quinta-feira, 22 de maio de 2014

O nosso Beppe: Marinho e Pinto



O nosso Beppe: Marinho e Pinto
Os eleitores estão ávidos de caras novas que possam dar esperança – mesmo que seja uma falsa esperança
Por Luís Rosa
publicado em 22 Maio 2014 in (jornal) i 0nline

1. Muitos anos de sucessivos erros da classe política levaram o nosso país a uma estagnação económica que já dura há mais de 14 anos e oferecem espaço ao aparecimento de fenómenos populistas como o de Marinho e Pinto. Portugal podia orgulhar-se de não ter partidos de extrema-direita relevantes (apesar de ter dois de extrema-esquerda) e de não ter movimentos como
o 5 Estrelas do italiano Beppe Grillo, que exploram de forma gratuita a descredibilização da classe política tradicional. Mas esse tempo pode estar a terminar.
Segundo a sondagem i/Pitagórica para as europeias de 25 de Maio (faça zoom nas págs. 14-18), Marinho e Pinto tem hipóteses de ser eleito eurodeputado nas listas do até agora ignorado MPT – Partido da Terra com o seu discurso anti-classe política. O ex-bastonário da Ordem dos Advogados está a lutar com o Bloco de Esquerda (BE) pela eleição de um eurodeputado e está a ir buscar votos essencialmente ao PS e ao PSD (os dois maiores partidos) e, pasme-se, ao próprio Bloco – que se vê assim substituído como partido de protesto e se encontra em queda vertiginosa rumo à irrelevância eleitoral.
Se a campanha tivesse tido maior atenção mediática, com os respectivos debates eleitorais (o que não acontece devido à anacrónica lei eleitoral), a indicação de voto no candidato do MPT poderia ser bastante superior. Os eleitores estão ávidos de caras novas que possam personificar esse desencanto com a política e ao mesmo tempo possam dar esperança. Mesmo que seja uma falsa esperança. Veremos se escreverão a cruzinha no quadrado do MPT, já que a cara e o nome de Marinho não surgem no boletim de voto.

2. Se conjugarmos o facto de Marinho e Pinto conseguir roubar votos ao dois maiores partidos com a mais que provável elevada abstenção (que pode ultrapassar os 63,2% das últimas europeias) e com o número de inquiridos que desejam votar em branco ou nulo (13,8%), percebemos facilmente que existe um enorme descontentamento com os partidos que governaram o país nos últimos 40 anos mas que Marinho apenas consegue capitalizar, para já, uma pequena parte dessa frustração quase colectiva. Os sucessivos logros nas promessas eleitorais, a falta de coragem na resolução dos problemas centrais do país, a constante protecção dos interesses instalados à mesa do Orçamento do Estado e a corrupção e o tráfico de influências que deriva inevitavelmente da promiscuidade entre os titulares de cargos políticos e as empresas que lhes dão emprego depois do exercício de funções públicas são as principais causas desse descontentamento.


3. Os três anos de troika e de política masoquista de um governo que se recusa a oferecer esperança no final do túnel da austeridade podiam fazer com que a votação no PS fosse esmagadora. O que, para já, não está minimamente assegurado. É evidente que a vitória doPS está assegurada, mas a distância ainda pode variar. Os socialistas, por exemplo, tinham uma intenção de voto no barómetro i/Pitagórica de Março em que o ponto central do intervalo estatístico era de 39% (como distribuição de abstenção e de indecisos).Agora estão com uma intenção de voto de 36,6%. Há uma tendência de descida quando se esperava que os valores se mantivessem ou subissem. António José Seguro vai ter de dar mais nestes últimos dias de campanha, até porque tem a obrigação de ganhar essa europeias com uma larga vantagem sobre a maioria. Só um resultado esmagador pode levar ao sentimento claro de que o momento da viragem chegou.

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