sábado, 7 de junho de 2014

Incêndios. Verão de 2014 pode ser um dos piores de sempre


Incêndios. Verão de 2014 pode ser um dos piores de sempre
Por Rosa Ramos
publicado em 7 Jun 2014 in (jornal) i online
Temperaturas altas conjugadas com combustíveis finos resultantes das fortes chuvas do Inverno dificultam a vida aos bombeiros - que não vão ser aumentados nem terão as roupas especiais prometidas pelo governo

O Verão de 2014 poderá vir a ser um dos mais complicados dos últimos anos em matéria de incêndios. A fase Charlie, o período mais crítico, começa dentro de três semanas e os bombeiros estão já a contar com a conjugação de dois factores que costumam revelar-se problemáticos. O último Inverno foi bastante chuvoso, o que propiciou o crescimento de combustíveis finos nas florestas. Por outro lado, são esperadas temperaturas muito elevadas. O ano de 2013 foi o sexto mais quente de sempre e a Organização Meteorológica Mundial prevê que este Verão faça ainda mais calor.

"Estamos preocupados. Este ano há muito combustível, o que ajuda na propagação dos incêndios", admite o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses. Jaime Marta Soares até sublinha que o investimento do governo é "maior" este ano, mas acrescenta que há muito por fazer para evitar que as florestas ardam. A começar pela prevenção. "Continua a haver um mau planeamento e um mau ordenamento da floresta, resultado de más políticas nacionais", aponta o responsável, defendendo a criação de um observatório nacional para ajudar o governo a definir estratégias de prevenção e a ainda reactivação da comissão nacional especializada de fogos florestais. Jaime Marta Soares chama também a atenção para o tipo de floresta que tem sido plantado nos últimos anos. "Não tem havido plantação de espécies resilientes ao fogo, como folhosas", exemplifica, recordando que o eucalipto - espécie facilmente consumida pelo fogo - ocupa actualmente quase 30% da mancha florestal portuguesa.

MAI AFASTA CÂMARAS Além disso, aponta o presidente da Liga, boa parte das matas continua por limpar. O secretário de Estado da Administração Interna anunciou esta semana que as câmaras municipais vão deixar de ser responsáveis pela aplicação e cobrança das coimas relacionadas com a falta de cumprimento da gestão de combustíveis (limpeza). A fiscalização no terreno continua a ser feita pela GNR, mas caberá à secretaria-geral do MAI dar seguimento aos processos. "É uma forma de responder a algo que estava identificado: o número de autos levantados e as instruções de processos que existiam resultavam num número de coimas muito reduzido", justificou João Almeida.

São esperadas outras novidades. O Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais de 2014 conta com um reforço de mais 250 bombeiros e quatro meios aéreos em relação ao ano passado e terá um custo de 85 milhões de euros - mais 14 milhões que em 2013. E vão ser entregues 32 500 guias de bolso e manuais de segurança a todos os operacionais contendo informação básica sobre como proceder nos teatros de operações.

Na fase mais crítica dos fogos, entre 1 de Julho e 30 de Setembro, estarão no terreno 2220 equipas de diferentes forças, 9697 elementos, 2027 veículos e 49 meios aéreos. Haverá um reforço especializado de máquinas de rasto e as corporações contarão com mais dinheiro para combustíveis e para a reparação de veículos. Por outro lado, a esmagadora maioria dos bombeiros vai dispor de rádios SIRESP - Sistema integrado de Redes de Emergência e Segurança.

CONCURSOS FALHADOS
Pelo caminho ficou a entrega da maior parte dos equipamentos de protecção individual anunciados em Março de 2013 - e que deveriam ter chegado às corporações no mês passado. O objectivo era dotar as corporações de fardamentos e botas mais seguras e à prova de fogo. A Autoridade Nacional de Protecção Civil entregou às comunidades intermunicipais a responsabilidade de tratar dos concursos e das candidaturas a fundos comunitários (que iriam financiar 85% do investimento). Mas a maioria falhou os prazos e Jaime Marta Soares admite que não há data para que a entrega ocorra. "Houve um grande descuido, para não chamar outra coisa, e é grave. Trata-se de equipamento certificado e que garante maior segurança aos operacionais", critica.


Já a compensação paga aos bombeiros não sofre, este Verão, qualquer alteração. A Liga ainda tentou negociar com a tutela um aumento de dois euros, mas sem sucesso. "O MAI preferiu aumentar o número de equipas no terreno", explica o presidente. Cada bombeiro receberá, à semelhança do ano passado, 45 euros por cada período de 24h no combate aos incêndios. O valor foi actualizado no ano passado: em 2012 era de 41 euros.

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