quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Visitámos o Cricket Club, um dos sítios mais exclusivos do Porto



Visitámos o Cricket Club, um dos sítios mais exclusivos do Porto

Por Augusto Freitas de Sousa
publicado em 17 Nov 2014 in (Jornal) i online

Há pouco tempo a lista para sócio chegava aos dez anos. Hoje a espera é menor, mas ainda continua entre os clubes mais exclusivos
Timothy John Andersen Chambers, habitualmente conhecido por Tim Chambers nasceu em Inglaterra quase por acaso. A família há muito que estava em Portugal - "o avô casou com D. Branca Bolhão Pato", lembra com um sorriso no olhar. Estabeleceram-se em Vila Verde, Braga, em 1850, onde compraram terras e viveram da agricultura. É ele o presidente do Oporto Cricket and Lawn Tennis Club, o mesmo que abre as portas de um clube que, apesar da exclusividade e das tradições, gosta de frisar a abertura à sociedade portuguesa, neste caso, portuense. Todavia, o clube, descendente do "gentleman's club" inglês da Rua das Virtudes, no Porto, continua a reservar o estatuto de "full members" para os ingleses ou luso-ingleses.


O percurso do presidente do clube é um exemplo da vida da comunidade inglesa no Porto, que se divide entre o clube, a Feitoria inglesa, a Oporto British School e, em alguns casos, a igreja inglesa. Apesar de Chambers ter nascido no Reino Unido, o bisavô, o avô e o pai nasceram em Portugal. Passou cinco anos da sua infância num colégio inglês, formou-se numa universidade na Suíça, ganhou experiência de trabalho em Londres e regressou ao Porto para trabalhar com o pai. É casado em segundas núpcias com uma britânica. Admira Portugal, por vezes com mais empenho que os próprios portugueses. Hoje trabalha numa empresa tecnológica em Santa Maria da Feira.

No Porto, o clube passa despercebido aos olhares menos atentos. Um portão discreto para a Rua do Campo Alegre - de carro entra-se e sai-se pela via da esquerda - com um caminho que termina na "club house". A casa possui um restaurante para 50 pessoas, um "lounge bar", uma sala de leitura, uma sala "snack" com dois terraços, uma sala de televisão, salão de jogos, sala de bilhar e oito quartos duplos para alugar. No exterior, uma piscina ao ar livre, seis courts de ténis e um campo, habitualmente reservado para o cricket, mas com outras funcionalidades como o futebol.


Tim Chambers explica que entre Abril e Junho vêm 14 equipas de cricket de Inglaterra. Uma modalidade que acaba por envolver sócios e não sócios durante um extenso período de tempo, uma vez que "se pode jogar até aos 70 anos ou mais", refere. Mais uma tradição que "o clube faz questão de manter", esclarece.

Há pouco tempo, a lista de sócios tinha uma média de espera de 10 anos para novas inscrições, mas os responsáveis esforçaram-se por abrir mais candidaturas e hoje são apenas uns meses, depois de ser proposto por dois membros "full" ou "exceptional full". Ainda assim são aceites depois de uma votação.

EXCLUSIVO
O clube conta com 984 sócios classificados por: honorários, full, exceptional full (que entretanto foi extinto), associate, non-resident country, junior, diplomatic, non-resident over-seas, temporary e corporate. Os honorários são usualmente os embaixadores e cônsules, enquanto nos full members estão os elementos das famílias inglesas ou luso-inglesas, por exemplo, os Symington que têm 19 full. Entre os associados estão nomes como o ministro da Defesa, Aguiar Branco, os banqueiros Alípio Dias e Jardim Gonçalves, o ex-governante Mariano Gago ou os empresários Américo Amorim e Paulo Azevedo. Todos pagam uma jóia de 656 euros e, por ano, cerca de 1000 euros. Um dos membros overseas, residentes fora de Portugal, era o ex-jogador do FC Porto, Mickey Walsh.


Tim Chambers lembra que além das actividades desportivas e de lazer do clube, há datas tradicionais "que todos os anos são assinaladas". É o caso do aniversário da rainha em Junho, o bazar de Natal, o "Goose lunch", a festa de Verão e a "St. Andrews Ceilidh", um baile tradicional escocês, no último sábado de Novembro, que este ano chegou a correr riscos com o referendo que decorreu na Escócia. O presidente explica que a questão foi amplamente discutida no clube, mas "todos os membros se manifestaram contra a separação".

No Oporto Cricket and Lawn Tennis Club, o sr. Alberto é dos funcionários mais antigos. Já veio do velho clube na Rua das Virtudes e trabalhou cerca de 37 anos sem qualquer outra profissão. Reformou-se na recepção do clube, mas, recorda Tim Chambers "não consegue estar longe do clube e passa por cá para ajudar em algumas tarefas". São 26 empregados que mantêm de pé um dos clubes mais exclusivos do país.


O Oporto Cricket and Lawn Tennis Club foi originalmente formado em 1855, no Candal, em Vila Nova de Gaia. Entre os membros fundadores estão as famílias Sandeman, Reid, Tait, Cassels, Sellars, Dow, Warre e Fladgate, ainda hoje com representantes entre os membros do clube. O Clube Britânico do Porto (Virtudes) foi fundado em 1909 e o terreno do Campo Alegre adquirido em 1923, mas os dois clubes só se juntaram em 1967. Algumas parcelas do terreno comprado, as que se estendem para a Rua do Campo Alegre, no Porto, acabaram por ser vendidas em 1987 para financiar a ampliação do clube e a construção de algumas instalações.

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