sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Um partido a duas vozes. SEARA ... AFECTOS ? ... ou simplesmente POPULISMO ?

Um partido a duas vozes

Editorial / Público
O PSD não pode guardar no armário o fato de ministro e vir para a rua desancar a eito na troika
Em política, há muitas maneiras de dar um puxão de orelhas ao vizinho. Jorge Moreira da Silva, ministro, vice-presidente social-democrata e antigo porta-voz de facto do partido, escolheu um modo suave para lembrar ao porta-voz que lhe sucedeu, o também vice-presidente do PSD Marco António Costa, que foi longe de mais nas críticas que, na quarta-feira, dirigiu ao FMI (acusando-o de "hipocrisia institucional"). Moreira da Silva falou depois de Passos Coelho ter ignorado as palavras de Marco António - o primeiro-ministro também não deu o seu aval ao pedido de Miguel Frasquilho para que da troika viesse o bálsamo de "um alívio fiscal". Em tempo de negociações não se brinca e Jorge Moreira da Silva veio deixar isso claro.
A questão de fundo, porém, é que a maioria não pode ter dois discursos ao mesmo tempo: "sério" e "de governo", eventualmente destinado a agradar aos ouvidos da troika, e outro ruidoso e populista, como se fosse possível guardar por umas horas no armário o fato de ministro e sair à rua com roupas de campanha para desancar a eito na troika. Não é possível. E é grave que esta dualidade vocal, em tempos um património atribuído à diversidade de ideias de uma coligação com dois partidos, venha agora do principal partido do Governo. Sobretudo quando o PSD (e, em particular, Marco António Costa) tem centrado o seu discurso de campanha na crítica ao facilitismo dos socialistas e à ideia de que o rigor e a austeridade são a necessária expiação pelos desvarios dos tempos de José Sócrates.

A crise não pára e o PSD não pode aspirar a ter o melhor de dois mundos: negociar discretamente com a troika e, ao mesmo tempo, fazer passar para a opinião pública a ideia que também faz voz grossa aos credores. O país precisa de recuperar a sua soberania na vida real, e não no terreno fácil da demagogia de campanha.

Crítica ao FMI lançada pelo porta-voz do PSD causa mal-estar no partido


Ministro Moreira da Silva disse não ser sensato fazer comentários sobre as instituições enquanto decorrem as avaliações. CDS está mais moderado nas críticas anti-troika e no pedido para descer impostos
A declaração de Marco António Costa em que acusou o Fundo Monetário Internacional (FMI) de "hipocrisia institucional" em plena avaliação da troika dividiu opiniões, mas criou incómodo no PSD. Há quem se reveja mais no tom moderado do CDS, que pediu "coerência" àquela instituição internacional entre os relatórios que produz e as decisões tomadas. Mas também há quem aponte a vantagem de tentar descolar o Governo da imagem de subserviência perante a troika.
Foi pela voz de outro vice-presidente do PSD, Jorge Moreira da Silva, que o mal-estar no partido ficou à vista. Quando questionado sobre a declaração de Marco António Costa, que é porta-voz do partido, Jorge Moreira da Silva defendeu "não ser muito sensato" fazer comentários públicos sobre a troika enquanto decorrem os exames.
"Há um hábito, que me parece muito sensato, que é: enquanto estamos nestas discussões sobre a avaliação por parte da troika, é preferível não haver um nível de comunicação pública muito elevado, na medida em que estão a ser discutidas várias matérias com as três instituições", Comissão Europeia, Banco Central Europeu (BCE) e FMI.
Marco António Costa estava em campanha quando reagiu ao relatório do FMI, divulgado na quarta-feira, em que a instituição reconhece estar errada em pontos essenciais dos programas de ajustamento.
O porta-voz do PSD disse ontem não se ter sentido desautorizado pelas declarações do ministro. "Jorge Moreira da Silva proferiu essa declaração enquanto ministro e é sabido que, no período em que decorre a avaliação da troika, os membros do Governo devem ter total reserva sobre estes assuntos", afirmou, fazendo a distinção entre os dois papéis: "Afirmei-o enquanto porta-voz do partido e em plena convicção das declarações que fiz. Se eu estivesse no lugar dele, faria o mesmo e, se ele estivesse no meu lugar, faria o mesmo que eu fiz".
O PSD tem sido muito mais contido nas críticas às opções da troika, mas o porta-voz do partido tornou público o seu desagrado. "Há uma hipocrisia institucional da parte do FMI, porque há relatórios que sublinham essa preocupação, mas depois, no concreto, na postura que revela na mesa das negociações, na atitude que assume no dia-a-dia de relacionamento com os estados, com os governos (...), o que mostra é uma atitude muito pouco flexível", afirmou Marco António Costa, na quarta-feira.
Já o CDS foi mais moderado nas declarações feitas por vários dirigentes sobre o assunto. "O que é importante é que os discursos conceptuais das entidades internacionais que nos emprestam dinheiro depois correspondam a uma coerência na questão prática do que dizem", afirmou Pires de Lima, ministro da Economia, também na quarta-feira. Já antes a deputada do CDS Cecília Meireles tinha desafiado o FMI a "passar das palavras aos actos". Para alguns sociais-democratas, este era o tom mais adequado e foi aquele que foi expresso pelo deputado Miguel Frasquilho, à saída da reunião com a missão externa, no Parlamento. "Espero que por parte da troika haja a abertura que este paper [relatório] veio demonstrar", declarou, depois de ter proposto uma descida do IRC e do IVA ainda que "simbólica".
Também na questão dos impostos, o PSD foi mais longe do que o CDS, que se tem destacado do seu parceiro de coligação pela defesa do alívio da carga fiscal. Na reunião com a troika, os centristas foram mais prudentes e só sustentaram a necessidade de flexibilizar a meta do défice para 2014 para os 4,5%.
Horas depois de Frasquilho ter pedido um "alívio" fiscal, Passos Coelho veio colocar um travão a essa possibilidade

SEARA ... AFECTOS ? ... ou simplesmente POPULISMO ?
Na arruada de ontem, o candidato distribuiu abraços pela multidão


Seara promete limpeza diária das ruas, em campanha calorosa
Candidato à Câmara de Lisboa diz não querer uma ruptura com a obra de Costa, mas promete mudar "gestão do quotidiano"
O candidato PSD/CDS/MPT à presidência da Câmara de Lisboa, Fernando Seara, aproveitou ontem a arruada na Av. Almirante Reis para distribuir os "afectos" de que tanto falou na apresentação do seu programa eleitoral. Durante quase duas horas, entre diversas paragens nos cafés para beber água, distribuiu apertos de mão, abraços e bolas de futebol e aproveitou para erguer uma das suas principais bandeiras nesta campanha: o reforço da higiene urbana na capital.
"Está a ver? Só o tiram a 1 de Janeiro de 2014", ironiza, apontando para caixotes de papelão, sacos de lixo e lâmpadas encostados ao vidrão em plena rua. O candidato promete criar brigadas permanentes de limpeza, que façam a lavagem das ruas diariamente, e resolver também o problema dos buracos nos passeios.
Pouco depois das 18h00, Seara começou a descer a avenida, no lado oposto ao que Costa escolheu na terça-feira para desfilar com António José Seguro. O candidato da direita não tinha consigo nenhuma cara conhecida dos partidos da coligação, mas nem por isso desanimou e no final confessava-se "contente".
Ao som de bombos, a comitiva com algumas dezenas de apoiantes - entre eles candidatos a juntas de freguesia da zona e o deputado António Prôa, candidato a vereador - distribuia panfletos e na estrada seguiam carros com altifalantes por onde, de vez em quando, soava um apelo ao voto na candidatura Sentir Lisboa. Terá sido a iniciativa mais calorosa do candidato desde o início da campanha, que até se tem pautado por simples apertos de mão e poucas conversas com os transeuntes.
Pelo caminho, um rapaz abordou Seara para lhe pedir que trate os jovens como pessoas e não como números. "É o que eu faço", respondeu, lembrando que uma das suas prioridades é o apoio social.
À chegada ao Martim Moniz, de costas para as recentes esplanadas e quiosques instalados na praça que Costa revitalizou, Seara elogiou o ambiente de "atractividade multicultural" da zona e explicou que o objectivo da sua candidatura não é "fazer ruptura" com a obra feita. "O que nos diferencia é a gestão do quotidiano", afirmou, acrescentando que as diferenças estão na "organização e gestão". Mas promete mudar algumas coisas. Por exemplo, ficará "firme e hirto" na Praça do Município e não irá ocupar o gabinete que Costa instalou no Intendente. Outra mudança: "Quero repor o trânsito nas laterais da Avenida da Liberdade."
Se não ganhar a corrida à presidência, ficará como vereador. "Quando for para a Praça do Município, não me engano no trajecto, nem recuo para o aeroporto, nem vou para o Largo do Rato [onde fica a sede do PS]". E sublinha: "Eu vim para ficar".

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