sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Moradores do Bairro Alto contra videovigilância.


Moradores do Bairro Alto contra videovigilância
por Sónia Graça in Sol online
O sistema de videovigilância do Bairro Alto, em Lisboa, ainda não entrou em funcionamento mas já está a causar polémica. Há moradores que contestam a localização de algumas das 27 câmaras já instaladas, por considerarem que põem em causa a sua privacidade.
“Não concordo com a ideia de ter uma câmara rotativa a metro e meio da minha janela” – disse ao SOL Hélio Tomar, que mora há 16 anos no bairro.

Em Abril, fez queixa à Câmara de Lisboa quando os técnicos de uma empresa começaram a instalar tubos e canalizações na fachada do seu prédio, na Rua dos Mouros: “Estavam a fazer uma obra sem que eu tivesse dado autorização. Já tinham instalado um tubo de seis metros de altura, uma caixa com fechadura e ainda um braço de suporte da câmara”.

A autarquia deu-lhe razão e, três meses mais tarde, o equipamento foi desviado para o prédio do lado. Mas, para Hélio Tomar, o problema mantém-se._”A câmara continua a pouca distância da janela do meu quarto. Além disso, ninguém me deu garantias sobre a credenciação dos agentes da PSP que vão comandar as câmaras à distância e visualizar as imagens”, sublinha o morador, que diz duvidar das garantias dadas pelo Executivo de António Costa numa reunião promovida já este ano com os moradores do Bairro Alto.

Ao SOL, fonte oficial da autarquia admitiu que poderão ser captadas imagens do interior de propriedades privadas, mas que estas serão automaticamente barradas: “O software que faz a gestão do sistema está programado para barrar qualquer imagem referente ao interior das habitações, nomeadamente a que possa ser captada através de portas ou janelas. Este barramento é obrigatório”.

A PSP, que vai monitorizar o sistema, reforça a garantia. E aponta como exemplo o que já acontece no aeroporto de Lisboa: “Todas as áreas privadas que não estejam circunscritas à área de segurança do aeroporto não são captadas pelas câmaras, sendo apresentada uma imagem totalmente preta”.

Hélio continua céptico e questiona mesmo os critérios que a Polícia usou para distribuir os aparelhos: “Qual o interesse em pôr uma câmara numa rua estreita que só tem portas e janelas? Assim sendo, não vão ver nada. Já na rua de trás, que tem vários bares, não foi colocada uma única câmara”.

Alexandra Figueira, presidente da Junta de Freguesia da Encarnação, desdramatiza. “As pessoas não podem estar bem com Deus e com o diabo. Se reclamam do barulho, do vandalismo e da insegurança, não podem contestar que as autoridades tomem medidas de segurança”, diz a autarca, lembrando que as imagens serão destruídas após 30 dias, se não servirem de prova em tribunal.

Luís Paisana, presidente da Associação de Moradores do Bairro Alto, diz que há residentes com reservas mas que a maioria é a favor da medida: “Até agora, e apesar de haver uma esquadra no centro do bairro, a Polícia sempre que era chamada, não comparecia ou chegava tarde. Com as câmaras, esperamos que sejam mais eficazes a combater problemas de violência causados por gangues”.

Todas as 27 câmaras já foram instaladas há cerca de um mês em várias ruas do bairro, mas o sistema ainda não foi activado, apesar de a sua entrada em funcionamento ter sido prometida pela autarquia para Abril.

“É necessário que a PSP conclua a ligação entre a esquadra do bairro alto e o comando de Lisboa, em Moscavide”, justifica a mesma fonte camarária, acrescentando que também falta colocar sinalética para avisar a população que aquela área se encontra sob vigilância.

Câmaras podem ser desligadas ao fim de 6 meses

A Câmara não adianta, porém, qualquer prazo para a entrada em funcionamento daquele que será o primeiro sistema de videovigilância da capital.

E a verdade é que as câmaras podem ser desligadas ao fim de apenas seis meses – o período de vigilância autorizado pela Comissão Nacional de Protecção de Dados (CNPD), em Dezembro de 2009.

É isto que deverá acontecer se até lá o ministro da Administração Interna não emitir uma nova autorização, com outro prazo de funcionamento. A verdade é que Miguel Macedo pode mesmo decidir não reactivar as câmaras. A aprovação destes sistemas, recorde-se, passou para a competência deste ministério desde Março de 2012, quando o Governo alterou a lei e esvaziou os poderes exclusivos da CNPD nesta matéria. “Se se pretender a continuação do sistema para além dos seis meses, terá de ser iniciado novo processo nos termos da actual lei”, confirmou ao SOL fonte desta Comissão.

O gabinete de Miguel Macedo não esclareceu se pretende manter o sistema activo nem por quanto tempo.


sonia.graca@sol.pt

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