terça-feira, 16 de abril de 2013

Ai aguenta, aguenta. Passos Coelho atira-se à banca e Fernando Ulrich fica perplexo.

“Fiquei perplexo porque se o tema é tão importante para o primeiro-ministro dizer isso é estranho que não tenha conversado connosco.” Fernando Ulrich.

Ai aguenta, aguenta. Passos Coelho atira-se à banca e Fernando Ulrich fica perplexo

Por António Ribeiro Ferreira, publicado em 17 Abr 2013 in (jornal) i online


Quatro bancos recapitalizados pelo Estado foram os que mais cortaram no crédito às empresas em 2012

É um tema recorrente. O crédito à economia em tempos de recessão e desemprego aparece como uma bóia de salvação num país afogado em dívida e em défices excessivos, com cenários negros para o futuro (ver páginas 28 e 29) e pouca esperança de sair do buraco em que caiu. E, como é normal em situações de crise, todos ralham e raramente alguém tem razão. O tiro para esta nova polémica foi dado pelo primeiro-ministro no sábado quando falou aos conselheiros nacionais do PSD. O alvo principal da intervenção era a Caixa Geral de Depósitos, mas Passos Coelho não esqueceu os bancos que recorreram aos 12 mil milhões da troika para se recapitalizarem. BCP, BPI e Banif têm de fazer mais pela economia e os gestores nomeados pelo Estado tudo farão para forçar esses bancos a apoiar mais as empresas e a economia.
A primeira resposta veio do chairman da CGD, Faria de Oliveira, que acumula o cargo de gestor público com o de presidente da Associação de Bancos. Para Faria de Oliveira, o problema não está na banca, mas nas empresas que não investem: “Dinheiro há, o que falta é a procura.” Uma directa a Passos Coelho que não deve ficar sem resposta a curto prazo, quando o governo mexer na gestão da CGD. Mas a resposta ainda mais dura, como já é habitual, veio de Fernando Ulrich, presidente executivo do BPI, banco que pediu 1500 milhões ao Estado para se recapitalizar: “Fiquei perplexo porque se o tema é tão importante para o primeiro-ministro dizer isso é estranho que não tenha conversado connosco.” E adiantou mais: “A última conversa que se fez foi sobre os fundos de pensões, em Dezembro de 2011, e conversámos sobre contrapartidas, nomeadamente a compra pelo Estado dos créditos da banca a entidades oficiais, que não foi feita até hoje”, lamentou Ulrich.
O banqueiro, que deixou os portugueses perplexos quando disse o célebre “ai aguenta, aguenta” a propósito da austeridade, não se ficou pela perplexidade e atirou forte sobre Passos Coelho: “A principal responsabilidade de um banco é proteger os depósitos e não dar crédito” e atribuiu a situação de Chipre ao excesso de crédito concedido por alguns bancos. Algo, evidentemente, que também aconteceu em Portugal, com a banca a ser muito liberal nos créditos ao consumo, à compra de habitação e outros negócios que hoje engrossam os muitos milhões de créditos malparados que se reflectem nos resultados dos bancos e na sua capacidade de financiar a economia a juros comportáveis.
Como recordava ontem o “Diário Económico”, as entidades que receberam dinheiro público para se recapitalizar cortaram 5,9 mil milhões de euros no crédito às empresas em Portugal em 2012, um montante equivalente a 3,6% do PIB. Os dados são da CGD, do BCP, do BPI e do Banif, as quatro entidades que tiveram de recorrer a fundos estatais.

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