Depois do desaparecimento do “King”, e claro do famoso “Quarteto”, agora é a
vez do antigo Londres’agora já completamente destroçado no seu interior,
sucumbir ao fenómeno “Chindia”.
A decadência das antigas avenidas residenciais e respectiva “classe
media/alta”, agora ela mesma destroçada pela crise, pode ser seguida num
processo que se arrasta há muito tempo, com o desaparecimento do Império (
cinema ) a transformação de café com o mesmo nome, a Pastelaria Roma, a ameaçada
Pastelaria Mexicana , etc ., etc.,
De relembrar a transformação do emblemático e classificado Salão de Jogos Monumental, este na Av. Pedro Álvares
Cabral, também transformado em Loja “Chindia”… ( em baixo)
Com visto “Gold” … ou sem … é o dinheiro que fala e
determina …
António Sérgio Rosa de Carvalho.
O histórico Cinema Londres, em Lisboa, vai
transformar-se numa loja de produtos chineses
INÊS BOAVENTURA 08/01/2014 - 22:32
Os proprietários do imóvel na
Avenida de Roma confirmam o negócio. Já há dois abaixo-assinados, de um
movimento de comerciantes da zona e de uma associação cívica, defendendo que o
espaço deve continuar ao serviço da cultura.
O antigo Cinema Londres, na Avenida de Roma, em Lisboa, vai
ser transformado numa loja de produtos chineses. O movimento de comerciantes da
zona e o núcleo lisboeta da associação Mais Democracia não se conformam com a
decisão e defendem que aquela que em 1972 foi apresentada pela comunicação
social como “a mais luxuosa sala-estúdio de Lisboa” deve ser convertida num
pólo cultural.
O cinema fechou as portas em Fevereiro de 2013, depois de a
Socorama, que era à data o segundo maior exibidor de cinema em Portugal, ter
entrado em processo de insolvência. Na altura a empresa chegou a dizer que o
encerramento não era definitivo mas, cerca de um ano depois, os proprietários
do espaço confirmaram ao PÚBLICO que já foi celebrado "um contrato de
arrendamento comercial com uma Sociedade de Direito Português, mas com sócios
de origem chinesa".
Um dos co-proprietários do Londres e representante dos
restantes cinco, que pede para não ser identificado, explica que ao longo dos
últimos meses "foram efectuadas diversas diligências e negociações no
sentido de arrendar de novo aquela
fracção para actividade análoga à anterior, embora com características mais
abrangentes". "Infelizmente, não foi possível concretizar nenhuma
dessas hipóteses", afirma em esclarecimentos enviados por escrito, nos
quais acrescenta que o referido contrato de arrendamento foi celebrado "à
falta de outras alternativas".
Os donos do antigo cinema sublinham que "as instalações
e os equipamentos estavam em estado de acentuada degradação". Situação
que, acrescentam, se acentuou quando, "por decisão do Administrador
Judicial de Insolvência, foi removido e vendido todo o recheio relativo ao
cinema propriamente dito (cadeiras, écrans, projectores, instalação eléctrica,
etc) e ao restaurante/snack-bar". Nessa altura, concluem, as instalações
"ficaram completamente 'arrasadas'".
O Movimento de Comerciantes da Avenida Guerra Junqueiro,
Praça de Londres e Avenida de Roma não se conforma com a decisão. Em meados de
Dezembro, alguns dos seus elementos tiveram uma reunião com o representante dos
proprietários do Londres, com o objectivo de encontrar uma solução que
permitisse que o espaço continuasse a ter uma função cultural.
Mas os resultados desse encontro não foram animadores.
“Foi-nos dito que não havia nada a fazer, que já se tinham comprometido”,
explica o porta-voz do movimento. O empresário Carlos Moura-Carvalho critica o
facto de este processo ter sido conduzido de forma “sigilosa”, não tendo havido
qualquer publicitação de que o imóvel na Avenida de Roma estava para arrendar.
"Acordaram tarde", reage o representante dos
proprietários do Londres, lembrando que passaram dez meses entre o encerramento
do cinema e o pedido de reunião por parte dos comerciantes. "A ideia, que
eu bem compreendia, morreu à nascença, em virtude da inércia revelada",
afirma esta fonte, que questiona se os lojistas teriam "capacidade para
suportarem o elevadíssimo custo das obras de recuperação do espaço e o encargo
com a renda pretendida".
Apesar de a abertura de uma loja de produtos chineses lhes
ter sido apresentada como “um facto consumado”, o Movimento de Comerciantes da
Avenida Guerra Junqueiro, Praça de Londres e Avenida de Roma não baixou os
braços e lançou a petição “O nosso bairro precisa de um polo cultural”, que
pode ser assinada num conjunto de estabelecimentos comerciais da zona.
Nessa petição diz-se que “existe vontade e disponibilidade
por parte de diversas entidades públicas e privadas, moradores e comerciantes,
para encontrar uma solução conjunta que, em paralelo com uma opção comercial,
garanta a manutenção de um polo cultural na freguesia do Areeiro”. Os autores
do documento, que querem ver o assunto discutido na Assembleia Municipal de
Lisboa, apontam como hipótese “a instalação de um cine clube, de uma livraria e
de um ponto cultural de debate e participação”.
Também o MaisLisboa, o núcleo lisboeta da associação cívica
Mais Democracia, lançou, mas na Internet, um abaixo-assinado intitulado “Não
queremos uma Loja dos 300 no Cinema Londres”. Ao fim da tarde de quarta-feira o
documento, no qual se diz que a abertura desse negócio vai contribuir para a
“degradação de uma das zonas comerciais mais diversificadas e históricas da
cidade”, tinha cerca de 330 assinaturas.
“Naquela zona temos perdido, nos últimos anos, todos os
cinemas de qualidade. Primeiro o Quarteto, depois o King e agora o Londres. Só
restam os cinemas pipoqueiros”, constata Rui Pereira, autor do abaixo-assinado.
A proposta do MaisLisboa, explica, é que o antigo cinema na Avenida de Roma
seja explorado por “uma cooperativa”, formada por particulares e por entidades
públicas, como “centro comunitário”, onde se realizem eventos culturais e onde
associações sem sede possam desenvolver a sua actividade.
Perdeu-se "a melhor sala-estúdio de Lisboa"
“O Londres foi a melhor sala-estúdio de Lisboa”, sintetiza a
autora do livro Os Cinemas de Lisboa - Um fenómeno urbano do século XX.
Margarida Acciaiuoli recorda que o espaço, inaugurado a 30 de Janeiro de 1972
com o filme Morrer de Amar, de André Cayatte, “foi pensado para ter três
funções: ver cinema, jantar no snack-bar e conversar no Pub The Flag, que
ficava ao lado”.
No livro, a professora catedrática do departamento de
História da Arte da Universidade Nova de Lisboa sublinha que o Londres
“afirmava-se como uma alternativa única no panorama dos cinemas da cidade”,
tendo conseguido criar “um ambiente propício à apropriação dos filmes,
permitindo que os espectadores permanecessem no local depois das sessões”.
“É extraordinário como conseguimos inventar o cinema, um
equipamento que não existia noutros séculos, e depois desenvolvemo-lo,
demolimo-lo e não fica nada para o século seguinte”, afirma Margarida
Acciaiuoli. A professora diz que hoje em dia “as pessoas não vão ao cinema, vão
a uma sala onde se passam filmes”. “Ir ao cinema não é como ir ao supermercado,
é preciso tempo”, explica, enquadrando o fim do Cinema Londres naquilo que
considera ser “uma regressão de civilização”.
FRANCISCO NEVES 23/06/2006 - in Público
Sala mítica de bilhares
e videojogos na Av. Pedro Álvares Cabral
fecha dia 30
O salão de jogos Monumental, na Av. Pedro Álvares Cabral, em
Lisboa, fecha as portas dia 30 para ao que tudo indica dar lugar a uma loja de
venda de artigos chineses.
Local de grandes festas e bailes da sociedade lisboeta dos
anos 30 e 40 do século passado e dotada de um arranjo interior raro, pelas suas
plataformas e corredores a meia altura do salão, o Monumental foi também
cenário de vários filmes portugueses, como a obra de José Fonseca e Costa
Kilas, o Mau da Fita.
O Salão Monumental faz parte de um edifício classificado em
2002 como Imóvel de Interesse Público pelo Instituto Português do Património
Arquitectónico (Ippar). O prédio modernista, com motivos de art déco na
fachada, foi construído em 1930 segundo projecto do arquitecto Raul Martins, e
compreende ainda o antigo Jardim Cinema - hoje alugado a uma produtora de
programas televisivos - e a Garagem Monumental, proprietária do conjunto.
A classificação do Ippar abrange o interior do salão de
jogos, "uma estrutura funcional marcada por um conjunto de plataformas e
escadarias de grande riqueza espacial, que lhe conferem um carácter
monumental", segundo se lê na ficha explicativa da protecção. A sala de
cinema tinha algo de inovador: dispunha de uma esplanada que funcionava durante
a projecção dos filmes.
Nem os empregados do salão nem a administração da Garagem
Monumental - uma empresa familiar fundada por Clemente Vicente, um construtor
civil oriundo de Tomar - quiseram ontem explicar ao PÚBLICO o futuro da casa de
diversão, onde os bilhares do piso superior já foram desmontados.
O grande salão ocupa hoje cerca de uma dezena de pessoas,
desde a funcionária da tabacaria ao pessoal que ainda toma conta das últimas 16
mesas de bilhar e snooker, das dezenas de máquinas de jogos de vídeo, mesas de
pingue-pongue e matraquilhos. Vários deles são reformados que assim completam
os vencimentos. Os sinais deste ocaso discreto notam-se logo à entrada. O
quiosque deixa de aceitar jornais a partir de hoje e boletins de apostas só até
sábado.
Ippar não inviabilizará
mudança de uso
Ontem ao fim da manhã, apenas quatro jovens se acotovelavam
em torno de uma máquina de videojogos. Davam pouco que fazer aos dois
empregados idosos, de calças pretas e camisa branca, manuseando papéis para
anotação de partidas que ninguém encetara. A discrição da aparência era também
a da fala. Nenhum sabe de nada, embora saibam que o emprego vai acabar.
O salão da Pedro Álvares Cabral ainda é frequentado por
alguns jovens do ensino secundário e universitário. O vazio de quinta-feira,
explica um dos funcionários, deve-se às férias. Mas já não há enchentes. A casa
sofreu um grande abalo com a banalização dos jogos por computador, explicam.
"Chegou a vez dos chineses e vamos todos para a rua. Já
andaram aí a ver se podiam deitar alguma coisa abaixo", disse um outro
funcionário, que não se identificou.
A classificação do Ippar não permite, no entanto, que se
deitem coisas abaixo no salão de jogos cujas características se pretendeu
preservar. Aliás, dizia-se ontem no local, uma instituição bancária da mesma
artéria terá abandonado a intenção de se instalar na casa de jogos devido à
impossibilidade de mexer no interior do espaço.
Flávio Lopes, director regional de Lisboa do Ippar, disse
que o instituto não recebeu nenhum pedido de obras ou de alteração do uso do
salão. "O último pedido que deu entrada ocorreu em Abril de 2005.
Referia-se à construção de uma escada dentro do edifício que melhorava a sua
segurança e foi aprovado", referiu.
A mesma fonte adiantou que o instituto não inviabilizará à
partida uma mudança de uso daquele espaço, mas que procurará que isso aconteça
no respeito do seu valor arquitectónico. "Temos que admitir que a vida é
uma mudança", comentou Flávio Lopes.
O PÚBLICO tentou ontem por duas vezes falar com os gestores
do edifício sobre o assunto, mas estes não estiveram disponíveis.
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