quinta-feira, 26 de setembro de 2013

A culpa de António Costa


A culpa de António Costa
Por André Macedo
25/09/2013 | 20:20 | Dinheiro Vivo

 António Costa quer o seu voto em Lisboa. É um desejo que não o distingue em nada dos outros candidatos autárquicos. Não sugere, como devia sugerir, uma ideia para a cidade, uma proposta para melhorar o trânsito, a habitação, o emprego – pois, o emprego –, a vida de quem mora ou trabalha aqui. Apesar deste vácuo de comunicação (não há mensagem central), conheço pessoas que se sentiram convocadas, digo, tocadas pela candura do candidato. É uma mão aberta a que se vira na nossa direção numa altura tão sinistra como esta, disseram-me. Costa não diz nada; está, aparece, é, não divide. E isso chega.

O facto de Fernando Seara ser o adversário explica uma parte deste vazio. Seara é o candidato que jura que as ruas de Lisboa estão esburacadas como as de uma cidade em guerra, só faltou compará-la a Beirute, o que confirmaria a sua agonia particular mas também falta de mundo. Conhecerá ele Beirute? Não há pior para um presidente de uma grande cidade: exibir um cocuruto paroquial e incendiário. O Rossio enfiado na Rua da Betesga, o beco a arder de Fernando Seara.

O caminho de António Costa não se faz apenas sobre as virtudes do que concretizou (sim, tem obra, porque não a exibe?) nestes anos de Lisboa. Além do asteroide Seara, Costa transformou-se num rumor. O rumor de que um dia será. Um dia chegará. Um dia assumirá. Há uma expectativa silenciosa, um capital de esperança que lhe serve de legitimação e que lhe assegura espaço nacional – tudo por materializar.


Na verdade, Costa não é só rumor, é um rumor que mantém uma parte do PS refém desta expectativa lírica. Eu para mim não quero nada, diz sem dizer António Costa, e o PS fica a cozer, aflito, paralisado nesta expectativa. Será que ele, será que ele...? E nada, porque é nesta ambiguidade que ele parece movimentar os seus valetes. Na lista à câmara de Lisboa está Fernando Medina. Vejo-o enfiado num canto de um cartaz que podia ser papel de parede. Dizem que é o predileto; afinal D. Sebastião Costa já tem sucessor; ou será braço-direito? Quando resolvem? Tic-tac tic-tac. 

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