segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Investimento estratégico chinês em Portugal “está agora a começar”. Caso dos vistos gold "pode gerar situações sensíveis com o Estado chinês"

“( ...) A China tem hoje mais influência em Portugal do que tinha antes de 2011…
Sim, claramente.  A influência é hoje muito mais significativa, não só em termos económicos mas também porque é hoje evidente que a China, que consolidou a sua posição quanto actor global, está activamente a construir a sua presença no Atlântico sul e no Atlântico no seu conjunto. Já manifestou, perante a desactivação da Base das Lajes e a retirada norte-americana, vontade de ocupar essa posição. E a questão dos Açores, que está claramente em cima da mesa, não se reduz à questão das Lajes, embora para a China ter uma base militar no coração da NATO seria algo muito relevante. Há uma outra questão central, na procura da China por recursos naturais, pelo seu controlo, que é a plataforma continental portuguesa.

Também estão interessados?
Há um interesse enorme, e a aproximação aos Açores também tem a ver com isso. Por parte da China, há uma clara compreensão de que Portugal não tem capacidade financeira para explorar os recursos da plataforma continental, e a capacidade tecnológica também não é suficiente. Da mesma forma, há a percepção de que a Europa vai ser lenta e que a resposta concertada não vai chegar a tempo. Assim, perfilam-se como o parceiro privilegiado.

Estamos a falar de que tipo de recursos a explorar? Pescas?
A questão da pesca é hoje essencial para a China, que tem de garantir a alimentação de uma população crescente. Muitos dos conflitos territoriais onde está envolvida, nomeadamente com o Japão, têm a ver também com os recursos piscícolas. A China sabe que, perante os riscos de insegurança alimentar a que está sujeita, tem de garantir essa fonte de abastecimento. Mas há também a questão dos recursos naturais, de exploração do subsolo, que implica investimentos muito significativos. A prazo, esse é também um objectivo estratégico chinês. Se tiverem uma posição forte na economia portuguesa, ficam com condições para condicionar, de forma significativa, as decisões que forem tomadas nessa matéria.”
Miguel Santos - PÚBLICO

Investimento estratégico chinês em Portugal “está agora a começar”
LUÍS VILLALOBOS 17/11/2014 – PÚBLICO

Miguel Santos Neves, investigador e especialista em assuntos chineses, destaca que Portugal e a UE estão a olhar passivamente para o investimento chinês, sem uma resposta adequada às acções concertadas do gigante asiático.

Miguel Neves destaca que há um "interesse enorme" da China na plataforma continental portuguesa



Miguel Santos Neves, doutorado pela London School of Economics and Political Science em relações internacionais e direito internacional, começou a estudar os assuntos chineses na década de 90, acompanhando de perto a transição de Macau e Hong-Kong para a China. Recentemente, publicou com Annette Bongardt um trabalho fundamental para perceber o actual quadro dos investimentos chineses e da comunidade deste país em Portugal. Para este investigador da Associação de Estudos Estratégicos Internacionais (NSIS, na sigla em inglês) e professor na Universidade Autónoma de Lisboa, que tem desempenhado as funções de director dos programas “Ásia e Migrações” do Instituto de Estudos Estratégicos Internacionais, Portugal está a aderir por completo na estratégia da China em relação à Europa, que passa por “dividir e reinar”. Ao vender a EDP e a REN a empresas estatais chinesas, que aproveitaram as brechas abertas pela crise financeira, o país, que faz parte de uma estratégia chinesa muito mais abrangente, perde relevância

Há um antes e depois no relacionamento entre a China e Portugal a partir de 2011, com os investimentos avultados de empresas estatais chinesas na EDP e REN. Seguiu-se a Fosun, que ficou com a Fidelidade, entrou na REN e ganhou a corrida à ES Saúde. Como analisa estes investimentos?
No quadro de relacionamento entre Portugal e a China houve uma fase completamente centrada na questão de Macau, até à transição. Depois há outra fase, de relativo declínio, sem essa componente política e com relações económicas marginais entre os Estados. E, desde o final da década de 2000, começou a haver uma transformação muito significativa que resultou da confluência de dois factores: por um lado, a crise económica e financeira [a nível mundial], seguida da crise na zona euro e da necessidade de ajustamento em Portugal e, por outro lado, uma aceleração do processo “go global” da China, lançado no início da década de 2000. Estes dois processos cruzaram-se em Portugal, com as oportunidades de investimento que resultaram do programa de privatizações, e a intenção que a China tem de se envolver também em zonas de interesse português, o espaço lusófono, como Brasil, Angola e Moçambique. Além disso, a China vinha à procura de um conjunto de activos que permitissem às suas empresas campeãs uma consolidação da posição na economia global. Há de facto uma mudança qualitativa no relacionamento entre os dois países desde 2011, por duas razões. Verifica-se uma intensificação dos fluxos económicos, sem precedentes, entre os dois países, com a China a ter uma posição marcante em vários sectores estratégicos. E isso não parou, está agora a começar. Mas, sendo a China um actor global, Portugal é apenas uma peça de uma estratégia muito mais abrangente e isso vai ter implicações para o nosso posicionamento na economia global e no nosso próprio relacionamento com a União Europeia

Vê riscos nestes investimentos?
Os riscos resultam da inexistência de uma estratégia para lidar com esta mudança tão significativa. Podemos ter algum risco no plano económico, com vários sectores estratégicos controlados, no fundo, pela mesma entidade: o Estado chinês. Porque são investimentos de empresas estatais, onde há uma coordenação.

A Fosun não é estatal.
A Fosun é uma empresa privada, mas os privados também têm recurso às chamadas ajudas de Estado, e estão integradas numa estratégia definida pelo Estado chinês. É de facto privada e não podemos confundir tudo, mas tem uma relação de grande proximidade em relação ao governo chinês, até pela via do financiamento. Em muitos casos, são os bancos públicos que garantem os meios para este processo de internacionalização.

Estava a referir-se à vertente política…
A questão da vertente política tem a ver com a margem de manobra da decisão, à medida que o investimento chinês vai ganhando maior expressão e diversificando-se por vários sectores, mas, também, com o nosso relacionamento com os países da União Europeia. Este investimento e o reforço da influência da China em Portugal também tem implicações para a gestão das relações entre a União Europeia e a China que, desde há muito tempo, demostrou pretender evitar uma frente coesa que negoceie e proponha um conjunto de regras no relacionamento bilateral. A melhor estratégia é, obviamente, ir dividindo e criar divergência de interesses entre os vários países europeus. Essa é uma questão política que tem de ser ponderada. Portugal está a entrar por completo na lógica da China, com a primazia de um relacionamento bilateral, assimétrico. Acho que Portugal não deve ficar prisioneiro dessa relação, porque isso vai criar problemas futuros.

O relacionamento bilateral de que fala é também muito unidireccional. Muito dificilmente uma empresa portuguesa seria o maior accionista de uma grande eléctrica chinesa…
Exactamente. E esse é um problema não só de Portugal mas também dos outros Estados europeus, que passa pela inexistência de reciprocidade ao nível destes investimentos.   Isso fazia parte do pacote de negociação, mas se neste momento a entrada de empresas chinesas em sectores como o financeiro e a energia é feita sem grandes restrições, acho difícil que seja possível alguma reciprocidade no futuro. A posição negocial está enfraquecida. É por isso que se questiona se não devia haver uma estratégia coordenada no âmbito da União Europeia para lidar com esta questão, sobretudo com o investimento de empresas estatais em sectores estratégicos, através de uma visão integrada. Saber qual é o impacto de investimentos no mesmo sector em diversos Estados membros [a State Grid, por exemplo, já entrou na congénere da REN em Itália], e o que é que isso significa para o mercado único, é algo que ainda não está avaliado.

Essa falta de visão integrada é um erro.
É um erro. A Europa está passivamente a olhar para o investimento chinês. É claro que este dá um contributo no imediato, é capital que entra e permite ajudar o financiamento de algumas grandes empresas, mas, a prazo, tem outras consequências que não estão a ser antecipadas, nem há uma estratégia de resposta.

Que tipo de consequências?
Do ponto de vista do país, envolve a perda de relevância num conjunto de empresas que seriam importantes para a afirmação de Portugal na economia global. O exemplo da China mostra que a existência de empresas estratégicas, com o apoio do Estado, é hoje essencial. A ideia de que estamos perante um mercado global, de concorrência, é em parte falacioso. Há uma crescente interferência de factores políticos, e os Estados, numa lógica de diplomacia económica, têm de estar activos na promoção de interesses, sejam ou não accionistas. Assistimos hoje a um entrecruzamento muito significativo entre a economia e política.

Portugal poderá investir mais na China?
Pode-se supor que poderão haver algumas oportunidades de investimentos portugueses na China, mas não em sectores estratégicos, que sejam de alguma forma propiciados pelas empresas chinesas que aqui estão. É uma hipótese, em teoria. E a China, quando investe aqui, também está a pensar no seu mercado interno, para estar preparada para concorrer com outros grandes players internacionais. O caso da Fosun é claro. Seguros de saúde e fundos de pensões são dos produtos mais procurados pela classe média chinesa, que procura segurança face ao futuro. E, na China, a capacidade de resposta é limitada, sabendo que, no âmbito dos acordos comerciais, tem de estar preparada para o mercado não ser controlado por grandes multinacionais estrangeiras. Está agora a ganhar essa capacidade para poder competir no seu mercado. A China poderá mobilizar outras empresas portuguesas, que não controla mas que cooperam com as suas empresas, para criar uma resposta sólida no mercado chinês. Mas isto é uma hipótese, não quer dizer que se venha a concretizar.

Um dos factores que ajudou as empresas estatais chinesas a entrar na REN e na EDP foi, além do preço, a envolvente de grandes linhas de financiamento. A forma como a Europa lidou com a crise dos países periféricos, como Portugal, onde o acesso ao crédito parou, facilitou a entrada da China?
As hesitações e as deficiências da resposta europeia à crise abriram claramente as portas à China, que agarrou a oportunidade. Acho que, do ponto de vista chinês, é um pouco incompreensível que uma comunidade que pretende reforçar o seu peso e influência em termos da economia global, reaja desta maneira a uma crise global. Certo é que a China aproveitou essa oportunidade para cimentar a sua posição no seio da União Europeia.

Há então uma visão de curto prazo, contra uma de médio-longo prazo da China. Além  disso, ninguém nas instâncias europeias está a acompanhar o investimento que está a chegar a uma enorme velocidade, de forma aparentemente dispersa mas concertada?
Essa é uma discrição muito correcta. No caso de Portugal, e de outros Estados europeus, há uma visão essencialmente de curto prazo, de resposta a problemas imediatos, como os de financiamento.

Há também uma componente ideológica, no que diz respeito às privatizações.
Claro. A China, sendo um dos campeões da globalização, tem um Estado extremamente interveniente e que comanda o processo de intervenção na economia global. Se há algo a aprender com a própria experiência chinesa, nomeadamente no caso português, é esta ideia, muitas vezes repetida, que o Estado tem de abandonar o sector empresarial. É uma ideia absolutamente desajustada às exigências e desafios que a economia global coloca.  Porque está a perder um conjunto de instrumentos estratégicos para consolidar os interesses portugueses. E é preciso ser pragmático, realista. Não se trata de reconstituir um sector público de grande dimensão, mas também não é considerar que tudo o que é público deve ser necessariamente privatizado. Aliás, há vários exemplos de que a gestão privada nem sempre é eficiente.

O que é que se pode esperar mais dos investimentos chineses, a médio prazo?
As PME são um elemento essencial da economia chinesa, e enfrentam problemas complicados, como excesso de capacidade produtiva, tendo necessidade de se internacionalizar. As grandes empresas vão à frente, abrindo o caminho, mas as PME virão a seguir. É de esperar que essa vaga aconteça, através, por exemplo, de fornecedores das grandes empresas, pelo que haverá uma diversificação.

A China tem hoje mais influência em Portugal do que tinha antes de 2011…
Sim, claramente.  A influência é hoje muito mais significativa, não só em termos económicos mas também porque é hoje evidente que a China, que consolidou a sua posição quanto actor global, está activamente a construir a sua presença no Atlântico sul e no Atlântico no seu conjunto. Já manifestou, perante a desactivação da Base das Lajes e a retirada norte-americana, vontade de ocupar essa posição. E a questão dos Açores, que está claramente em cima da mesa, não se reduz à questão das Lajes, embora para a China ter uma base militar no coração da NATO seria algo muito relevante. Há uma outra questão central, na procura da China por recursos naturais, pelo seu controlo, que é a plataforma continental portuguesa.

Também estão interessados?
Há um interesse enorme, e a aproximação aos Açores também tem a ver com isso. Por parte da China, há uma clara compreensão de que Portugal não tem capacidade financeira para explorar os recursos da plataforma continental, e a capacidade tecnológica também não é suficiente. Da mesma forma, há a percepção de que a Europa vai ser lenta e que a resposta concertada não vai chegar a tempo. Assim, perfilam-se como o parceiro privilegiado.

Estamos a falar de que tipo de recursos a explorar? Pescas?

A questão da pesca é hoje essencial para a China, que tem de garantir a alimentação de uma população crescente. Muitos dos conflitos territoriais onde está envolvida, nomeadamente com o Japão, têm a ver também com os recursos piscícolas. A China sabe que, perante os riscos de insegurança alimentar a que está sujeita, tem de garantir essa fonte de abastecimento. Mas há também a questão dos recursos naturais, de exploração do subsolo, que implica investimentos muito significativos. A prazo, esse é também um objectivo estratégico chinês. Se tiverem uma posição forte na economia portuguesa, ficam com condições para condicionar, de forma significativa, as decisões que forem tomadas nessa matéria.


ENTREVISTA
Caso dos vistos gold "pode gerar situações sensíveis com o Estado chinês"
LUÍS VILLALOBOS 17/11/2014 - PÚBLICO
Os vistos dourados não são apenas uma questão económica, e “têm uma elevada sensibilidade política”, diz Miguel Santos Neves, especialista em questões chinesas.




Miguel Santos Neves, doutorado pela London School of Economics and Political Science em Relações Internacionais e Direito Internacional, começou a estudar os assuntos chineses na década de 90, acompanhando de perto a transição de Macau e Hong-Kong para a China. Recentemente, publicou com Annette Bongardt um trabalho fundamental para perceber o actual quadro dos investimentos chineses e da comunidade deste país em Portugal ("The chineses business community at a crossroads between crisis response and China’s assertive global strategy — the case of Portugal". Este investigador da Associação de Estudos Estratégicos Internacionais (NSIS, na sigla em inglês) e professor na Universidade Autónoma de Lisboa destaca que o caso da "operação labirinto" é muito grave e que criou "uma mancha em todo o processo, levantando questões sobre as especiais exigências institucionais na sua gestão".

A maior parte dos visto gold concedidos por Portugal estão ligados aos investimentos em imobiliário, e quem mais têm recorrido a este regime são cidadãos chineses. O que explica este fenómeno? Que tipo de investidores são estes?
O investimento em imobiliário representa mais de 90% do total de vistos, 80% dos quais foram atribuídos a cidadãos chineses. Estes investidores são essencialmente membros da nova classe média chinesa com elevado poder de compra, incluindo quadros das estruturas do Estado e grandes empresas estatais e empresários, que concretizam estes investimentos com diversas motivações: reforço do prestígio social associado à compra de activos na Europa; pequenos e médios empresários que procuram diversificar riscos face a incertezas da economia chinesa; obtenção de um visto de residência por razões de segurança e/ou melhoria da qualidade de vida. 

O aumento significativo de cidadãos chineses é explicado por três factores essenciais. Em primeiro lugar, a motivação de procura de segurança jurídica por parte dos principais beneficiários do crescimento económico chinês que pretendem proteger a sua recente riqueza acumulada e não encontram na China as garantias jurídicas necessárias em resultado da inexistência de um estado de direito consolidado onde o risco de confisco arbitrário existe. Este investimento e a obtenção do visto de residência constitui uma "apólice de seguro", um “plano b” caso algo corra mal na China.  Por outro lado, alguns observadores têm notado que os fluxos de capitais provenientes da China têm  aumentado em paralelo com a intensificação das campanhas internas de combate à corrupção em curso. Trata-se de um processo de grande escala que originou até a criação de empresas especializadas como a China Business Immigration (CBIEC) baseada em Shenzhen.

Em segundo lugar, o cancelamento pelo Canadá em Fevereiro de 2014 do seu "immigrant investor programme"de concessão de vistos a empresários, activo desde 1986 e um dos mais procurados por investidores chineses. Este cancelamento deixou cerca de 45.000 candidaturas de investidores chineses pendentes e redireccionou a procura para outros países com sistemas de golden visa, entre os quais Portugal.

Em terceiro lugar, o novo fluxo de investimentos chineses de grande escala em Portugal a partir de 2011, concretizados na sua maioria por grandes empresas estatais, foi um catalizador dos investimentos ao abrigo do golden visa. Os investimentos de grande escala são um sinal político da prioridade atribuída pela China a Portugal e arrastaram consigo investidores de média dimensão que, para além de aproveitarem oportunidades geradas pela própria crise económica, também encaram a crescente presença e influência de grandes empresas estatais chinesas como um factor de redução de riscos políticos e "protecção" dos seus investimentos.

O predomínio de investimentos associados à aquisição de imobiliário e a reduzida expressão das outras modalidades - investimento produtivo ou criação de postos de trabalho -  significa que o objectivo prioritário é a obtenção do visto e não tanto um projecto empresarial. De alguma forma o sistema ainda está a ser testado pelo que, numa primeira fase, os investidores optaram pela modalidade que envolve menor grau de risco.

 Estes são investidores com alguma capacidade financeira, uma vez que é necessário um investimento imobiliário de 500 mil euros ou superior. Pode-se antecipar o alargamento dos negócios de alguns destes investidores em Portugal?
Em geral são investidores com significativa capacidade financeira mas que, face à natureza recente do sistema do golden visa em Portugal, têm escolhido a modalidade que envolve menor exposição ao risco e menos compromissos futuros. Quanto ao alargamento futuro dos investimentos e a inclusão de investimentos produtivos, até agora não visíveis, esse é um cenário possível. Com efeito, por um lado a concretização de um processo de investimento de longo prazo requer mais tempo e planeamento. Por outro lado, alguns destes investimentos em imobiliário poderão funcionar para os investidores como um teste, para aferirem como corre o processo e a relação com as instituições públicas antes de se comprometerem com investimentos mais significativos e de maior risco. Assim, numa segunda fase poderemos assistir à concretização de investimentos de maior dimensão por parte destes investidores de média dimensão. Alguns desses investimentos poderão até ter alguma ligação operacional aos investimentos chineses de grande escala já concretizados ou que venham ainda a realizar-se nos próximos meses.

 A “Operação Labirinto” veio mostrar a existência de corrupção na concessão destes vistos, com o envolvimento de detentores de algos cargos públicos e cidadãos chineses. Como vê este caso?
Trata-se de um caso muito grave que  criou uma mancha em todo o processo, levantando questões sobre as especiais exigências institucionais na sua gestão. Face à enorme  e crescente procura de vistos de residência por parte de cidadãos chineses, agravada pelo cancelamento do sistema canadiano, a  pressão sobre o sistema é muito grande o que requer uma capacidade institucional robusta para controlar as diferentes dimensões associadas: de imigração; de segurança, ligadas designadamente ao risco de branqueamento de capitais envolvido no processo; e políticas, considerando que alguns dos processos envolvem "capital de refúgio" e podem gerar situações sensíveis com o Estado chinês. Os vistos dourados não são apenas uma mera questão económica de atracção de investimento, têm uma elevada sensibilidade política. Neste contexto, a situação de corrupção a alto nível que está a ser investigada, evidencia não só um problema endémico na estrutura do Estado mas também que não estamos ainda preparados para lidar com operações desta escala as quais, para além de criarem novas exigências, têm o potencial de se transformarem elas próprias num factor adicional de agravamento da corrupção e de outras formas de criminalidade. Espero que este episódio seja apenas um caso excepcional e não um mau presságio no novo quadro de transformação estrutural do relacionamento económico e político Portugal-China que iniciámos em 2012 e que será muito relevante para a economia portuguesa. Infelizmente, quer Portugal quer a China se debatem com problemas sérios e endémicos de corrupção pelo que terão de cooperar de forma estreita para combater este fenómeno.


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