sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Crise aumenta desigualdade em Espanha, 20% mais ricos recebem 44% dos rendimentos


Crise aumenta desigualdade em Espanha, 20% mais ricos recebem 44% dos rendimentos

O estudo demonstra um aumento dos espanhóis que vivem abaixo da linha da pobreza, que aumentou dois milhões para 9,3 milhões.
A crise aumentou 10,8% a desigualdade em Espanha, especialmente nas duas maiores cidades, Madrid e Barcelona, e os 20% dos espanhóis mais ricos recebem já mais de 44% do total dos rendimentos, segundo um estudo divulgado nesta quinta-feira.
Os dados foram divulgados pelos Técnicos do Ministério da Fazenda (Gestha) no relatório A desigualdade em crise: homem rico, homem pobre apresentado no âmbito do XIII Congresso Anual que decorre em Granada.

Para analisar a desigualdade, a GESTHA contrastou os rendimentos declarados pela população espanhola, demonstrando “um alto nível de desigualdade social e económica”.

“Os 20% mais ricos receberam 44% dos rendimentos e os 20% mais pobres apenas 6,6% dos rendimentos totais”, refere o estudo.

Segundo o índice de Gini, que serve para medir se a riqueza está ou não bem repartida (sendo zero o valor mais equitativo e 1 o mais desigual), o registo espanhol é de 0,32, “um nível elevado para um país como Espanha, que se encontra entre os países mais desenvolvidos”.

Este índice cresceu 10,8% desde 2008, ano em que os efeitos da crise se começaram a sentir em Espanha, indicando, segundo os técnicos, “a crescente desigualdade” entre os espanhóis.

No período de crise analisado, o estudo destaca que os anos de 2009 e 2010 foram “os mais dramáticos”, devido ao aumento de mais de dois milhões no número de desempregados, e à deterioração “mais intensa” da economia espanhola, “que chegou a recuar 3,7%”.

Depois da cidade autónoma de Ceuta (0,51 de índice), Madrid é a segunda cidade espanhola com maior desigualdade, com um valor de 0,43, o que representa 11 pontos acima da média do país (0,32).

A Extremadura, considerada uma das regiões autónomas mais pobres de Espanha é também aquela onde a desigualdade é menor, com um índice Gini de 0,14.

O estudo hoje divulgado demonstra, igualmente, o aumento significativo dos espanhóis que vivem abaixo da linha da pobreza.

Desde 2007 o número de espanhóis nesta situação aumentou em dois milhões para 9,3 milhões, o que representa um crescimento de 28,8%.

Também aqui se evidenciam diferenças significativas na geografia espanhola, com a desigualdade a crescer mais em Navarra (52,8%), Melilla (52,4%), Castela La Mancha (51,5%), Madrid (48,9%) e Catalunha (48,2%).

No sentido inverso – regiões onde o número de pessoas abaixo da linha da pobreza diminui – estiveram as regiões de Castela e Leão (-16,4%), Extremadura (-8%) e Ceuta (-5,6%).

Os técnicos da Gestha atribuem esta diminuição ao facto de estas serem “regiões autónomas onde a densidade dos grandes patrimónios é muito menor, o qual não cria uma situação de variação tão grande com o resto dos assalariados, que têm rendimentos bem mais modestos”.

Para tentar corrigir esta situação, a Gestha defende medidas adicionais de combate à fraude, especialmente para analisar “a evasão protagonizada pelas grandes fortunas e grandes empresas, que concentram o 71,8% da fraude fiscal total”, o que representa uma perda anual de receitas para o Estado de 42 mil milhões de euros.

A Gestha defende ainda um novo Imposto sobre a Riqueza, o que poderia representar receitas adicionais de 3.400 milhões de euros anuais.

“Isso teria um maior efeito sobre as receitas e serviria para evitar a aplicação de novos cortes, com os que só se acrescenta mais pressão sobre a economia das classes médias e trabalhadoras”, disse o presidente de Gestha, Carlos Cruzado.

“Também ajudaria a uma reordenação da Agência Estatal Tributária (AEAT) para que dedicasse mais esforço a perseguir a fraude das multinacionais e grandes companhias do país, em vez de concentrar 80% dos recursos no mais fácil que é investigar trabalhadores por conta própria, microempresas, Pequenas e Médias Empresas e trabalhadores por conta de outrem”, sublinhou.

Os Técnicos do Ministério de Fazenda (Gestha) englobam 8.000 profissionais e são o grupo mais representativo dentro do Ministério da Fazenda e da Agência Tributária espanhola.

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