segunda-feira, 20 de maio de 2013

O erro alemão, deutsch fehler.



O erro alemão, deutsch fehler.

in Notas Verbais

Não é de crer que a Alemanha queira ou deseje provocar mais um grande conflito europeu como os dois que armou no século XX, um no típico estilo prussiano e outro na lógica de uma ditadura erguida sobre uma democracia indolente e mal avisada. Todavia, o facto de não querer ou não desejar, não significa que a Alemanha não resvale para essa tendência sem que se saiba até que ponto ela pode ser contida, emendada ou até rejeitada pelos próprios alemães. O governo da chanceler Merkel, animado por alguma popularidade interna episodicamente mais alta ou mais baixa, está hoje longe dos pressupostos que estiveram na base da constituição das Comunidades Europeias e que ditaram o rumo para uma União Europeia, incompleta como união e longe de esconjurar nacionalismos que têm tudo menos de europeu. É impossível uma união que não ultrapasse o patamar de mero grémio ou sindicato de soberanias que só por hipocrisia se recolhem e que por isso mesmo prosseguem as clássica estratégias de intervenção. Este tem sido o erro alemão que antes da crise económica e financeira era latente mas que ficou exposto mal a doutrina dos factos revelou o estado dramático em que a Europa projetada se encontra. Com uma Comissão Europeia tibiamente burocrática, sem golpe de asa e que se arrasta quotidianamente no oportunismo político, não se falando das outras figuras de retórica e meramente decorativas a que correspondem as instituições europeias decorrentes do Tratado, a Alemanha permitiu-se interferir nos outros Estados parceiros, a começar pelos mais fragilizados pela crise, pondo condições, aconselhando intempestivamente orientações sobretudo na política económica e nos modelos sociais, estigmatizando por conveniências próprias os "países do sul" como exemplos a punir, e arrastando os países satélites de Berlim nesse entusiasmo de divisão, alguns dos quais não se coibiram de ser embaixadores do propósito que passou a ser mais germânico que alemão, no simbolismo trágico que os adjetivos acarretam. O erro alemão consistiu e continua a ser prosseguido nessa interferência condicionante e intervenção declarada do "Estado mais forte", a tal ponto que não apenas os alemães mas já grande parte da Europa chegou a pensar que a União Europeia era ou é uma realidade paga pela Alemanha, pelo que a Alemanha terá ou tem direitos próprios de exceção democrática, ou que a Europa, incluindo os países do sul não pagaram absolutamente nada para que a Alemanha seja o que é, designadamente para a sua recomposição territorial. Por esse erro alemão, os Estados mais fracos da almejada união, serão os primeiros a pagar, como já estão a pagar. Mas chegará a vez, possivelmente em último lugar, de ser a Alemanha a pagar pelo seu próprio erro.

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