sábado, 27 de setembro de 2014

Keeping up with the Antónios, por José Diogo Quintela


Keeping up with the Antónios
José Diogo Quintela / 28-9-2014 / PÚBLICO

Desde que, em 1960, os debates entre John Kennedy e Richard Nixon foram televisionados, percebeu-se que a imagem dos políticos é fundamental. Kennedy, com o seu estupendo ar jovem e bronzeado, ganhou a um Nixon pálido e de barba por fazer. Passados 54 anos, a imagem ainda conta. No debate entre Seguro e Costa, o vencedor foi Kennedy. Seguido de Nixon. Ambos ficaram com melhor imagem do que os Antónios, uma vez que estão mortos e não participaram naquele escarcéu indecoroso.

A TVI cometeu um erro tremendo ao estrear a Casa dos Segredos antes do fim da campanha para as Primárias do PS. Não é por acaso que se inscreveram 150 mil simpatizantes no PS e apenas 105 mil concorrentes no reality show. O povo português demonstrou bem que, em termos de escandaleira e baderna pública, a dupla Seguro & Costa ganha a um conjunto de cobaias tatuadas a participar numa experiência sociológica.
Aliás, como a Casa dos Segredos começou na semana passada e as Primárias do PS são hoje, houve potenciais participantes que optaram por não entrar no programa da TVI para não perderem o último bate-boca dos Antónios. Em termos de baixo nível, é como marcar um jogo de futebol entre amigos para a mesma hora da final da Champions. Há jogadores amadores que preferem ficar em casa a ver os profissionais jogarem.

Lembremo-nos de que Costa e Seguro são profissionais da grosseria, andam nisto há anos e estão em excelente forma. Basta ver que, pela primeira vez, os candidatos a eleições não precisaram de visitar nenhuma praça para haver peixeirada.

A campanha foi tão ordinária que parecia o reality show americano Keeping up with the Kardashians, só que com mais acusações de traição entre os protagonistas. E com nádegas menos anafadas. O momento no último debate em que os candidatos se confrontaram por terem gravatas iguais foi igualzinho à cena em que uma das irmãs Kardashian, cujo nome começa por K, apareceu com um top igual ao de outra irmã Kardashian (aquela cujo nome também começa por K e não uma das outras cujo nome também começa por K), seguindo-se rebaldaria familiar rasteira.

Há outras semelhanças entre o programa que acompanha a vida das galdérias Kardashian e a campanha das Primárias. Por exemplo, aprende-se imenso sobre o que é que os intervenientes pensam sobre as falhas de carácter dos outros e sobre as suas próprias qualidades. Aprende-se também que, quer as Kardashian quer os Antónios, não têm uma única ideia para Portugal. Se bem que uma das irmãs cujo nome começa por K fez há tempos uma observação muito pertinente sobre o nível de serviço nos hotéis do Norte de África, em que Portugal estava incluído. Se quisermos ter uma ideia do que sucedeu na campanha, já será uma ideia a mais do que os candidatos tiveram.


Agora, aconteça o que acontecer, António José Seguro será sempre vencedor. Mesmo que perca, a sua bandeira da redução do número de deputados será hasteada. Depois desta campanha tão rasca, é provável que o número de deputados vá mesmo diminuir. Tudo bem que será o número de deputados do PS, mas há que começar por algum lado.    

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