terça-feira, 13 de agosto de 2013

Depois de Rui Rio ... outro "renovador/reformador" da classe política manifesta-se ... Paulo Rangel põe a "máquina de lavar" em Pré-Lavagem / programa quente.

"O recurso à velha e relha teoria da conspiração e à alegação de "forja" de documentos"

( ...) "releva manifestamente da pior escola partidária (para não dizer "juvenil-partidária)"

Cuidado, muito cuidado, com a política de secção

A novela dos swaps cavou mais uns palmos no poço escuro e fundo em que cai a credibilidade da política e dos políticos em Portugal
1. A novela e os novelos dos swaps cavaram mais uns palmos no poço escuro, esconso e fundo em que cai, a cada dia, a credibilidade da política e dos políticos em Portugal. Deixando de lado a questão da propriedade ou impropriedade da nomeação do secretário de Estado Pais Jorge e a questão da obrigatoriedade ou não obrigatoriedade da sua demissão, importa atentar num conjunto de comportamentos que trazem o palco da política nacional para o nível da intriga da mais funesta secção concelhia de qualquer um dos grandes partidos.
2. Primeiro, e independentemente da pertinência dos juízos a emitir depois de uma análise cuidada, choca a ligeireza e a leviandade com que se lida com um ponto concreto de um currículo profissional. A focagem inflamada e descontextualizada num único ponto, sem qualquer esforço de compreensão do lugar, do papel e do sentido desse ponto específico é própria da lógica da intoxicação. A exigência universal de uma memória completa e perfeita de factos ocorridos há anos atrás também parece saída do ambiente das investigações totalitárias. Este tipo de "levantamento" cirúrgico e instrumental faz lembrar o conhecido fenómeno do escândalo hipertrofiado que produz a transcrição de escutas... O texto escrito empresta às afirmações uma gravidade e uma solenidade que elas nunca atingiram (nem visavam atingir) no discurso oral. Mais uma vez insisto, não está em causa a avaliação final - ponderada, justa, equilibrada - a fazer da bondade da nomeação e da demissão; está em jogo, isso sim, a histeria que gera o empolamento e a "desafectação" dos contextos de comportamentos ou declarações.
3. Mas nada melhor do que isso - pelo contrário, bem pior - vem a ser o mecanismo de resposta à deriva de intoxicação de um argumento que - insiste-se - pode ser procedente. O recurso à velha e relha teoria da conspiração e à alegação de "forja" de documentos - até agora sustentada numa única folha, claramente inócua - releva manifestamente da pior escola partidária (para não dizer "juvenil-partidária). É aí - no lado vicioso das tricas partidárias - que se somam as acusações de "inscrições-fantasma" de votantes, de pagamentos de votos, de desaparecimento de actas e de folhas de cadernos eleitorais, de manipulação e falsificação de assinaturas, de aparecimento súbito de documentos e testemunhos... Ora, o Governo, a liderança da oposição e a direcção dos partidos maioritários não devem nem podem importar para o domínio institucional a cultura e a prática das lides obscuras dos aparelhos partidários. A oposição começa, a outros propósitos, por falar em escutas ilegais. A maioria vem depois - secundada por dignitários governativos - bramar contra a "falsificação" e a "manipulação" de documentos, fazendo disso o coração substantivo da sua argumentação. Eis o cardápio típico das disputas de personalidade, das raivas e ciúmes intrapartidários, da prosa e prosápia de longas noites de reuniões de células partidárias. Eis a operação convencional que visa tomar tudo por igual, fazer parecer toda a gente com toda a gente, nada diferenciar no plano das escolhas pessoais e programáticas.
4. Não menos sério do que tudo isto vem a ser a instituição da livre circulação de documentos que deveriam figurar nos arquivos oficiais (abertos, a abrir ou ainda não abertos, consoante determine a lei). Como é possível que pessoas que deixaram de fazer parte do gabinete do primeiro-ministro tenham em sua posse documentos que integram o arquivo desse gabinete? Têm cópias ilegais ou têm ainda actualmente contacto e acesso informais? Como pode um órgão de comunicação social começar por identificar como fonte do gabinete do primeiro-ministro - e apenas como tal - uma fonte que notoriamente já não faz parte desse gabinete há vários anos? Como pode, em retribuição, o Governo começar a divulgar documentos - num acesso de "swap-leaks" - que, na melhor das hipóteses, deveriam ser ordeiramente entregues à Comissão de Inquérito em funções? E podem, em seguida, dirigentes dos partidos maioritários vir exigir satisfações à oposição com base em documentos adrede libertados pelo Governo?
5. Será isto normal e regular? Será isto útil e conveniente? Será isto são? É preciso cuidado, muito cuidado, com a contaminação da dimensão institucional pelo vírus dos vícios partidários. Se deixarmos resvalar a discussão política nacional - dos temas maiores aos temas menores - para o terreno movediço em que hoje sobrevive a intriga partidária, o fim deste regime (de que tantas vezes tenho falado) estará mais próximo do que supõe.
É humanamente compreensível que o carácter soez e gravemente injusto de certas acusações - invocado por ambos os lados - desperte emoções e propicie a organização de uma vingança, a qual, por sua vez, porá em marcha os conhecidos mecanismos de "sobre-imputação" e de escalada do conflito. Mas aos governantes, actuais e intencionalmente futuros, exige-se compostura e contenção. O interesse nacional reclama-as; o respeito pelos portugueses - e por todos os seus sacrifícios - impõe-nas.

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