sábado, 25 de janeiro de 2014

Eucaliptos dominam pedidos ao abrigo da nova lei de arborização


Eucaliptos dominam pedidos ao abrigo da nova lei de arborização
Nos três primeiros meses da polémica legislação, 92% da área de novas florestas ou reflorestações refere-se a esta espécie. Organizações ambientalistas e alguns académicos querem ver a lei revogada
Ricardo Garcia / 25 jan 2014  in Público

Os eucaliptos estão a dominar plantação ou replantação de florestas ao abrigo de uma nova legislação que organizações ambientalistas e alguns académicos querem ver revogada.
O novo regime legal, publicado em Julho passado e em vigor desde Outubro, passou a considerar os eucaliptos como qualquer outra espécie florestal, deixando de estar sujeito à regulamentação própria que existia desde 1988.
Segundo a lei, a plantação de novas áreas florestais (arborização) ou a replantação de áreas degradadas, cortadas ou ardidas (rearborização) está sujeita a uma autorização quando a superfície ocupada for superior a dois hectares. Abaixo deste limite, basta uma comunicação prévia. A regra vale para todas as espécies.
Entre 17 de Outubro e 31 de Dezembro, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) recebeu 193 pedidos de autorização e 175 comunicações prévias, para acções que cobrem, no total, 2626 hectares. A esmagadora maioria desta área refere-se a intenções de plantar eucaliptos (92%). Do restante, metade refere-se a áreas de pinheiro-manso e o resto está repartido entre diversas outras espécies.
Os números confirmam uma tendência que vem sendo observada na floresta portuguesa há pelo menos duas décadas. A área de eucalipto tem vindo a aumentar continuamente, pelo seu rendimento económico a curto prazo. Segundo os dados mais recentes do Inventário Florestal Nacional, os eucaliptos tiveram um crescimento de 13% entre 1995 e 2010 e são hoje a espécie dominante na floresta portuguesa, com 812 mil hectares plantados.
Em sentido contrário caminha o pinheiro-bravo, que está a ser dizimado pelos fogos, por uma praga florestal (o nemátodo) e pelo consequente desinteresse na sua exploração. A área ocupada caiu 27% entre 1995 e 2010 e a espécie, que antes era dominante, está agora na terceira posição, abaixo dos eucaliptos e colada aos sobreiros.
A falta de interesse pelo pinheirobravo revela-se nos números da aplicação da nova lei. Apenas 0,7% da área das arborizações ou rearborizações entre Outubro e Dezembro são daquela espécie. Mais sucesso está a ter o pinheiro-manso, a segunda espécie mais importante nos pedidos de autorização ou comunicações prévias — 4% da área total. O interesse crescente pelo pinheiro-manso já estava identificado no Inventário Florestal, que regista uma subida de 54% na área ocupada, entre 1995 e 2010.
A nova lei sobre arborização e rearborização tem sido fortemente contestada, por alegadamente facilitar a expansão dos eucaliptos. Há mais de duas décadas que a espécie é vista por muitos como um perigo, pelos riscos de elevado consumo de água, de erosão dos solos e da aposta numa monocultura florestal com pouco potencial em termos de biodiversidade.
Segundo a legislação que foi agora revogada, as plantações que completassem áreas contínuas com mais de 50 hectares estavam sujeitas a uma autorização prévia da autoridade florestal. Abaixo disto, estavam condicionadas à aprovação das câmaras municipais, ao abrigo de um decretolei sobre alterações no relevo e no coberto vegetal.
Esta semana, organizações nãogovernamentais e personalidades do mundo académico juntaram-se numa Plataforma pela Floresta, que exige a revogação da nova lei. Os subscritores da plataforma dizem, num comunicado, que o diploma “é um incentivo à perpetuação da situação de descontrolo e desordenamento existente neste momento na floresta portuguesa”.

A possibilidade de se plantar floresta sem autorização abaixo dos dois hectares é um dos aspectos que preocupam os críticos da legislação. No entanto, essa possibilidade está a revelar-se pouco expressiva, segundo os números agora divulgados pelo ICNF.

Sem comentários: