segunda-feira, 19 de agosto de 2013

A economia da terra, do sol e da praia

A economia da terra, do sol e da praia

Editorial Público

O turismo, como a agricultura, está em alta. Boa notícia, mas um dia o país terá de regressar à ciência
Nos discursos sobre o desempenho da economia medidos em termos do produto interno bruto, subsiste o compreensível hábito de avaliar por grosso os números da exportação sem se verificar com detalhe as suas diferentes componentes. Se essa verificação se fizer, constata-se que se todo e qualquer produto ou serviço vendido ao exterior é importante para a conjuntura interna, há alguns produtos ou serviços que são ainda mais importantes para as contas nacionais. Porque, na realidade, muito do que se exporta deixa pouco valor acrescentado na economia. Se todas as exportações são boas, o saldo líquido de algumas é mais acentuado do que outras. Entre as vendas ao exterior de combustíveis (o segmento das exportações que mais cresceu no segundo trimestre) e o desempenho exportador da agricultura ou do turismo vai uma grande diferença qualitativa. No primeiro caso, entre as matérias-primas que se compram e o produto transformado que se vende sobra pouca receita para o país; nos outros casos, quase todo o valor das vendas resulta da valorização de recursos endógenos. Felizmente, alguns desses sectores baseados no potencial nacional estão a registar comportamentos positivos. O sector agro-industrial tem assinalado uma dinâmica notável e é hoje um dos principais focos das exportações. E este ano todas as notícias relacionadas com o turismo mostram uma capacidade do sector em disputar os mercados externos que surpreende até os seus próprios operadores. Arrefecida que está a expectativa de, a curto prazo, tornar o país num exportador de bens com alto valor de incorporação tecnológica, o velho sonho de José Sócrates, Portugal depende de bens tradicionais que se fazem a partir da terra, do sol e da praia. Chama-se a isto realismo, mas espera-se que seja um realismo conjuntural. O país dificilmente dará um salto se não for capaz de canalizar os recursos de que dispõe na área da ciência e da tecnologia para a economia produtiva. 

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