terça-feira, 3 de setembro de 2013

Morreu mais um bombeiro. Quercus considera "preocupante" predomínio do eucalipto nas florestas. As consequências ambientais dos incêndios em Portugal.


Morreu mais um bombeiro


Sobe para seis o número de bombeiros mortos no combate aos fogos.
Faleceu nesta terça-feira mais um bombeiro que ficou gravemente ferido em Tondela, no combate ao incêndio que lavrou na semana passada na serra do Caramulo.
O bombeiro estava internado no Hospital da Prelada, no Porto, desde quinta-feira. Este é o sexto bombeiro a falecer este ano no combate aos incêndios.
Segundo a agência Lusa, que cita fonte do Hospital da Prelada, Bernardo Cardoso, de 18 anos, da corporação de Carregal do Sal, morreu ao início da noite desta terça-feira, depois de ter sofrido graves queimaduras, falência multiorgânica e “danos irreversíveis na via aérea".
O jovem, que ficou com queimaduras em 55% do corpo, estava em estado muito grave desde quinta-feira passada (29 de Agosto), dia em que, no mesmo incêndio (em São Marcos/Muna, na Serra do Caramulo), morreu a bombeira Cátia Pereira Dias, de 21 anos, e um terceiro bombeiro ficou ferido com gravidade.
A notícia da morte de Cátia Pereira Dias foi conhecida enquanto se realizava o funeral de Bernardo Figueiredo, de 23 anos, da corporação do Estoril (Cascais,) que não resistiu a ferimentos graves resultantes de outro incêndio também no concelho de Tondela.
Na Serra do Caramulo morreu ainda, no dia 22 de agosto, a jovem Ana Rita Pereira, de 24 anos, pertencente à corporação de Alcabideche (Cascais).
No mês passado morreram também António Nuno Ferreira, de 45 anos, operador de central no quartel dos bombeiros de Miranda do Douro, e Pedro Rodrigues, de 40 anos, que combatia um incêndio no concelho da Covilhã.
Na segunda-feira, fonte do Hospital da Prelada referiu que o prognóstico do outro bombeiro internado na unidade – Daniel Falcão, de 25 anos, operacional de Miranda do Douro – evoluiu de muito reservado para reservado. O homem mantém-se, no entanto, numa “situação grave”, depois de ter dado entrada com 70% a 80% do corpo queimado.

Também na segunda-feira, o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra informou que o estado clínico dos cinco bombeiros ali internados se mantém complicado para três deles – um, com 50 anos e transferido do Hospital de Braga, com prognóstico “muito reservado”, e os outros dois com prognóstico “reservado”.


Quercus considera "preocupante" predomínio do eucalipto nas florestas

Associação considera que área será ainda superior à revelada por dados preliminares do inventário florestal.
A associação ambientalista Quercus considerou preocupante que o eucalipto se tenha tornado na espécie que mais espaço ocupa na floresta nacional, principalmente devido ao risco de propagação de incêndios florestais.
“No caso do eucalipto, é preocupante, sobretudo ao nível da propagação dos incêndios florestais. É uma situação que nós vemos com alguma apreensão”, afirmou, em declarações à agência Lusa, Domingos Patacho, da Quercus.
O PÚBLICO avança nesta quarta-feira que o eucalipto “já se tornou a primeira espécie da floresta nacional”. Domingos Patacho referiu que, para a Quercus, “não é novidade que o eucalipto seja a primeira espécie em termos de ocupação de área em Portugal”. “Há mais de dez anos que dizíamos que o eucalipto ia avançar para áreas na ordem de já quase um milhão de hectares, e não andará muito longe disso”, disse.
O ambientalista referiu ter “algumas dúvidas sobre a fiabilidade dos dados [revelados]”, porque “há povoamentos mistos que não são contabilizados como área de eucaliptal”. Por isso, Domingos Patacho calcula que “os valores serão ainda superiores em relação aos que foram anunciados”.

De acordo com a Quercus, as plantações de eucalipto acarretam impactes ambientais consideráveis sobre o território, nomeadamente uma maior erosão do solo, a alteração do regime hídrico, a perda de biodiversidade e a alteração da paisagem, para além de facilitarem a propagação dos incêndios florestais de forma muito mais significativa do que as florestas constituídas por espécies autóctones.




As consequências ambientais dos incêndios em Portugal
Publicado em 03 de Setembro de 2013.

Como é sabido, este tem sido um Verão particularmente dramático no que diz respeito a incêndios florestais em Portugal. Apesar de se terem tornado quase num hábito nos períodos mais quentes, é importante lembrar que os impactos destes fogos que consomem hectares e hectares de floresta são muitos e graves – mesmo depois de extintos. “Sim, são muito graves”, explicou ao Green Savers Nuno Sequeira, presidente da Quercus.

Nuno Sequeira enumerou algumas das consequências para o ambiente destas ocorrências. Falamos naturalmente das emissões de CO2 que são libertadas para a atmosfera por via dos fogos, da perda de biodiversidade das zonas afectadas, tanto a nível de espécies vegetais como animais, e da degradação do habitat das espécies sobreviventes – consequência grave em especial para os herbívoros, que vêem as suas fontes de alimento seriamente comprometidas.

O presidente da Quercus lembra também a erosão dos solos, que se tornam desprotegidos após um incêndio, e a habitual destruição de espaços agrícolas. Este último é um aspecto que tem um forte impacto na economia local e familiar – falamos muitas vezes no desaparecimento em zona rural de espaços de agricultura familiar essenciais à subsistência das famílias.

O custo económico para o país do combate aos incêndios é também gigante, entre investimentos em transportes terrestres e aéreos. Novamente, nenhuma acção é estanque e também a água salgada usada para apagar os fogos acaba por ter um impacto negativo nos solos, ao salinizá-lo. A utilização de água do mar pode atrasar a normalização do equilíbrio natural da floresta e contaminar os recursos hídricos naturais.

Os danos ambientais e materiais, com a ameaça recorrente a habitações e bens, são também naturalmente preocupantes. Mas a mais lamentável consequência dos incêndios são os danos humanos, com a perda de vidas no combate às chamas.

Onde deflagram os problemas

Nuno Sequeira defende que o cenário que hoje observamos – um país em chamas – é o resultado de “diversos erros que têm vindo a acontecer”. E explica: “O que tem vindo a registar-se nas últimas décadas é um padrão de fogo descontrolado”. Trata-se de incêndios que lavram durante períodos e áreas demasiado longos – em grande parte devido ao despovoamento que se regista no interior do país, defende.

Acontece que há cada vez menos pessoas a fazer uma regulação dos solos, a lançar alertas e, no fundo, a controlar e vigilar as florestas. Isso dá espaço a todo o tipo de más práticas sobre o espaço natural que, aliadas à falta de acções de prevenção e limpeza no terreno, são catastróficas.

Para além desta tendência, Nuno Sequeira lamenta ainda o facto de terem vindo a ser instaladas monoculturas muito extensas nas nossas florestas, que levam a que os fogos comecem numa zona e se estendam para outras muito distantes. O eucalipto é um dos melhores exemplos neste panorama, como espécie exótica adoptada em detrimento das autóctones e que arde com muita facilidade.

“No futuro, tudo leva a crer que teremos problemas mais graves”, frisa Nuno Sequeira. O responsável enumera o aquecimento global, os Verões cada vez mais quentes e o novo regime de arborização e rearborização que favorece justamente a plantação de árvores como o eucalipto. “É uma medida muito grave”, afirma, sobre a qual a Quercus se continua a pronunciar contra.


Depois das mortes de bombeiros em serviço registadas recentemente, Nuno Sequeira afirma manter a esperança de que o governo passe a olhar para a floresta de forma diferente, percebendo que a sua gestão traz implicações directas severas para todo o país.

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