quinta-feira, 17 de julho de 2014

Parque de estacionamento no Príncipe Real será “um elefante numa loja de porcelanas.


Parque de estacionamento no Príncipe Real será “um elefante numa loja de porcelanas
Grupos de cidadãos uniram-se contra mais um parque subterrâneo no centro de Lisboa e prometem não baixar os braços
Marisa Soares / 18 jul 2014 / PÚBLICO

A Plataforma contra o Parque Automóvel, que junta cinco grupos de cidadãos de Lisboa, manifestou-se ontem contra a construção de um parque de estacionamento subterrâneo na Praça do Príncipe Real, pedindo à Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) que reprove o projecto. Caso contrário, avisam, será como enfiar “um elefante numa loja de porcelana”, com consequências “fatais” para a zona.
“A DGPC tem todos os instrumentos legais para dizer não a este parque, e se não o fizer vai ceder ao interesse privado em detrimento do interesse público”, afirmou Jorge Pinto, do Grupo dos Amigos do Príncipe Real, numa conferência de imprensa realizada à sombra dos enormes “braços” do cedro-dobuçaco, um ex-líbris do centenário jardim.
Em causa está a construção de um parque subterrâneo com formato em U a contornar o jardim, com 300 lugares distribuídos por quatro pisos — mais um do que o previsto na versão inicial do projecto apresentado em 2001. Na altura, o projecto foi chumbado pelo Instituto Português do Património Arquitectónico (actual DGPC) e esbarrou no protesto de moradores e ambientalistas. Mais tarde, em 2006, o instituto acabou por emitir um parecer favorável condicionado, mas a obra nunca avançou.
O presidente da câmara, António Costa, disse em Junho que é “negativo” construir ali o parque, mas acrescentou que poderá ser “uma mais-valia” caso resolva o problema do estacionamento de residentes e não ponha em risco o jardim. Esta resposta “vaga” não satisfez os membros da plataforma, que prometem não baixar os braços.
Ambientalistas, urbanistas e arquitectos antecipam “impactos desastrosos” na estrutura dos edifícios da zona. Receiam, sobretudo, que a obra ponha em causa o Reservatório da Patriarcal, um núcleo do Aqueduto das Águas Livres (classificado como Monumento Nacional) que existe no subsolo do jardim. “Há muitos anos desejamos que seja apresentada a candidatura do Aqueduto a Património da Humanidade da UNESCO, se o parque avançar será mais um obstáculo”, afirmou Margarida Ruas, ex- directora do Museu da Água.
A discreta porta de entrada do reservatório fica no centro do jardim e dá acesso a uma cisterna octogonal, com capacidade para 880 metros cúbicos, sustentada por dezenas de pilares de pedra com cerca de dez metros de altura, com arcos de cantaria no topo. Dali partem as galerias que, no século XIX, levavam água até aos chafarizes da Baixa e do Bairro Alto.
Os críticos do projecto consideram que a construção do parque “a um metro” das galerias terá “efeitos irreversíveis e imprevisíveis”. A DGPC também tem dúvidas sobre o impacto da construção no aqueduto — foi por isso que chumbou os dois pedidos de alteração para acrescentar o quarto piso, submetidos pelo promotor a 3 de Agosto de 2012 e a 14 de Janeiro de 2014.

A plataforma contra o parque destaca os impactos do empreendimento no jardim, onde existem sete árvores classificadas. “Em qualquer cidade da Europa, este jardim seria considerado um monumento”, considera Margarida Cancela d’Abreu, presidente da Associação Portuguesa de Arquitectos Paisagistas. A construção de uma “cofragem de betão” em torno daquela área verde, acrescenta a arquitecta paisagista, vai alterar o sistema de drenagem e levar à morte das árvores — muitas já fragilizadas com as obras de requalificação do jardim realizadas pela câmara em 2009

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