sexta-feira, 7 de junho de 2013

Portugal na cauda da Europa em relação ao uso de bicicletas.

O “Fiets Flat”, Batelão Flutuante junto à Estação Central de Amsterdão, destinado ao parqueamento grátis de bicicletas.

Portugal na cauda da Europa em relação ao uso de bicicletas.

Por Ricardo Garcia in Público
07/06/2013

Uso efectivo, segurança e turismo são os indicadores em que o país se sai pior num novo barómetro sobre bicicletas elaborado pela Federação Europeia de Ciclistas, divulgado esta semana
Portugal está num dos últimos lugares de um ranking europeu que compara vários indicadores sobre o uso da bicicleta. O país situa-se na 23.ª posição, juntamente com Espanha e atrás apenas da Bulgária, Roménia e Malta, segundo a lista divulgada esta semana pela Federação Europeia de Ciclistas (ECF, na sigla em inglês).
O ranking - ou antes, um barómetro, como o classifica a ECF - é constituído com base em cinco indicadores. Em três deles, Portugal está mal classificado: uso da bicicleta, segurança e turismo ciclável. Nos outros dois, está a meio da tabela: vendas de bicicletas e associativismo.
A ECF utilizou dados de um inquérito de 2010 do Eurobarómetro para avaliar o grau de uso da bicicleta nos diferentes países. Para Portugal, 2% dos entrevistados referiram a bicicleta como principal meio de transporte nas deslocações do dia-a-dia.
O número pode pecar por excesso, pois, de acordo com os Censos 2011, que contém dados de toda a população, a proporção será ainda menor. Cerca de 0,5% dos habitantes do país responderam aos Censos dizendo que vão para o trabalho ou para a escola de bicicleta.
Na sinistralidade, Portugal surge com um valor de 45 ciclistas mortos em 2011 - um número que está de acordo com as estatísticas da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária. Embora o número absoluto esteja muito abaixo dos 399 da Alemanha e dos 314 da Polónia, os países com mais vítimas mortais, Portugal acaba por ficar numa das últimas posições, dado que o indicador considerado é o número de óbitos dividido pelo número estimado de ciclistas.
Também no número de viagens para praticar cicloturismo o país fica na cauda da tabela.
Com 320 mil bicicletas vendidas em 2011 - cerca de 2% do mercado europeu -, Portugal está mais ou menos a meio caminho no indicador de vendas por população. O mesmo vale para o associativismo, com o país representado na ECF por duas organizações, a MUBi - Associação para a Mobilidade Urbana em Bicicleta e a Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta, ambas somando cerca de 600 membros, segundo os registos da organização europeia.

O “Fiets Flat”, visto de uma ponte.

Pôr as bicicletas na agenda

O ranking atribui pontos a estes cinco indicadores e depois faz uma média simples. Portugal fica com 36 pontos. Em primeiro estão, empatadas com 125 pontos, a Holanda e a Dinamarca - reconhecidas como líderes no uso de bicicletas. O último da lista é Malta, com 15 pontos.
A ECF reconhece que o seu ranking tem limitações, mas diz que é um ponto de partida para comparações. "Perguntam-nos constantemente sobre que países na Europa são os melhores em bicicletas", afirma Chloe Mispelon, responsável pelo projecto do barómetro da ECF. "É o nosso modo de promover um debate sobre cinco dimensões do uso da bicicleta", completa, num comunicado. "Agora, a comunidade e os nossos parceiros podem usar [estes dados] para exigir aos Governos mudanças reais e mensuráveis", acrescenta Bernhard Ensink, secretário-geral da ECF.
Apesar do seu uso relativamente reduzido, as bicicletas têm estado na agenda pública e política recentemente em Portugal. A proposta de lei do Governo para a alteração do Código da Estrada, entregue ao Parlamento em Março, contém inúmeras mudanças relativas a velocípedes - algumas delas polémicas, como a obrigatoriedade do uso de capacete para crianças até sete anos de idade. Ao Parlamento já chegaram também três propostas - do Bloco de Esquerda, "Os Verdes" e PSD/CDS-PP - para facilitar o transporte de bicicletas nos comboios.

Bruxelas promove projectos de baixo carbono

A comissária foi a pedalar, a ministra num riquexó. Ambas com a mesma mensagem: é preciso uma mobilidade mais sustentável. Os transportes estiveram no centro de um debate em Lisboa, promovido pela Comissão Europeia no âmbito da campanha Um mundo que me agrada, com um clima de que gosto. O ponto central da iniciativa é um concurso de projectos que resultem em baixas emissões de carbono, aberto a instituições, empresas e cidadãos. As soluções são submetidas via Internet (world-you-like.europa.eu) e são publicadas num mapa da Europa. Até esta quinta-feira, havia 150 candidaturas, oito delas de Portugal. São cinco os temas abrangidos: construção e modo de vida; compras e alimentação; reutilização e reciclagem; transportes e viagens; produção e inovação. Ao debate de ontem, a comissária europeia da Acção Climática, Connie Hedegaard, e a ministra do Ambiente, Assunção Cristas, chegaram de bicicleta, num acto simbólico. R.G.

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