quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Já conhece o novo Mercado de Campo de Ourique?

Por Miguel Branco
publicado em 27 Nov 2013 / in (jornal) i online

Duas mãos cheias de novos quiosques modernos que revitalizam o espaço. Reabriu ontem e é coisa para lançar uma nova moda
Caro leitor, permita-nos a intromissão nos seus botões, mas este é um exercício indispensável à compreensão da temática: quais são as duas primeiras coisas em que pensa quando se diz a palavra "mercado"? Pois claro, cheiro a peixe e gente a gritar pelos fregueses. Talvez ao fim-de-semana a conversa seja outra mas a inexistência destes dois requisitos pode ser perturbadora. Porém, o princípio do "aqui há de tudo" não falha neste renovado Mercado de Campo de Ourique, em Lisboa.

Das leguminosas aos torresmos e às guloseimas, gente nova de avental e as mesmas luvas de plástico descartáveis nas mãos enrugadas de quem já não sabe ter outra vida. O Mercado de Campo de Ourique ganha agora um novo rosto com uma série de quiosques e tasquinhas, mas nem por isso põe de parte os que aqui já tinham raízes. Tudo resultado de um projecto de renovação (depois de um concurso aberto pela autarquia) que pretende atrair mais gente, com gostos distintos (à imagem de espaços semelhantes como os que se encontram em Madrid ou Barcelona). Fizemos um passeio matinal por bancas que não costumam habitar estes territórios. E estas são apenas amostras.

Estacionámos o caderno logo à entrada, na Charcutaria Lisboa, aventura que começou apenas há três semanas, sem grande preparação. "Estive 6 meses no Brasil e agora não sabia bem se regressava para lá ou se ficava. Em conversa com uns amigos que fazem parte da concessão do mercado surgiu esta ideia", explica Francisco Mira. E para quem aposta nos enchidos e queijos - o ex-líbris é o presunto DOP de Barrancos - é de salientar que falamos de um negócio de atletas. Agronomia é o clube actual deste internacional de râguebi, que tem rivalidades na vizinhança. "É curioso, os donos da hamburgueria [Ultry] são os dois do CDUL e - Francisco e os dois sócios - mas já jogámos todos juntos na selecção. Este sábado vamos defrontá- -los. Tem sido bastante divertido, estamos sempre a brincar", confessa. Brincadeira? Vá por nós caro leitor, cuidado com as placagens.

COM VIZINHOS ASSIM... Até dá outro gosto trabalhar. Até porque não é preciso criar ódios de estimação com todos os vizinhos, já basta aquele que abusa do volume das colunas. E essa sinergia própria entende-se noutros exemplos. Até porque a partilha, além de bonita, desenrasca.

David Igrejas é a face do Joe's Shack, o quiosque americano de serviço. A primeira coisa que faz à chegada é dirigir--se à banca do peixe e pedir uma valente remessa de chocos para os seus Fried Squid (choco panado). Prova suficiente das práticas auto-sustentáveis da comunidade deste mercado e da convivência saudável entre inquilinos. "Vivi dez anos em Miami e sempre tive a ideia de abrir algo tipicamente americano. O que nos interessou foi explorar um conceito descontraído, de finger food. Lá [EUA], isto chama-se Sports Bar, ir trincando qualquer coisa e ver desporto. Sou o maior fã desse número", explica.

A arma secreta, segundo David, são as asas de frango com aipo e molho bluecheese, entre outros (picante, barbecue, alho e mel ) - servidas em pacotes de 12 unidades (7€) e 24 unidades (13€).

OS OLHOS TAMBÉM COMEM Avisámos na entrada do texto e repetimos o alerta: isto vai virar moda. Afinal de contas está inserido num dos mais populares (entenda-se concorridos) bairros de Lisboa - basta pensar-se que a conceituada revista "Monocle" elegeu, na sua edição de Novembro, Campo de Ourique como o "best inner-city suburb", num artigo em que destaca os melhores bairros em seis grandes cidades. Além disso, toda a nova decoração é traiçoeira, os quiosques são uma mistura entre o tradicional e o chique (que é como quem diz "fino mas do povo"), com aqueles letreiros que hoje em dia vendem hambúrgueres a torto e a direito. Vitrinas grandes, que chama clientes só com um olhar. É sempre uma boa táctica.

Repare-se (fotografia número 1) o que nos fazem. Largam mariscos a monte mesmo ali e nós que nos aguentemos, está bem está, bem se sabe que os olhos também comem. Pedro Coelho é o dono do Mercado do Marisco, que alia a marisqueira a uma champanheria, que nos explica o truque para abordar o mercado. "Nada de se fazer uma refeição completa, é mais o vaguear pelo mercado, um bocado à imagem do que se faz noutros. Uma pessoa ir picando entre ir à carne, comer uma sopa e um marisco, uma salada. O interesse é que os clientes explorem", confessa.

As gambas (5€ a dose) a sopa (2,5€) e o recheio de santola (2,5€) são as especialidades da casa, que ainda se atira para os pregos. "Como toda a boa marisqueira, que tem de ter um prego, nós temos um prego com carne da alcatra", afirma. A acalmia na fala de Pedro reflecte o estaminé que quis montar. "Pretendemos que este seja um conceito que dê primazia à rapidez e à qualidade, funcionar tudo à volta do marisco, a isto juntar o conceito de ostras e champanhe. Acima de tudo é uma marisqueira soft, uma coisa suave", diz. As obras de preparação é que não devem ter sido coisa branda. Com balcões por montar e equipamento para adquirir, baldes e pesos que fortaleceram laços. "Sobretudo damo--nos muito bem com os vizinhos da frente, fomo-nos conhecendo uns aos outros. Há aqui muita malta nova que não sabe o que isto vai dar, como vai correr, mas está tudo confiante e com espírito, é meio caminho andado", afirma.

Provas Na marisqueira ofereceram uma sopa, mas o timing não era o melhor, aqui fica o agradecimento. Mas no quiosque da Gelati di Chef provámos um cone de bolacha de fabrico próprio. Carlos Madeira é o chefe de serviço que nos explica tudo. "Gelados de boa qualidade com um toque de chefe, ou seja, não apenas vender o gelado, mas também vender o conceito e a receita, não se trata de agarrar num cone qualquer e pôr uma bola de gelado em cima e comer."

Gelados com assinatura, com uma bolacha esmigalhada ou umas pipocas em cima de uma bola de chocolate negro, por exemplo. Na Gelati di Chef, os preparativos estavam demorados. Às tantas aparece o primeiro cliente: uma criança (5/6 anos) surge com uma nota de 5€ e pede um waffle com canela, açúcar e topping. Mais nada.

Das 10h às 23h, até à 01h ao fim-de-semana





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