segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Praga de escaravelhos descontrolada em Lisboa.



Praga de escaravelhos descontrolada em Lisboa
Por Carlos Diogo Santos
publicado em 18 Fev 2014 in (jornal) i online

Sem estratégia concertada de combate à praga que desde 2007 ameaça as palmeiras em Portugal, Câmara de Lisboa já lançou críticas à inacção do Estado e das autarquias vizinhas
A praga dos escaravelhos vermelhos que ataca as palmeiras chegou a Portugal em 2007, mas os insectos vieram para ficar. Depois de virem do Algarve para Lisboa, continuaram o seu percurso até ao Norte do país. Na capital existiam no ano passado mais de 600 palmeiras sob vigilância e tratamento, mas a batalha está ainda longe do fim. Quem o admite é José Sá Fernandes, vereador da câmara municipal com o pelouro dos espaços verdes, que alerta para o descontrolo desta praga e critica a falta de colaboração do Estado e dos municípios vizinhos.

"É impossível combater a praga do escaravelho das palmeiras se não houver o mesmo tipo de atenção de todos os intervenientes. E Lisboa está quase isolada nesta batalha", avisou numa reunião de câmara no fim de Janeiro. Segundo o vereador, a erradicação dos escaravelhos tem sido um fracasso porque este combate não representa uma prioridade para o Ministério da Agricultura.

Os insectos alimentam-se do interior das palmeiras deixando-as secas e frágeis, mas muitas vezes podem não existir sinais exteriores. As espécies contaminadas ficam mais vulneráveis ao vento, o que aumenta o risco de quedas e de propagação mais veloz da praga. As acções de recuperação das árvores - em algumas nem sequer é possível - têm custos elevados e não são suficientes para pôr fim à reprodução descontrolada da espécie.

Neste momento a autarquia de Lisboa tem mais de três centenas de palmeiras em tratamento, mas teme que nem todas possam recuperar, uma vez que o escaravelho vermelho está cada vez mais resistente aos produtos utilizados. Citado há dias pelo blogue de notícias de Lisboa O Corvo, Sá Fernandes adiantou mesmo que, se o Estado nada fizer, "vamos sofrer".

O i pediu no início do mês por email dados actualizados sobre estes tratamentos e os montantes gastos pela autarquia de Lisboa ao vereador José Sá Fernandes, mas não recebeu qualquer resposta. Foi feito um novo contacto, por telefone, mas o autarca disse não estar disponível para falar.

IMPACTOS E ESFORÇOS
Ao i, o entomólogo (especialista em insectos) Mário Boieiro explicou que estas pragas são cada vez mais frequentes por haver mais pessoas a circular entre países, acabando isso por facilitar o transporte dos insectos. Neste caso há quem atribua à importação de palmeiras a origem da rápida disseminação dos escaravelhos. "Algumas pragas têm impacto mais grave que o destes escaravelhos, como foi o caso da dengue na Madeira, e por isso é preciso agir com maior rapidez e concertar mais esforços públicos e privados", disse.

Os escaravelhos vermelhos, originários de climas tropicais, são considerados uma praga na Europa, sobretudo em Portugal, Espanha e Itália. "São insectos que no seu ecossistema estavam em equilíbrio, porque têm predadores e rivais, mas que ao chegar a um novo ecossistema, como foi o caso, se desenvolvem descontroladamente", explicou o especialista.

Sobre o facto de não haver uma estratégia coordenada de combate ao escaravelho, Artur Serrano, também entomólogo, assegurou ao i que "mais vale alguma desinfestação do que nada". É isto que justifica o investimento que tem sido feito pela autarquia de Lisboa nesta batalha que não está a ser ganha.

O escaravelho vermelho consegue voar até dez quilómetros, pelo que, se o tratamento for aplicado em palmeiras próximas de espécies do mesmo tipo que estejam em terreno privado, os insectos se refugiam nas mais vulneráveis. Não existem dados actualizados sobre o número de palmeiras dizimadas, mas a praga já alastrou à maioria dos concelhos do país com especial destaque, além de Lisboa, para o Porto e Setúbal.

As árvores que estão em tratamento podem ser distinguidas, uma vez que possuem um tubo ao longo do tronco. Além de o tratamento ser caro, os especialistas adiantam que se trata de um processo de difícil execução devido ao formato das folhas das palmeiras. Outra das particularidades que torna o processo complexo é não haver sinais exteriores da praga, a menos que a destruição do interior já esteja numa fase muito adiantada.

DECISÃO EUROPEIA
As primeiras regiões em Portugal onde foi detectada a praga foram Algarve, Lisboa e Vale do Tejo, Centro e arquipélago da Madeira. Antes, já outros países europeus como Espanha e Itália detectaram a presença destes insectos e estudaram as implicações sobre as palmeiras, sobretudo na espécie das Canárias (Phoenix canariensis) . A União Europeia estabeleceu logo em 2007 medidas de emergência contra a introdução e a propagação dos escaravelhos vermelhos (decisão 2007/365/CE).


Segundo um documento do Ministério do Ambiente disponível online, estes insectos são naturais da Ásia e da Oceânia e a sua expansão iniciou-se nos anos 80 e 90, pelo Médio Oriente e pelo Norte de África, sobretudo Egipto. Chegam só mais tarde ao continente europeu. O primeiro país onde foram detectados foi Espanha, em 1995. Apesar da proximidade, Portugal foi dos últimos estados invadidos pela praga. O escaravelho vermelho está presente em alguns outros países da orla mediterrânica, como é o caso de Chipre, França, Grécia e Itália

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