segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Agenda da austeridade perde fôlego com derrota dos liberais



Agenda da austeridade perde fôlego com derrota dos liberais


A vitória de Angela Merkel e a perspectiva de formação de uma "grande coligação" entre o seu partido conservador (CDU) e os sociais-democratas (SPD) suscitou em toda a Europa a esperança de que as exigências alemãs de austeridade aos países do Sul sejam atenuadas.
Embora não espere grandes "surpresas" na política europeia da Alemanha, que, por ser a maior economia do continente, é forçada a assumir a sua liderança, Mario Monti, ex-primeiro-ministro italiano, não escondeu a satisfação pela derrota eleitoral dos liberais (FDP), que os impedirá de reintegrar a nova coligação governamental em Berlim.
"O FDP actual foi um obstáculo frequente às políticas europeias", afirmou Monti em entrevista ao jornal La Stampa. Uma grande coligação deverá, em contrapartida, permitir "avanços na integração europeia" embora sem "surpresas", frisou o ex-primeiro-ministro, castigado nas urnas em Fevereiro precisamente por causa da austeridade. Segundo Monti, Merkel "deu uma impressão de coerência, continuidade e bom senso" num país que "gosta de estabilidade". "Os alemães gostam quando a mensagem principal é que não haverá surpresas", o que significa que de Berlim não é esperado um "abandono da disciplina orçamental", mas uma maior "atenção às exigências do crescimento económico", enfatizou.
Pierre Moscovici, ministro francês das Finanças, afirmou igualmente que espera que Berlim avance agora para "uma integração mais ambiciosa, incluindo a conclusão de alguns projectos como uma união bancária". Este é um dos temas mais urgentes para a zona euro, de modo a resolver de vez a fragilidade persistente de inúmeros bancos que está a travar a retoma da economia. Para grande frustração dos parceiros, Berlim tem vindo a recusar a criação de um fundo europeu para a reestruturação ou liquidação de bancos falidos, alegando que implicaria transferências de recursos dos países ricos para os pobres.
Logo que entrar em funções, a nova coligação terá na mesa um problema bem mais urgente para resolver resultante do buraco de financiamento da Grécia, que poderá precisar de um novo programa de ajuda, o terceiro desde Maio de 2010. Mas não só: Portugal está em vias de se tornar na nova dor de cabeça da zona euro se, como parece cada vez mais provável, o país não conseguir financiar-se por si no mercado como previsto a partir de Junho de 2014 e precise de novos empréstimos da zona euro.
A situação dos dois países obrigará Berlim a entrar num debate sobre uma possível nova suavização das condições dos empréstimos - prolongamento dos prazos de reembolso, novas reduções dos juros e mesmo algum tipo de perdão de dívida - que colocará duramente à prova a nova coligação.
O resultado eleitoral alemão foi um alívio para o resto da Europa também pelo facto de o novo partido eurocéptico (AfD) não ter passado a barreira dos 5% necessária para entrar no Parlamento. O alívio foi particularmente audível em Itália, traumatizada pela força inesperada do partido populista 5 Estrelas nas eleições de Fevereiro. Mesmo assim, ninguém menospreza a importância dos 2 milhões de eleitores conseguidos por um partido fundado há menos de um ano e que tenderá a capitalizar com todas as soluções eventualmente arrojadas da crise do euro, ou com qualquer eventual deterioração da situação económica na Alemanha.
"Por agora, o facto de [o AFD] ter falhado à justa os necessários 5% significa que os principais partidos podem respirar de alívio por não terem de lidar com um partido intencionalmente obstrucionista quando legislarem sobre as questões europeias", analisa o centro de reflexão European Council of Foreign Relations (ECFR).

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