sábado, 13 de setembro de 2014

A distracção de Marinho e Pinto Com este discurso de populismo primário, Marinho e Pinto vai voar. Mas baixinho EDITORIAL / PÜBLICO. Marinho e Pinto assume criação de nova força política Presidente do MPT diz que faltou “transparência” por parte de Marinho e Pinto e que o partido foi uma “barriga de aluguer”



A distracção de Marinho e Pinto
Com este discurso de populismo primário, Marinho e Pinto vai voar. Mas baixinho
EDITORIAL / PÜBLICO – 13-9-2014

Marinho e Pinto consegue surpreender sempre que fala. Uma surpresa de um tipo particular, daquelas que nos fazem elevar as sobrancelhas de incredulidade. Ontem, revelou que ao chegar a Bruxelas, onde é eurodeputado há dois meses, descobriu que iria ganhar 18 mil euros por mês. “Dezoito mil euros num país onde o salário mínimo é de 500 euros!!!” O jornalista da SIC perguntou se, estando tão horrorizado, iria Marinho e Pinto devolver o dinheiro. O advogado respondeu com uma pergunta: “Devolver? Não. Porque eu preciso dele. Um comunista distribui o seu salário pelo proletariado?” Mas a pergunta é outra: alguém em Portugal acredita que Marinho e Pinto desconhecia o valor do salário dos eurodeputados? Não se lembra ele, por exemplo, da moção que Miguel Portas apresentou no Parlamento Europeu, quando a crise internacional estalou, propondo uma redução de 5% do salário dos eurodeputados? Ou de Rui Tavares, que criou uma bolsa de investigação com 10% do seu salário de eurodeputado? Haverá certamente outros exemplos. Se não lê jornais, terá por certo olhado para a sua folha salarial quando tratou dos papéis antes de fazer as malas. Claro que ontem, quando anunciou que vai afinal deixar o Movimento Partido da Terra dois meses depois de ter sido eleito, para criar um novo partido e candidatar-se às legislativas do próximo ano, já era altura para se insurgir publicamente contra o escândalo dos 18 mil euros mensais. Esqueceu-se de o fazer antes, quando andou em campanha eleitoral. Do mesmo modo que, agora que quer ir para o Parlamento português, não fará apelos a que os portugueses façam “greve à democracia por um dia” e, com a sua abstenção, criem um “solavanco democrático”. Marinho e Pinto entrou como um furacão sem ideologia e uma retórica antipartidos e anti-sistema típica deste início de século. Quando era jovem, queria ser piloto. Com este discurso de populismo primário, vai voar. Mas baixinho.

Marinho e Pinto assume criação de nova força política
Presidente do MPT diz que faltou “transparência” por parte de Marinho e Pinto e que o partido foi uma “barriga de aluguer”
13-9-2014 / PÚBLICO/LUSA

O eurodeputado Marinho e Pinto, eleito pelo MPT, pretende criar um novo partido este ano e conta ter o processo pronto para entregar no Tribunal Constitucional até ao final de Outubro, disse ontem o próprio à agência Lusa. O programa será ainda elaborado no âmbito de uma reunião de fundadores, sublinhou, frisando ainda que reúne apoiantes em todo o país, das mais variadas áreas.
Depois de aprovada a declaração de princípios e os estatutos com que se apresentará o novo partido — ainda sem nome —, serão recolhidas as assinaturas necessárias (7500) a submeter ao Tribunal Constitucional.
“Estamos a trabalhar na elaboração da declaração de princípios e do projecto de estatutos, e quando estiver concluído convocamos uma assembleia de fundadores para fazermos a aprovação”, afirmou o advogado, eleito nas últimas europeias pelo Movimento Partido da Terra (MPT). O partido, acrescentou, terá como principal objectivo “contribuir para a resolução dos graves problemas” do país. “É um partido que irá pôr os interesses dos cidadãos acima dos interesses dos agentes políticos”, disse. O nome será discutido e aprovado em reunião da assembleia constituinte, ainda não agendada.
O ex-bastonário da Ordem dos Advogados declarou ainda que o partido será constituído de acordo com as convicções de “um conjunto muito amplo de pessoas totalmente insatisfeitas com a situação que o país atingiu” e com o que classificou de “degenerescência das instituições democráticas e o apodrecimento que se verifica em muitas instituições da República”.
São essas pessoas “inconformadas” que querem “contribuir para uma nova forma de fazer política, com mais honestidade”, frisou, em declarações à Lusa por telefone.
Também à TSF, Marinho e Pinto afirmou que entende que “só com um novo partido é que se consegue contribuir para os objectivos pretendidos, contribuir para a resolução dos problemas dos portugueses, da democracia portuguesa e do próprio Estado de direito”. Questionado sobre se isso não seria possível no MPT — partido pelo qual concorreu às eleições europeias —, o advogado respondeu negativamente. “Concluímos que não, eu concluí que não e, portanto, vamos avançar com um novo partido, de raiz”, disse.
Surpreendido com esta decisão está o presidente do MPT, John Rosas Baker, que agora afirma que Marinho e Pinto usou o partido como “barriga de aluguer”, embora nem tenha cumprido “nove meses”. Rosas Baker diz mesmo que aceitou que Marinho e Pinto se tornasse presidente do MPT, mas a lista entretanto apresentada excluía um nome importante para a direcção do partido. “O doutor Marinho e Pinto rejeitou a nossa proposta”, afirmou. O MPT ficou “surpreso” com o desenrolar deste processo. “Sempre pensei que houvesse diálogo e mais transparência. Aliás, ele é uma pessoa que fala muito da importância da transparência na política. Neste caso, da parte dele, infelizmente parece não ter havido”, acrescentou.

PÚBLICO/L

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