honra e de Lisboa recebeu as melhores opiniões da crítica. Com 150 metros de comprimento por 19 de altura, e com a sua torre de 50 metros, este pavilhão demonstrava perfeitamente o ideal arquitectónico que o Estado Novo tentava impor, tal como os outros regimes totalitários impunham na Europa. Do Pavilhão dos Portugueses no Mundo, com um risco “simples”, destacava-se sobretudo a possante estátua da Soberania, esculpida por Leopoldo de Almeida – a imagem de uma severa mulher couraçada, segurando a esfera armilar e apoiada num litor legendado com as partes do Mundo, em caracteres góticos.
O Padrão dos Descobrimentos, vindo dos esforços de Cottinelli e de Leopoldo de Almeida, mostrava a verdadeira importância dos descobrimentos na História portuguesa. Constituído por diversas figuras históricas, o Infante D. Henrique destacava-se na sua proa, como timoneiro de todo o projecto expansionista português. De facto, o padrão original, construído em estafe sobre um esqueleto de madeira, teve um triste fim – que abordaremos mais adiante. É de notar que a figura ficou tão presente no imaginário nacional, que o monumento foi reconstruído em 1965, mas desta vez em pedra, e ainda hoje se mantém nas margens do Tejo.
A Nau Portugal mostrou também ser uma magnífica reconstituição do passado. Um facto curioso é que apelidada de “nau”, esta embarcação era na realidade a réplica de um galeão da carreira da Índia do século XVII. Construída nos estaleiros de Aveiro, saiu a primeira vez com destino a Lisboa em Julho – sendo a sua inauguração solene a 8 de Setembro. No entanto, e por mau manuseamento da mesma, esta rapidamente se afundou minutos após a partida – tombou para o lado. Voltando atrás, com grandes esforços para se repor de pé a nau, acabou por ser pilotada até Lisboa por marinheiros ingleses, sob a direcção do comandante Spencer.
Encerrada a 2 de Dezembro, a Exposição recebeu cerca de três milhões de visitantes, constituindo o mais importante facto cultural do regime – regime este que sofreria a sua primeira crise política passados quatro anos, com o fim da Segunda Guerra Mundial e com a derrota dos regimes de Hitler e deMussolini.
in Wikipedia.

Quem é Cottinelli Telmo?
por Miguel Vaz in Alameda Digital

Encontramo-lo quando passeamos por Belém, quando assistimos à Canção de Lisboa. Deparamo-nos com ele na estação de Campolide, na prisão de Alijó, na cidade universitária de Coimbra. Só para dar uns exemplos.

Mas afinal, quem é ele?

José Ângelo Cottinelli Telmo nasceu a 13 de Novembro de 1897. Foi arquitecto, cineasta, bailarino, autor de banda desenhada, fotógrafo, ilustrador e músico. Foi num fundo um artista, no mais estrito sentido da palavra. E por que razão se encontra votado ao mais absurdo e injusto esquecimento? Talvez porque teve o azar de se notabilizar na época errada.

Filho de músicos, Cottinelli Telmo frequentou o Liceu Pedro Nunes, em Lisboa, onde conheceu Leitão de Barros (de quem já se falou no nº3 desta revista) com quem viria a colaborar, através da Lusitânia-film, na produção de Malmequer e Mal de Espanha, ambos de 1918. Durante a juventude, colaborou com múltiplas publicações infantis e juvenis, destacando-se como ilustrador, escritor e pedagogo. Foi o criador de Pirilau, um dos primeiros heróis dos comics infantis portugueses. Durante o mesmo período, participou com ilustrações e gravuras nos principais jornais e revistas nacionais.

Estudou arquitectura na Escola de Belas Artes de Lisboa, curso que terminou em 1920 com a mais alta classificação.

Foi na arquitectura que Cottinelli Telmo mais se distinguiu e onde deixou o seu legado mais visível. Pertence à primeira geração da arquitectura modernista portuguesa, da qual se destacaram igualmente Profírio Pardal Monteiro (1897-1957), Cassiano Viriato Branco (1897-1970) e Luís Cristino da Silva (1896-1976). Não podemos considerar esta geração como um verdadeiro movimento artístico, até porque nunca se verificou um contacto organizado entre os diversos arquitectos (antes colaborações ocasionais). Sucintamente pode dizer-se que a arquitectura modernista surgiu como um reflexo do progresso da engenharia que, com a utilização do ferro e de novos materiais e técnicas, colocava em causa as velhas fórmulas arquitectónicas usadas até aí. A construção passou então a centrar-se no funcionalismo e na simplicidade das formas, substituindo os complexos ornamentos que haviam formado o paradigma arquitectónico durante grande parte do século XIX. Algumas fórmulas foram então importadas pelos jovens arquitectos portugueses, embora a totalidade das bases teóricas do modernismo nunca tenha chegado a ser interiorizada, o que embora dote alguma fragilidade teórica forneceu à primeira vaga modernista portuguesa um toque caracteristicamente nacional. A geração de Cottinelli Telmo não se limitou a copiar modelos do que então se fazia na Europa, adaptou antes os fundamentos modernistas à realidade portuguesa, num processo gradual de aperfeiçoamento que teria como auge a Exposição do Mundo Português de 1940, que marca também o ponto de inflexão da primeira vaga modernista em Portugal.

Cottinelli Telmo iniciou a sua carreira como arquitecto nos Caminhos-de-Ferro (entre 1923 e 1943). Com o advento do Estado Novo, os arquitectos passaram a assumir um papel de relevo no processo de construção nacional desenvolvido nesse período. Milhares de obras públicas foram então planeadas e executadas de Norte a Sul do país, desde cinemas a estações de comboio, passando por estabelecimentos de ensino, tribunais, vias de comunicação, prisões, num fervor construtivo apenas comparável ao ocorrido durante o período da Regeneração cerca de cem anos antes, sob a batuta de Fontes Pereira de Melo.

A verdade é que os arquitectos — em particular os jovens e enérgicos modernistas — aderiram sem reservas ao novo regime, que retribuiu o apoio concedendo-lhes um estatuto equivalente ao obtido através do ensino superior e equiparando-os aos engenheiros, embora na actualidade a classe faça os possíveis para esconder este facto.

Nos Caminhos-de-Ferro, Cottinelli Telmo notabilizou-se imediatamente sendo o responsável, entre outros projectos, pelo arranjo da estação do Rossio e pela nova estação do Sul e Sueste no Terreiro do Paço (1931), edifício de passageiros para Tomar (1932-34) e Carregado (1933), Colónia de Férias da CP na Praia das Maçãs (1943), Sanatório Ferroviário das Penhas da Saúde (1945).

Nesta época realizou ainda os projectos para os pavilhões da exposição do Rio de Janeiro (1922, com Carlos Ramos e Luís da Cunha) e de Sevilha (1929). Em 1932 constrói os estúdios da Tóbis, ao Lumiar (projecto de A.P. Richard), onde realizaria no ano seguinte A Canção de Lisboa, o primeiro filme sonoro inteiramente produzido em Portugal e verdadeiro modelo do humor cinematográfico português. Para além da realização, o argumento desta mítica comédia portuguesa também é da autoria de Cottinelli Telmo, que sempre manteve uma paixão viva pela sétima arte, demonstrada aliás pelas suas colaborações em diversas revistas de cinema.

Em 1934 é chamado pelo notável engenheiro Duarte Pacheco, então acumulando a pasta das Obras Públicas e Comunicações no governo com a presidência da Câmara de Lisboa, para fazer parte da Comissão das Construções Prisionais, o que o fez visitar inúmeros edifícios estrangeiros, sendo autor, entre outras, das cadeias de Alijó, Castelo Branco e Alcoentre (1937-44).

O seu extraordinário currículo de obras públicas motivou o convite para arquitecto-chefe, e como tal responsável, da monumental Exposição do Mundo Português de 1940, onde para além do Plano Geral se responsabilizou pelo pavilhão dos «Portugueses no Mundo», pelo monumento dos Descobrimentos (em conjunto com o escultor Leopoldo de Almeida), pela Fonte e Praça do Império, pela Porta da Fundação e pelo Pavilhão dos Caminhos-de-Ferro. Hoje esquecida e ignorada pelo público em geral, a Exposição do Mundo Português foi o maior evento internacional organizado por Portugal até à Expo’98, lamentavelmente ofuscado pela eclosão da Segunda Guerra Mundial em pleno coração da Europa. Apesar dos especialistas da actualidade teimarem em menorizar a Exposição, considerando-a uma simples manobra propagandística do regime, é bom lembrar que o evento contou com a participação entusiástica da totalidade da vanguarda artística da época, juntando os melhores escultores, pintores, arquitectos e artistas plásticos portugueses, num esforço que teve como objectivo divulgar a grandeza do Império Português, numa época em que o colonialismo navegava ainda a favor dos ventos da História.

Vencedor do concurso para o liceu de Lamego (1931), é o autor do de D. João de Castro, em Lisboa, dos edifícios da faculdade de Ciências de Coimbra (1943) e da Standart Eléctrica, na Junqueira, em Lisboa (1945-48). De 1938 a 1942 foi director da revista Arquitectos, tendo também sido presidente do Sindicato dos Arquitectos, onde foi responsável pela organização do I Congresso da classe. Foi responsável pelo Plano de urbanização de Fátima, para além dos planos da zona marginal de Belém (1941) e da cidade universitária de Coimbra (1943-48), onde mantém o gosto pelos grandes espaços monumentais.

Cottinelli Telmo perderia a vida a 18 de Setembro de 1948, num acidente marítimo em Cascais, interrompendo assim demasiado cedo uma carreira brilhante.

Ao longo dos tempos uma cortina do esquecimento caiu sobre Cottinelli Telmo. Olvidado pelos arquitectos que lhe sucederam, até as informações que se encontram disponíveis sobre si na Internet são bastante limitadas e inexactas, o que para uma das personalidades artísticas portuguesas mais completas e versáteis do século XX é manifestamente injusto. No entanto, à semelhança dos verdadeiros criadores, a sua obra mantém-se viva, sendo essa a maior prova do seu génio artístico.


Cottinelli Telmo. O arquitecto da companhia
Por Rosa Ramos
publicado em 29 Ago 2013 in (jornal) i online
Desenhou o Padrão dos Descobrimentos e realizou o primeiro filme sonoro em português, "A Canção de Lisboa". O nome de Cottinelli Telmo ficou para sempre associado à arquitectura do Estado Novo e da CP
Era 1940, vivia-se o período áureo do Estado Novo e assinalavam-se duas efemérides. Por um lado, os 800 anos sobre 1140, a data da fundação da nacionalidade. Por outro, os três séculos da restauração da independência. Salazar pôs a máquina da propaganda a trabalhar e organizou um evento a uma escala nunca antes vista em Portugal: a Exposição do Mundo Português. À inauguração, a 23 de Junho, acorreram as maiores figuras do regime: do próprio Salazar ao cardeal Cerejeira, passando por Óscar Carmona ou Duarte Pacheco, na altura ministro das Obras Públicas e presidente da Câmara de Lisboa. Até Dezembro, os pavilhões construídos em Belém - para a posterioridade sobrou o Padrão dos Descobrimentos - receberam três milhões de visitas. Por trás do clímax da propaganda nacionalista estava o nome do arquitecto-chefe da exposição: Cottinelli Telmo.

Filho de uma pianista italiana, José Angelo nunca mais conseguiu descolar-se do rótulo de arquitecto do regime, até pelo número de projectos que assinou ao serviço do Estado Novo. Em 1930, e depois de ter feito carreira na CP - chamavam--lhe o "arquitecto da Companhia" -, recebeu a primeira encomenda de Salazar: o projecto do novo liceu de Lamego. Cottinelli foi seleccionado num concurso que acabaria por consagrar novos arquitectos e abrir o gosto oficial pelo modernismo em Portugal. Mais tarde, o Ministério das Obras Públicas encomenda-lhe os projectos de um conjunto de cadeias espalhadas por todo o país. A década de 1940 é de ouro para o arquitecto: Cottinelli desenha obras tão diversas como a Urbanização do Santuário de Fátima, a Cidade Universitária de Coimbra, o edifício do Governo Militar ou a Standard Eléctrica em Lisboa.

Mas a maior parte dos trabalhos foi mesmo ao serviço da CP. O primeiro grande projecto que os caminhos-de-ferro lhe encomendaram foi um imponente sanatório para ferroviários tuberculosos na serra da Estrela - considerado, à época, um dos maiores edifícios de toda a Península Ibérica. Muitas das antigas estações e apeadeiros de norte a sul foram idealizados por Cottinelli Telmo e construídos nas décadas de 1920 e 1930, altura de recuperação económica da Companhia dos Caminhos-de-Ferro e em que a arquitectura ferroviária era dominada por um padrão assumidamente nacionalista.

No entanto, o percurso de Cottinelli Telmo não se esgotou na arquitectura. Depois de ter passado pelo Liceu Pedro Nunes, entrou para a Escola de Belas-Artes, onde foi actor e compositor nos espectáculos que os alunos promoviam anualmente. Nessa altura integrou o grupo responsável pela revista "Sphinx" - que revelava novos talentos nas artes - e destacou-se nos bailados de Almada Negreiros e nas primeiras experiências cinematográficas de Leitão de Barros. Em 1933 assina "A Canção de Lisboa", com Beatriz Costa e Vasco Santana, o primeiro filme sonoro nacional e que inaugurou o género da comédia portuguesa. Pelo meio, Cottinelli Telmo ainda trabalhou na ilustração, em banda desenhada e como jornalista. A obra pode até ter sido extensa e variada, mas Cottinelli Telmo morreu cedo, com apenas 52 anos, num acidente de barco no Guincho. Dá nome a ruas em Lisboa, Sintra, Cascais, Amadora e Entroncamento.

















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