segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Processos penais contra os cinco deputados neonazis gregos detidosAurora Dourada. Seis deputados neonazis vão ser ouvidos pela justiça. Golden Dawn MP Christos Pappas surrenders to Greek police.Governo grego assegura estabilidade face a detenções do Aurora Dourada. Cronologia dos acontecimentos em baixo.




Processos penais contra os cinco deputados neonazis gregos detidos

In Sol online

Processos penais foram hoje iniciados contra o dirigente do partido neonazi grego Aurora Dourada e os outros quatro deputados desta formação política hoje detidos, que continuam detidos até serem presentes a um juiz, indicou fonte judicial.
Os processos foram abertos pelo procurador do ministério público pelas acusações de "participação numa organização criminosa" e "liderança" dessa organização, no caso de Nikos Michaloliakos, fundador e líder da Aurora Dourada.

A mesma acusação estende-se igualmente a 15 outros membros do partido hoje detidos no âmbito de uma vasta operação policial.

A apresentação dos detidos aos dois juízes de instrução designados para acompanhar este caso deverá ocorrer nos próximos cinco dias, segundo a mesma fonte judicial.

Caberá aos juízes pronunciarem-se sobre a eventual acusação formal dos deputados e membros da Aurora Dourada.

Até serem presentes em tribunal, os cinco deputados permanecerão detidos.

A acusação de posse ilegal de armas foi igualmente feita contra vários dos elementos do partido extremista que foram alvo de buscas nas respectivas residências durante o dia de hoje, entre os quais o dirigente da Aurora Dourada.

A imagem de Nikos Michaloliakos, de 56 anos, saindo algemado da esquadra da polícia grega em Atenas para ser transferido, ao início da tarde, para o tribunal foi mostrada repetidamente nas estações de televisão do país.

Segundo uma fonte judicial, a investigação iniciada há uma semana pelo Supremo Tribunal grego levou à recolha de provas que permitem classificar o partido Aurora Dourada como "uma organização criminosa".

O Supremo Tribunal foi encarregado de investigar o assassínio, há 10 dias, de um músico antifascista esfaqueado na periferia de Atenas por um membro da Aurora Dourada, que confessou os factos.

Este homicídio revoltou a Grécia e provocou no Governo, há muito acusado de complacência em relação aos neonazis, um assomo de combatividade contra os membros desse partido suspeitos de numerosas atrocidades, nomeadamente contra estrangeiros, e que entrou no parlamento em Junho de 2012, depois de ter conseguido eleger 18 deputados.


Lusa/SOL

Aurora Dourada. Seis deputados neonazis vão ser ouvidos pela justiça

Por Diogo Pombo
publicado em 30 Set 2013 in (jornal) i online

Membros do partido neonazi vão amanhã ou na quarta-feira a tribunal na sequência da investigação à morte de um cantor antifascista
Quando ontem chegava de táxi à porta da esquadra da polícia grega, em Atenas, Christos Papas gritou repetidamente "a Aurora Dourada vai sobreviver". Em dois dias, foi o quinto deputado do partido neonazi a ser detido pelas autoridades, além de Nikos Michaloliakos, fundador e líder da Aurora Dourada. O diário grego "Kathimerini" adiantou que os seis deputados devem comparecer amanhã ou na quarta-feira em tribunal, acusados, entre outros, de crimes de assassínio, extorsão, lavagem de dinheiro e de pertencerem a um grupo criminoso mascarado de organização política.

Pelo menos 22 membros do partido ultranacionalista foram já detidos na sequência de uma investigação do Supremo Tribunal helénico à morte de Pavlos Fyssas - um rapper grego antifascista de 34 anos, que a 18 de Setembro foi esfaqueado no Pireu por um confesso apoiante da Aurora Dourada. O suspeito, já detido pela polícia, é acusado de homicídio voluntário e posse ilegal de arma.

Nos dez dias seguintes, segundo o "The Guardian", as autoridades realizaram buscas em várias sedes do partido e residências dos seus membros, tendo até detido alguns elementos da polícia, suspeitos de terem ligações à Aurora Dourada, para evitar que alertassem os alvos das buscas. O diário grego "Ta Nea" revelou que pelo menos 20 agentes da polícia foram suspensos das suas funções. No sábado, após ser detido, Nikos Michaloliakos, líder do partido, avisou que "a campanha" contra a Aurora Dourada "vai abrir as portas do inferno".

O ministro grego da Ordem Pública sublinhou que a operação vai continuar. "Quero assegurar aos cidadãos gregos que a investigação não vai ficar por aqui", garantiu Nikos Dendias à Reuters. As críticas ao caso vieram aliás de várias vozes do governo. Citado pela CNN, o ministro das Finanças, Evangelos Venizelos, disse que a Aurora Dourada "deve ser tratada como uma organização criminosa" e Charlambos Athanisiou, tutelar da Justiça, prometeu que "todos os detidos vão ser julgados com justiça".

Antes das detenções, na sexta-feira, a Aurora Dourada ameaçou retirar do parlamento os 18 deputados que elegeu nas legislativas de Junho de 2012, quando recolheu 7% dos votos. Algo que poderia forçar a coligação (155 assentos) de Antonis Samaras, primeiro-ministro e líder da Nova Democracia, a enfrentar eleições suplementares para preencher as vagas abertas pelos deputados da Aurora Dourada. Desde 1974, ano em que terminou a ditadura militar no país, que um deputado não era detido na Grécia.


Apesar de aguardarem julgamento, os seis deputados mantêm o seu lugar no parlamento. A lei grega estipula que os deputados apenas perdem o lugar caso sejam formalmente condenados a cumprir uma pena de prisão. A Reuters, porém, avançou que o governo já redigiu uma proposta de lei para bloquear o financiamento estatal à Aurora Dourada, caso a investigação policial prove as ligações do partido ao assassinato de Pavlos Fyssas.

Golden Dawn's Christos Pappas is escorted by masked officers to the prosecutor's office in Athens on Sunday.
Golden Dawn MP Christos Pappas surrenders to Greek police
Far-right party's parliamentary spokesman walks into police headquarters 24 hours after arrests of key members

Helena Smith in Athens

A Greek MP said to be the second in command of the far-right Golden Dawn party has surrendered after authorities arrested the organisation's leader and other key members on charges of running a criminal gang.

Christos Pappas, the party's parliamentary spokesman and unrepentant holder of many of its most hardline views, handed himself over to police more than 24 hours after an unprecedented crackdown on the neo-fascist group began.

Appearing at Athens's central police headquarters in a taxi, the politician insisted the vehemently anti-immigrant party would "survive … the political persecution" it was being subjected to.

"I present myself voluntarily. I have nothing to hide, nothing to fear," he told reporters waiting outside the building where five other Golden Dawn MPs, including Nikos Michaloliakos, its leader, were taken into custody on Saturday. "The truth will shine. Nationalism will win. We will wage a non-stop political struggle and we will survive."

Like other members who appeared in court in handcuffs hours after their arrest, Pappas faces charges of murder, money laundering, extortion and intent to commit crimes.

His surrender came as officials in Europe, human rights groups, Jewish organisations and diaspora Greeks applauded the crackdown – the first to be conducted against sitting MPs since the collapse of military rule in 1974. Golden Dawn is often seen as Europe's most violent political group and has been blamed for more than 300 attacks on immigrants in the three years since Greece plunged into economic crisis.

"We praise the Greek government for taking bold measures to bring the leaders of Golden Dawn to account for their actions and to safeguard Greece's democracy," said Anthony Kouzounis, the head of Ahepa, an association representing ethnic Greeks in the US, the world's biggest diaspora community.

"The party's extremist principles and paramilitary-like tactics perpetrated upon any individuals of a free, democratic society are alarming and are a true threat to Greece's democracy."

Emboldened by its meteoric rise in the polls, the party had begun to look abroad, establishing branches in the US, Canada and Australia in the hope that it could capitalise on the anger of diaspora Greeks over the financial meltdown.

Before this month's murder of a Greek musician by a Golden Dawn supporter spurred the government into finally taking action, the organisation was scoring as much as 15% in opinion polls – more than double its vote when it took seats in Athens on the back of economic despair for the first time in June last year.

With six deputies now in custody, pending trial, the party's executive power has been severely diminished and its parliamentary presence cut by a third. Byelections are expected to take place to replace the deputies.

As he was being hauled before the court, Michaloliakos shouted: "Golden Dawn will never die."

But without its leader, the party seems rudderless. Tellingly, only a few hundred sympathisers heeded a call for support following the arrests, gathering outside police headquarters as the politicians were brought in.

The government of prime minister Antonis Samaras has pledged that the inquiry will continue. Arrest warrants have been issued for another 11 Golden Dawn members who are still at large.
Os deputados do Aurora Dourada Yannis Lagos (à frente) e Ilias Kasidiaris (atrás) no momento da prisão
Governo grego assegura estabilidade face a detenções do Aurora Dourada
Primeiro-ministro e o seu número dois asseguram que não haverá eleições nacionais ou intercalares. Mas a Constituição prevê-as, caso se demitam os 18 deputados de extrema-direita
A prisão dos líderes do partido neonazi Aurora Dourada no fim-de-semana - a maior acção contra políticos desde a queda da junta militar em 1974 - é uma acção de consequências imprevisíveis. O primeiro-ministro, Antonis Samaras, e o seu número dois, Evangelos Venizelos, foram rápidos a descartar a hipótese de eleições intercalares ou antecipadas. Mas ninguém sabe ainda o que pode acontecer.
Se os outros 12 deputados do Aurora Dourada se demitissem em protesto contra a prisão do seu líder, Nikolaos Michaloliakos, e mais cinco deputados do partido, seria necessário levar a cabo eleições intercalares, nota o professor de Ciência Política da Universidade de Atenas Michalis Spourdalakis, numa conversa telefónica com o PÚBLICO.
Os seis deputados detidos, que só perdem o cargo se forem condenados, são acusados de pertencer a uma organização criminosa e de crimes como lavagem de dinheiro, e vão hoje ser presentes a tribunal. A acção foi desencadeada após o assassínio de um activista de esquerda, Pavlos Fyssas, por um apoiante do Aurora Dourada. Se o total de 18 deputados do partido saíssem, como dirigentes já ameaçaram fazer, alterariam a relação de forças entre o Governo (155 deputados) e a oposição no Parlamento de 300.
No entanto, Spourdalakis acrescenta que uma série de constitucionalistas ligados ao Governo têm vindo a desvalorizar esta opção, defendendo que o Parlamento poderia continuar a funcionar sem estes deputados. Conclusão: "Ninguém sabe se estes deputados se vão demitir, e também ninguém sabe se, caso o façam o Governo, respeitará a obrigação de levar a cabo eleições."
Estas não seriam do interesse do executivo Nova Democracia-Pasok, já que a coligação de esquerda radical Syriza, contra o memorando entre a Grécia e a troika e as medidas de austeridade que vêm com este acordo, está a subir nas sondagens (num inquérito da emissora Skai tinha mesmo ultrapassado o Nova Democracia como primeiro partido a nível nacional). Em caso de eleições intercalares, antecipa-se que o Syriza ganharia grande parte destes lugares, decididos num esquema de winner takes all, diz Spourdalakis.
"Justiça, estabilidade, mas não eleições", disse simplesmente Antonis Samaras (Nova Democracia, centro-direita) a um grupo de jornalistas após as detenções do líder e deputados do Aurora Dourada. O seu número dois, Evangelos Venizelos (Pasok, centro-esquerda), repetiu esta ideia e foi mais longe, dizendo mesmo que "os deputados do Aurora Dourada não se vão demitir, de modo nenhum".
"Estamos plenamente conscientes dos problemas e estamos prontos a lidar com eles no quadro da Constituição", disse ainda Venizelos. "Não nos devemos apressar, ou deixar que as acções dos neonazis ditem o que vamos fazer."
Do lado do Syriza, porém, eram pedidas eleições. "Não somos nós que estamos com pressa de governar, é a Grécia que não consegue mais aguentar os que nos estão a levar ao desastre", disse o líder do partido, Alexis Tsipras. "Querem que os deixemos em paz para assinarem o terceiro resgate que acordaram com os credores", disse ainda, citado pelo diário Kathimerini.
A resposta
Há também especulação sobre o que irá fazer o partido Aurora Dourada e os seus apoiantes.
"Este é sem dúvida um duro golpe contra o Aurora Dourada", diz Spourdalakis. "Mas não sabemos como os seus apoiantes, ou a sua ala militar, vão responder - as detenções foram no sábado, é muito cedo", nota o professor.
Há descrições de membros na sede do partido a não aceitarem ser fotografados, dizendo temer ataques da extrema-esquerda. Reagindo a um pedido de mobilização, cerca de duas centenas de apoiantes juntaram-se em frente a esquadras de polícia, com bandeiras gregas e entoando slogans nacionalistas.
O partido cresceu com a crise. De uns insignificantes 0,72% dos votos em 2009 passaram para 7% em Junho passado. Aproveitando as falhas das instituições, acompanharam idosas para levantarem a sua reforma sem medo de serem assaltadas, ou fizeram acções de distribuição de comida (na sua sede ou, depois, em espaços públicos, as distribuições de comida "para gregos").
O partido nega que seja neonazi, mas o seu símbolo faz lembrar a suástica e os seus membros fazem por vezes a saudação nazi. O Aurora Dourada diz, sim, defender a Grécia e os gregos, e, para além de fazer campanha pela expulsão dos imigrantes do país, os seus membros vinham a ser acusados de ataques cada vez mais violentos contra eles.
"O ventilador do Aurora Dourada é o memorando", comentava um membro do Syriza, Takis Pavlopoulos, ao diário britânico The Guardian. "A sua base não é ideológica" - seria estranho um partido destes num país que sofreu a brutalidade de uma ocupação nazi (1941-44). "É uma base de pessoas desesperadas."
Dito de outro modo por Spourdalakis: "É óbvio que a prisão destas pessoas foi um alívio para qualquer democrata deste país." "Mas toda a gente sabe que a luta contra um movimento destes, nazi e fascista, não pára com a prisão da sua liderança. Temos de lutar contra a pobreza, a insegurança, o declínio da democracia, todo o terreno fértil para que o movimento floresça."
E ainda que esta acção do Governo "lhe vá trazer uma recuperação provisória", argumenta, "esta não vai durar muito", já que os problemas de base continuam lá. "As maiores universidades estão a ter tremendos cortes, há hospitais a fechar... Há desenvolvimentos preocupantes a nível social."

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