segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Viktor Yanukovych: can the great survivor of Ukraine politics hang on?? Guardian.Braço-de-ferro da oposição encurrala Presidente ucraniano.


Braço-de-ferro da oposição encurrala Presidente ucraniano
Por Ana Fonseca Pereira
02/12/2013 – in Público


Manifestantes cercam sede do Governo e paralisaram centro da capital. Primeiro-ministro diz que acontecimentos em Kiev se assemelham a um golpe de Estado.

Centenas de manifestantes bloquearam o acesso à sede do Governo ucraniano, em Kiev, num desafio que aumenta a pressão sobre o Presidente ucraniano Viktor Ianukovich, cada vez mais encurralado entre duas más opções: reprimir os protestos pela força, ou negociar um compromisso com a oposição, o que o obrigaria a reavivar o acordo de associação com a União Europeia, que rejeitou sob pressão da Rússia. Qualquer dos caminhos minará as suas perspectivas de permanência no poder.

Depois da grande manifestação de domingo, a maior desde a Revolução Laranja de 2004, segunda-feira foi um dia de impasse, com oposição e Governo a medirem forças sem se enfrentarem.

Respondendo ao apelo dos dirigentes da oposição, centenas de manifestantes não abandonaram a Praça da Independência quando a multidão se dispersou. Montaram tendas, trouxeram mantimentos e acenderam fogueiras para iludir o frio da noite. Outros usaram tudo o que tinham à mão para erguer barricadas – bancos de jardim, barreiras policiais e até peças de uma árvore de Natal artificial gigante foram sendo empilhadas ao longo da noite.

Quando a capital acordou, todas as ruas em redor da sede do Governo estavam cortadas ao tráfego e, naquelas onde as barreiras não chegaram, simpatizantes da oposição estacionaram carros no meio do pavimento para impedir a circulação. Perto dali, centenas de pessoas mantinham-se no edifício da Câmara Municipal, invadido durante a manifestação de domingo e transformado em “quartel-general da revolução”. “Vou ficar aqui até ao fim. Precisamos de mudar as coisas. Não posso ir trabalhar, nem ficar em casa. É impossível”, disse à AFP Tatiana, uma ucraniana de 55 anos que veio com a filha, de 16 anos.

Por causa do bloqueio, a maioria dos ministérios esteve de portas fechadas, mas era difícil perceber o impacto da greve geral convocada pela oposição para forçar o Presidente a demitir-se e a convocar eleições antecipadas. “Temos que mobilizar o país e não perder a iniciativa”, disse Vitali Klitchko, antigo campeão de boxe e líder do Udar, um dos três partidos que aderiram aos protestos contra a recusa de Ianukovich em assinar um acordo que aproximaria a Ucrânia da UE.

As autoridades de Lviv e Ivano-Frankivsk, duas cidades no Oeste do país, tradicionalmente pró-europeu, declararam o seu apoio à oposição. Mas no Leste, onde a maioria da população é russófona, não havia notícias de protestos, apesar de no dia anterior algumas centenas de pessoas terem desafiado as autoridades manifestando-se contra o Governo.

Contenção e ameaças

Depois da carga policial de sábado, de uma violência que chocou os ucranianos, as forças de segurança têm ordens para evitar confrontos. Uma jornalista da AFP viu vários camiões da Berkut, as forças antimotim, estacionados no bairro administrativo, mas os manifestantes não foram importunados. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Leonid Kozhara, assegurou também ao seu homólogo da Polónia que Kiev “não tem qualquer plano para decretar o estado de emergência”, ao contrário do que foi noticiado na véspera.

Quebrando quase três dias de silêncio, o Presidente apelou aos manifestantes para não recorrerem à violência – “uma má paz é melhor do que uma boa guerra”, disse. Mas o seu primeiro-ministro foi mais directo e acusou a oposição de usar “métodos ilegais” para “radicalizar a situação”. “O que se está a passar tem todos os sinais de um golpe de Estado. É algo muito sério. Até aqui temos dados provas de paciência, mas não queremos que os nossos parceiros pensem que tudo lhes é permitido”, avisou Mikola Azarov.

A optar pela linha dura, Ianukovich poderá contar com o apoio de Vladimir Putin que, de visita à Arménia, país que em Setembro trocou a parceria com a UE por um acordo com Moscovo, disse que os acontecimentos dos últimos dias em Kiev “assemelham-se mais a um pogrom do que a uma revolução”. “É uma tentativa de desestabilizar um Governo legítimo”, disse o Presidente russo, que não escapou a protestos também em Ierevan, a capital arménia.

Mas se os benefícios de uma aproximação à UE não eram consensuais no país, a forma como Ianukovich recuou à última hora (e o envio de polícias para dispersar uma manifestação pacífica) estão a deixar marcas.

A juntar à pressão das ruas, Serhi Liovochkin, chefe de gabinete do Presidente, apresentou a sua demissão em protesto contra a carga policial, num exemplo seguido por pelo menos dois deputados do Partido das Regiões. E há sinais de que pelo menos parte da oligarquia está preparada para se distanciar do Governo – um dirigente da oposição contou ao New York Times que foi convidado para falar na televisão de Rinat Akhmetov, o oligarca de Donetsk que foi o principal financiador do partido no poder.

Barroso não reabre negociações

Nesta terça-feira, a oposição tentará votar no Parlamento uma moção de censura ao Governo, na expectativa de conseguir o apoio de deputados da maioria. Ianukovich fez saber que mantém os planos para uma visita oficial à China, mas não é certo que abandone o país.

Entretanto telefonou ao presidente da Comissão Europeia, pedindo-lhe que receba uma delegação ucraniana para discutir “certos aspectos do acordo de associação”. Durão Barroso disse estar disponível para falar, mas reafirmou que “em nenhum caso a Comissão vai reabrir as negociações” sobre o acordo. Assiná-lo tal como foi apresentado em Vílnius seria entregar a vitória nas mãos da oposição e comprar uma guerra com Moscovo.


Nenhuma das opções parece neste momento auspiciosa para a sobrevivência política de Ianukovich. “Os seus cálculos sobre política e poder, poucas vezes manifestados de forma tão rude e transparente, estão fazer ricochete”, sentenciou Ian Traynor, editor de política europeia do Guardian. 


Viktor Yanukovych: can the great survivor of Ukraine politics hang on?The president weathered the Orange Revolution, but will need Moscow's support to survive this year's protests
· It is time to go, opposition leaders tell president

Ian Traynor, Europe editor

Viktor Yanukovych is the great survivor of post-Soviet politics in Ukraine. He made a comeback from one revolutionary defeat. His main rivals are either tarnished or in jail. He is both courted and threatened by the Kremlin, wooed by Brussels. He had an extremely hard and poor upbringing in the industrial wastelands of eastern Ukraine. He is now a very wealthy man with a large estate outside Kiev.

The young people thronging the streets and squares of the Ukrainian capital and other cities are baying for his head, identifying the president as the embodiment of what they do not want their country to be. Jailed twice for assault as a youngster, Yanukovych has thrived in the thuggish world of Ukrainian politics. He will not go easily.

"Yanukovych's behavior became the crucial factor," commented Lilia Shevtsova of the Carnegie Russia thinktank in Moscow. "He is trying to ensure his reelection in 2015. This primary motive has guided his actions. He concluded that European integration would not guarantee him victory and decided to fall back on Putin's formula of preserving power."

Since his refusal to commit to Europe and instead opt for Russia at an EU summit in Lithuania last Friday, the president has been surprisingly quiet. Hundreds of thousands have commanded the streets of Kiev and occupied official buildings. He has failed to respond in words, except to issue a statement at the weekend saying he was deeply indignant at the riot police attacks on peaceful protesters at dawn on Saturday. But public speaking has never been his strongest suit.

Yanukovych presides over a dysfunctional, deeply divided, highly corrupt, extremely poor country positioned pivotally between Russia's western frontier and the EU's eastern flank. Parts of western Ukraine used to be Poland and before that part of the Austro-Hungarian empire, while the Russian-speaking east and south belonged to Moscow and remain culturally Russian. There is no national consensus on what this country should be.

A native Russian speaker who only learned to speak the country's first language in his 50s out of political expediency, Yanukovych has long been seen as of the old regime, Moscow's man. The balancing act has been tricky and he has had rough moments with the Kremlin. But as demonstrated last week, when push comes to shove, Yanukovych is much more comfortable with, and has more to benefit from, the type of politics practised in Moscow compared to the systemic reforms that would have flowed from the political association agreement and free trade regime with the EU that he ditched in Vilnius.

"This is a revolutionary situation, in a technical sense," said Andrew Wilson, Ukraine expert at the European Council on Foreign Relations. "His natural instincts are to attack."

It may turn out to be harder to unseat Yanukovych than it was in the Orange Revolution of 2004-5. He himself ignited that revolt by trying to steal an election. He lost, giving way to Viktor Yushchenko, who proved an ineffectual president embroiled in endless intrigues with the then prime minister and fellow revolutionary, Yulia Tymoshenko.

Yanukovych made a comeback, replacing Tymoshenko as prime minister. He then beat her to the presidency in 2010. A year later she was in jail. Outside observers, unlike in 2004, however, gave the 2010 contest a clean bill of health.

In the middle of his five-year term, Yanukovych is clearly in trouble. The question is how much? Can he weather the protests, grind the demonstrators down, rely on his secret police and security forces, on some of the most powerful oligarchs in the country who bankroll him and control much of the media? Can he depend on Vladimir Putin in Moscow to shore him up? Can he secure the loans needed to forestall Ukraine going broke?

In 2004 the security forces split between the revolution and the old regime. Yanukovych has already lost several MPs and his chief of staff, Serhiy Lyovochkin, has defected. Together with the energy oligarch and one of Ukraine's richest men, Dmytro Firtash, Lyovochkin controls Ukraine's biggest TV station. Firtash is also believed to "own" up to 10 MPs who could tip the balance in bringing down the government, if not the president.

Yanukovych is one of several leaders, all strongmen, all relatively popular, all winning elections, and then using their mandates to polarise and divide, reward their cronies and punish their rivals; control freaks who fear and despise independent institutions and vibrant civil societies. There are similar situations in Russia, Turkey, and Hungary. The leaders are different, specific to their own cultures, but share many characteristics and employ similar methods of control and coercion, buying loyalty and penalising opposition and resistance. If you are a Russian, a Turk, a Hungarian, or a Ukrainian right now, according to the powerful government chiefs, you are either with us or against us.

In 2004 the Orange Revolution achieved critical mass, as did the protests in parallel crises in Serbia in 2000 and Georgia in 2003, and toppled the ancien régimes. The Kremlin studied the events closely and learned its lessons. Orange is a term of abuse, conjuring up fear and ridicule in Putin's Moscow. A street victory in Kiev will be a defeat for the Kremlin.

"The key pressure point is the parliament," said Wilson, anticipating an attempt to muster a vote of confidence and bring down the government. "That would leave Yanukovych dangerously isolated. Russia has very destructive, coercive powers. They won't work in the long term."

But in the short term, that raises the stakes in Ukraine. Russia's interest in preserving the status quo makes the situation more dangerous, perhaps increasing Yanukovych's chances of survival.



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